Jesus jamais afirmou ser Deus

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 01:33

É dos mais sugestivos o fato de não haver uma única palavra nas chamadas Escrituras sagradas que mostre que Jesus foi considerado como um Deus por seus discípulos. Eles não lhe renderam honras divinas nem antes, nem depois da sua morte. Suas relações com ele, se limitavam às de discípulos e "mestres", títulos que lhe davam, da mesma maneira com que os seguidores de Pitágoras e Platão se dirigiam aos seus respectivos mestres. Quaisquer que sejam as palavras que se atribuíam a Jesus, a Pedro, a Paulo e a outros, nenhuma delas é um ato de adoração de sua parte e o próprio Jesus nunca declarou a sua identidade com seu Pai. (Devemos ter em mente, todavia, as palavras proferidas por Jesus, conforme relatadas em João, X, 30 e XVII, 11, 22, onde se esclarece definitivamente sua identidade ou unicidade com o Pai. (N. do Org.). Ele acusou os fariseus de lapidar os seus profetas, não de deicídio. Ele se intitulava o filho de Deus, mas cuidou de afirmar repentinamente que todos eles eram filhos de Deus, o Pai Celestial de todos. Pregado dessa maneira, ele não fazia senão repetir a doutrina ensinada séculos antes por Hermes, Platão e outros filósofos. Estranha contradição! Jesus, a quem devemos adorar como o único Deus vivo, diz, logo após a sua Ressurreição, a Maria Madalena: "Ainda não subi a meu Pai; mas vai a meus irmãos e dize-lhes que vou para meu Pai e vosso Pai, e para meu Deus e vosso Deus!" (João, XX, 17.)

Quer dizer isto que ele está de identificando com seu Pai? "Meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus" implica, por parte dele, um desejo de ser considerado em perfeita igualdade com seus irmãos - nada mais do que isso. Theodoret escreve: "Os hereges concordam conosco a respeito do começo de todas as coisas. (...) Dizem, porém, que não existe um Cristo (Deus), mas sim um lá no alto e um aqui embaixo. E que este último morou anteriormente em muitos; mas o Jesus, eles dizem num momento que ele vem de Deus, e em outro chamam-no de um ESPÍRITO". Esse espírito é o Cristos, o mensageiro da vida, que às vezes é chamado de Anjo Gabriel (em hebraico, o poderoso de Deus) e que, para os gnósticos, ocupava o lugar do Logos, ao passo que o Espírito Santo era considerado Vida. Entre os nazarenos, entretanto, o Spiritus ou Espírito Santo era menos honrado. Enquanto quase todas as seitas gnósticas consideravam - no um Poder Feminino, ao qual davam o nome de Binah, [ou] Sophia, o Intelecto Divino - entre a seita nazarena ele era o Spiritus Feminino, a geradora de todas as coisas da matéria, o caos em seu aspeto mau, tornado túrbido pelo Demiurgo. No momento da criação do homem, "havia luz do lado do PAI, e havia luz [luz material] do lado da MÃE. E este é o `homem dual', diz o Zohar. "Naquele dia [o último] morrerão os sete estelares maldispostos, também os filhos do homem que reconhecerem o Spiritus, o [falso] Messias, o Deus e a MÃE do SPIRITUS morrerão".

Jesus reforçava e ilustrava as suas doutrinas com sinais e maravilhas; e, se deixarmos de lado as pretensões daqueles que o deificaram, ele não fez senão o que fizeram antes dele outros cabalistas; e só eles, nessa época, pois dois séculos depois as fontes de profecia estavam completamente secas e, dessa estagnação de "milagres" públicos, originou-se o ceticismo da seita incrédula dos saduceus. Descrevendo as "heresias" daquela época. Theodoret, que não tinha nenhuma idéia do significado oculto da palavra Cristos, o mensageiro ungido, lamenta que eles (os gnósticos) afirmem que esse Mensageiro ou Delegatus mude seu corpo de vez em quando e "entre em outros corpos e se manifeste de maneira diferente em cada vez. E esses [os profetas obscurecidos] servem-se de encarnações e de invocações de vários demônios e de batismos na confissão de seus princípios. (...) Eles abraçam a Astrologia e a Magia e o erro matemático" (?), diz ele.

Esse "erro matemático", de que se lamentou o piedoso escritor, levou posteriormente à redescoberta do sistema heliocêntrico, tão errôneo quanto ainda possa ser, e foi esquecido desde a época em que um outro "mágico" o ensinou - Pitágoras. Assim, as maravilhas de curas e as taumaturgias de Jesus, que ele transmitiu aos seus seguidores, mostram que estes aprendiam, na sua comunicação diária com Ele, a teoria e a prática da nova ética, dia-a-dia, no intercâmbio familiar da amizade íntima. A fé crescia progressivamente, como a de todos os neófitos, ao mesmo tempo em que crescia o conhecimento. Não devemos esquecer que Josefo, que certamente estava a par desse assunto, chama de "uma ciência" à habilidade de expulsar demônios. Esse crescimento da fé é particularmente visível no caso de Pedro, que, não possuindo fé suficiente para caminhar sobre a água, indo de barco até o seu Mestre, tornou-se finalmente um taumaturgo suficientemente hábil a ponto de Simão, o Mago, como se crê, lhe oferecer dinheiro para que lhe ensinasse o segredo da arte de curar e de realizar outras maravilhas. E Felipe, diz-se, tornou-se um Aethrobat tão bom quanto Abaris, de memória pitagórica, mas menos hábil que Simão, o Mago.

Não existe nas Homilias, como também nas obras dos apóstolos, indicações algumas de que os amigos e os seguidores de Jesus o considerassem mais do que um profeta. Essa idéia está claramente estabelecida nas Homilias clementinas. Excetuando o fato de Pedro aí desenvolver um pouco longamente demais o seu ponto de vista sobre a identidade do Deus mosaico com o Pai de Jesus, toda a obra é dedicada ao monoteísmo (Admite-se um só Deus). O autor mostra-se severo, tanto contra o politeísmo (Admite-se muitas Divindades), quanto contra a pretensão à divindade de Cristo. Parece ignorar completamente o Logos, e a sua especulação limita-se à Sophia, a sabedoria gnóstica. Não há nenhum indício de uma Trindade hipostática, mas o mesmo obscurecimento da sabedoria gnóstica (Cristos e Sophia) é atribuído, no caso de Jesus, como nos de Adão, Enoch, Noé, Abraão, Isaac, Jacó e Moisés. Todas essas personagens são colocadas no mesmo nível e chamadas "profetas verdadeiros" e as sete colunas do mundo. Mais do que isso, Pedro nega veementemente a queda de Adão e, com ele, a doutrina da expiação, tal como foi ensinada pela Teologia cristã, ruí por terra, pois Ele a combate como uma blasfêmia. A teoria de Pedro sobre o pecado é a dos cabalistas judeus, e mesmo, ou de certa maneira, a platônica. Adão não só nunca pecou, mas, "como um profeta verdadeiro, possuído do Espírito de Deus, que, mais tarde, desceu sobre Jesus, ele não podia pecar". Em suma, toda a obra exibe a crença do autor na doutrina cabalista da permutação. A Cabala ensina a doutrina da transmigração do espírito; "Mosah é a revolutio de Seth e Hebel."

"Dize-me, quem é que ocasiona o renascimento (a revolutio)?"- perguntou-se ao sábio Hermes. "Os Filhos de Deus, o homem único, pela vontade de Deus" - foi a resposta do "gentio."

 

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