A crença dos verdadeiros cristãos primitivos

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 01:32

À crença dos verdadeiros cristãos primitivos.

Depois de ter produzido Ialdabaôth - de ialda, criança, e de baôth, uma terra desolada, uma desolação - Sophia-Akhamôth sofreu a tal ponto como o contato com a matéria, que, após uma luta extraordinária, ela escapa finalmente do caos pantanoso. Embora ignore o pleroma, a religião da sua mãe, ela alcançou o espaço mediano e chegou a sacudir as partículas materiais que estavam ligadas à sua natureza espiritual; depois disso, construiu imediatamente uma barreira infranqueável entre o mundo da inteligência (espíritos) e o mundo da matéria. Ialdabaôth é, assim, o "filho da escuridão", o criador do nosso mundo pecaminoso (a sua porção física). Ele segue o exemplo de Bythos e produz de si mesmo seis espíritos estelares (filhos). Todos eles têm a sua própria imagem e reflexos uns dos outros, que se tornam mais escuros à medida que se afastem do seu pai. Com este, eles habitam sete regiões dispostas com uma escala, que começa abaixo do espaço mediano, a região da sua mãe, Sophia-Ahamôth, e termina com a nossa Terra, a sétima região. Eles são, assim, os gênios das sete esferas planetárias, das quais a mais inferior é a região da nossa Terra (a esfera que a circunda, nosso éter). Os nomes respectivos desses gênios das esferas são Iao, Tsabaôh, Adonaios, Eloaios, Horaios, Astaphaios. Os quatro primeiros, como todos sabem, são os nomes místicos do "Senhor Deus" judaico, sendo este, como afirma C. W. King, "rebaixado pelos fitas para as denominações dos subordinados do Criador; os dois últimos são os dos Gênios do Fogo e da Água".

Ialdabaôth, que muitas seitas consideravam como o Deus de Moisés, não era um espírito puro; era ambicioso e orgulhoso e, rejeitando a luz espiritual do espaço mediano que sua mãe Sophia-Akhamôth lhe oferecia, pôs-se ele próprio a criar um mundo para si mesmo. Ajudado por seus filhos, os seis gênios planetários, ele fabricou o homem, mas não obteve êxito na primeira tentativa. Era um monstro; sem alma, ignorante e que caminhava sobre quatro patas no chão como uma fera material. Ialdabaôth viu-se obrigado a implorar a ajuda de sua Mãe Espiritual. Ela lhe transmitiu um raio da sua Luz e assim animou o Homem e o dotou de Alma. E então teve início a animosidade de Ialdabaôth contra sua própria criatura. Seguindo o impulso da luz Divina, o homem aumentou mais e mais o volume das suas aspirações; muito cedo ele começou a apresentar não a imagem do seu Criador Ialdabaôth, mas antes do Ser Supremo, o "Homem Primitivo", Ennoia. Então o Demiurgo foi dotado de cólera e inveja; e, ficando seu olho invejoso sobre o abismo de matéria, seu olhar, envenenado pela paixão, refletiu-se repentinamente nele como num espelho; o reflexo tornou-se animado e do abismo sai Satã, serpente, Ophiomorphos - "a incorporação da inveja e da esperteza. Ele é a união de tudo o que é mais abjeto na matéria como o ódio, a inveja e a astúcia de uma inteligência espiritual".

Depois disso, e sempre com rancor face à perfeição do homem, Ialdabaôth criou os três da Natureza: o mineral, o vegetal e o animal, com todos os seus instintos perniciosos e pensamentos maus. Imponente para aniquilar a Árvore do Conhecimento, que cresce em sua esfera e em cada uma das regiões planetárias, mas determinado a afastar o "homem" da sua protetora espiritual, Ialdabaôth proibiu-o de comer do seu fruto, com medo de que ele revelasse à Humanidade os mistérios do mundo superior. Mas Sophia-Akhamôth, que amava e protegia o homem que ela animara, enviou o seu próprio gênio, Ophis, sob a forma de uma serpente, para induziu o homem a transgredir o mandamento egoísta e injusto. E o "homem" de repente tornou-se capaz de compreender os mistérios da criação.

Ialdabaôth vingou-se, então, punindo o primeiro par, pois o homem, através do seu conhecimento, já havia conseguido uma companheira feita de suas metades espiritual e material. Aprisionou o homem e a mulher num calabouço de matéria, no corpo tão indigno de sua natureza, e no qual o homem ainda está encerrado. Mas Akhamôth ainda o protegeu. Ele estabeleceu entre a sua região celestial e o "homem" uma corrente de Luz Divina e continua a lhe fornecer iluminação espiritual.

Seguem-se, então as alegorias que abrangem a idéia de dualismo, ou a luta entre o bem e o mal, o espírito e a matéria, que se encontra em toda cosmogonia e cuja fonte também deve ser procurada na, Índia. Os tipos e os antitipos representam os heróis desse panteão gnóstico, empregados das idades mitopoéticas mais antigas. Mas, nessa personagens - Ophis e Ophiomorphos, Sophia e Sophia-Akhamôth, Adão-Cadmo e Adão, os gênios planetários e os Aeons divinos - podemos reconhecer facilmente os modelos das nossas cópias bíblicas - os patriarcas evemerizados. Encontramos os arcanjos, os anjos, as virtudes e os poderes, com outros nomes, nos Vedas e no sistema budista. O Ser Supremo avéstico, Zeruana, ou "Tempo Ilimitado", é o tipo de todas essas "Profundidades", "Coroas" gnósticas e cabalísticas e mesmo do Ain Soph caldaico. Os seis Amshâspands, criados pela "Palavra" de Ormusde, o "Primogênito", têm seus reflexos em Bythos e suas emanações, e o antítipo de Ormusde-Ahriman e seu devas também participam da composição de Ialdabaôth e os seus seis gênios planetários materiais, embora não sejam totalmente maus.

Akhamôth, entristecida com os males que afligiram a Humanidade, apesar da sua proteção, suplica à sua celeste Sophia - seu antitipo - que interceda junto à PROFUNDIDADE desconhecida para que ela envie Cristos (o filho e a emanação da "Virgem Celestial") em socorro da Humanidade que estava perecendo. Ialdabaôth e os seus filhos da matéria privam da luz divina a Humanidade. O homem deve ser salvo. Ialdabaôth já enviou o seu próprio agente. João Batista, da raça de Seth, que ele protege - como um profeta do seu povo, mas apenas uma pequena porção o ouviu - os nazarenos , os oponentes dos judeus, porque eles adoravam Iurbo-Adunai. (Iurbo e Adonai, segundo os ofitas, são nomes de Iao-Jeová, uma das emanações de Ialdabaôth. "Iurbo é chamado de Adonai pelos Abortos [os judeus]" (Codex nazaraeus, vol. III, p. 73). Akhamôth dissera a seu filho, Ialdabaôth, que o reino de Cristos seria apenas temporal e, assim, induzindo-o a enviar um precursor. Além disso, o fez causar o nascimento do homem Jesus da Virgem Maria, o seu próprio tipo da Terra, "pois a criação de um personagem material só poderia ser obra do Demiurgo; estava fora do alcance de um poder superior. Logo que Jesus nasceu, Cristos, o perfeito, unindo-se a Sophia [sabedoria e espiritualidade], desceu através das sete regiões planetárias, assumindo em cada uma delas uma forma análoga e ocultando dos gênios a sua verdadeira natureza, ao mesmo tempo em que atraía para si as centelhas de Luz Divina que eles retinham em sua essência. Assim, Cristos entrou no Homem Jesus no momento do seu batismo no Jordão. A partir desse momento Jesus começou a operar milagres; antes disso, ignorava completamente a sua missão". (King, The Gnostics and their Remains, p. 31. [p.100 na 2ª ed. ].

Ialdabaôth, descobrindo que Cristos estava levando ao fim o seu próprio reino da matéria, excitou os judeus contra ele e Jesus foi condenado à morte *. (No Evangelho de Nicodemos, Ialdabaôth é chamado de Satã pelo autor piedoso e anônimo; evidentemente, uma das últimas flechas que ele atira contra seu inimigo já meio aniquilado. "Quanto a mim", diz Satã, desculpando-se ao príncipe do inferno. "eu o tentei [a Jesus] e excitei o meu velho povo, o judeu, com zelo e cólera contra Ele" (hone, apocr. N.T., Nicod., XV, 9.). De todos os exemplos da ingratidão cristã, este parece ser o mais conspícuo. Os pobres judeus foram, primeiro, roubados dos seus livros sagrados e, depois, num "Evangelho" espúrio, são insultados pela representação de Satã que pretende que eles sejam o seu "velho povo". Se eles fossem o seu povo, e ao mesmo tempo o "povo escolhido de Deus", então o nome desse Deus deveria ser escrito Satã e não Jeová. Isso é lógico, mas duvidamos que seja cortês para o "Senhor Deus de Israel".). * Bem como em J. J. Grynaeu, Monumenta S. Patrum Orthodoxographa, etc. (Basiléia, 1569, fol.), vol. I, tomo II, p.643 ff. (N. do Org.). Uma vez na cruz, Cristos e Sophia abandonaram o seu corpo e retornaram à sua própria esfera. O corpo material do homem Jesus foi abandonado à terra, mas sendo dado a ele um corpo feito de éter (alma astral). "A partir desse momento, ele consistia apenas de Alma e de Espírito, razão pela qual os discípulos não o reconheceram após a ressurreição". Nesse estado espiritual de um simulacrum, Jesus permaneceu sobre a Terra durante mais dezoito meses. Nesta última permanência, recebeu de Sophia o conhecimento perfeito, a verdadeira Gnose que ele comunicou a alguns dos apóstolos que eram capazes de a receber.

"Depois, acendendo ao espaço mediano, sentou-se à direita de Ialdabaôth, mas invisível a ele, e dali reúne todas as almas que foram purificadas pelo conhecimento de Cristo. Quando tiver reunido toda a Luz Espiritual que existe na matéria, no império de Ialdabaôth, a redenção será cumprida e o mundo será destruído. Essa é a significação da reabsorvição de toda a Luz Espiritual no Pleroma ou Plenitude, donde Ele desceu na origem." (King, op. cit., p. 31 [p. 100 na 2ª ed.].

 

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