"Antes de ter dado forma ao universo" - diz a Cabala -, "antes de ter produzido qualquer forma, ele era só, sem forma ou semelhança com o que quer que seja. Quem, então, pode compreendê-lo, tal como era antes da criação, visto que não tinha forma? Por conseguinte, é proibido representá-lo por qualquer forma, similitude, ou mesmo por seu nome sagrado, por uma simples letra, ou um simples ponto. (...) O Ancião dos Ancião, o Desconhecido dos Desconhecidos tem uma forma, mas não tem nenhuma forma, porque ele não pode ser compreendido. Quando assumiu uma forma pela primeira vez em Sephirah, sua primeira emanação, nove luzes esplêndidas dele emanaram".
Voltaremos agora à cosmogonia esotérica hindu e à definição daqueEle "que é e não é".
"Daquele que É, desse Princípio imortal que existe em nossas mentes mas não pode ser percebido pelos sentidos, nasce Purusha, o masculino e o feminino divinos, que se torna Nârâyana, ou Espírito Divino que se move nas águas."
Svayambhû, a essência desconhecida dos brâmanes, é idêntico a Ain Soph, a essência desconhecida dos cabalistas. Assim como para estes, o Nome Inefável não pode ser pronunciado pelos hindus, sob pena de morte. Na antiga Trindade primitiva da Índia, que pode com certeza ser considerada como pré-Védica, o germe que fecunda o princípio da mãe, o ovo mundano, ou o útero universal, chama-se Nara, o Espírito, ou o Espírito Santo, que emana da essência primordial. Tal como Sephirah, a emanação mais antiga, é chamada de ponto primordial, e de Cabeça Branco, pois é o ponto da luz divina que surge das trevas insondáveis e infinitas. No Manu é "NARA", ou o Espírito de Deus, que movimenta "Ayana [Caos, ou lugar de movimento], e por isso é chamada de NÂRÂYANA, o que se move nas águas". Em Hermes, o egípcio, lemos: "No início do tempo, nada havia no caos". Mas quando o Verbo, que brotou do vazio como uma "fumaça sem cor", fez sua aparição, então "este Verbo, se moveu sobre o princípio úmido". E no Gênese [I,2], lemos o seguinte: E as trevas cobriam o abismo [caos], e o Espírito de Deus se movia sobre as águas". Na Cabala, a emanação do princípio passivo primordial (Sephirah), dividindo-se em duas partes, ativa e passiva, emite Hokhmah-Sabedoria e Binah-Yehovah, em conjunto com esses dois acólitos, que completam a Trindade, torna-se o Criador do Universo abstrato, sendo o mundo físico a produção de poderes posteriores e ainda mais materiais. Na cosmogonia hindu, Svayambhû emite Nara e Nârî, sua emanação bissexual, e dividindo suas partes em duas metades, masculina e feminina, essas fecundam o ovo cósmico, no qual desenvolve Brahmâ ou antes Virâj, o Criador. "O ponto de partida da mitologia egípcia" - diz Champollion -"é uma Tríada (...) a saber, Kneph, Neith e Phtah; e Amon, o masculino, o pai; Mult, o feminino, a mãe; e Khonsu, o filho."