Daremos atenção, agora, a alguns dos mais importantes mistérios da Cabala, e estudaremos suas relações com os mitos filosóficos de várias nações.
Na mais antiga Cabala oriental a Divindade é representada como três círculos em um, cercados por uma certa exalação caótica ou fumacenta. No prefácio do Zohar, que transforma os três círculos primordiais em TRÊS CABEÇAS, descreve-se sobre estas uma exalação ou fumaça, nem preta, nem branco, mas incolor, e circunscrita num círculo. Essa é a Essência desconhecida. A origem da imagem judaica pode ser talvez remetida ao Poimandres de Hermes, o Logos egípcio, que aparece numa nuvem de natureza úmida, como fumaça que dela escapa. No Zohar, o Deus supremo é, como mostramos no capítulo anterior, e como no caso das filosofias hindus e budista, uma pura abstração, cuja existência objetiva é negada pelos últimos. É Hokhmanh, a "SABEDORIA SUPREMA", que não pode ser compreendida pela reflexão, e que repousa dentro e fora do CRÂNIO de LONGO ROSTO (Sephirah), a mais elevada das três "Cabeças". É o "Ain Soph infinito", a Não-Coisa.
N. C. Acrescentamos a figura SEPHÎRÂ, criamos três triangulo, afim de que o leitor, tenha um ponto de referência para as explicações do texto.
As "três cabeças", superpostas umas às outras, foram evidentemente tomadas dos três triângulos místicos dos hindus, que também aparecem superpostos. A "cabeça" superior contém a Trindade no Caos, da qual brota a trindade manifesta. Ain Soph, o eterno irrevelado, que é ilimitado e incondicionado, não pode criar, e por conseguinte parece-nos um grande erro atribuir a ele um "pensamento criador", como o fazem habilmente os intérpretes. Em todas as cosmogonias, essa Essência suprema é passiva; se infinita, ilimitada e incondicionada, ela não pode ter nenhum pensamento ou idéia. Ela age não como resultado da volição, mas em obediência à sua própria natureza, e de acordo com a fatalidade da lei de que ela própria é a encarnação. Portanto, para os cabalistas hebreus, Ain Soph é não-existente, pois é incompreensível aos nossos intelectos finitos, e por conseguinte não pode existir para as nossas mentes. Sua primeira emanação é, Kether, a coroa. Ao ocorrer o momento para um período ativo, produz-se uma expansão natural dessa essência Divina de dentro para fora, obediente à lei eterna e imutável. Dessa Luz Eterna e Infinita (que para nós é trevas) se emite uma substância espiritual. Essa sendo a Primeira Sephirah, que contém em si as outras nove Sephiroth, ou inteligências. Em sua totalidade e unidade, elas representam o homem arquétipo, Adão-Cadmo, o que em sua individualidade ou unidade ainda é dual, ou bissexual, o Digamos grego, pois ele é o protótipo de toda a Humanidade. O temos, assim três trindades, cada qual contida numa "cabeça". Na primeira cabeça, ou face (a Trimûrti hindu de três faces), encontramos Kether, o primeiro andrógino, no ápice do triângulo superior, que emite Hokhmah, ou Sabedoria, uma potência masculina ativa - também chamada Yâh - e Binah, ou Inteligência, uma potência feminina e passiva, também representada pelo nome Yahweh. Essas três formam a primeira Trindade, ou "face", das Sephiroth. Essa Tríade emanou Hesed, ou misericórdia, uma potência ativa masculina, também chamada Eloah, da qual emanou Geburah, ou justiça, também chamada Pa'had, uma potência passiva feminina; da união de ambas produziu-se Tiphereth, beleza, clemência, o Sol espiritual, conhecido por seu nome divino Elohim; e a segunda Tríade, "face" ou "cabeça", se formou. Essa emanaram, por sua vez, a potência masculina Netzah, Firmeza, ou Yehovah-Tsabaôth, que deu origem à potência passiva feminina Hod, Esplendor, ou Elohim-Tsabaôth; as duas produziram Yesod, Fundação, que é o poderoso existente, El Hay, propiciando assim a terceira trindade ou "cabeça". A décima Sephirah é antes uma Díada, e é representada nos diagramas como o círculo inferior. É Malkhuth, ou Reino, e Shekhînah, também chamad' Adonai e Cherubim entre as hostes angélicas. A primeira "cabeça" é chamada de mundo Intelectual; a segunda "cabeça" é o Sensual, ou o mundo da Percepção, e a terceira é o mundo material ou físico.