A Vida Depois da Morte: Casos Especiais

Enviado por Estante Virtual em seg, 12/12/2011 - 19:57

Não há, virtualmente, depois da morte, diferença entre a consciência de um psíquico e a de um homem comum, a não ser que o psíquico significa possuir um corpo físico sob vários aspectos mais sensível do que o da maioria das pessoas; consequentemente, quando o corpo físico é descartado, essa desigualdade desaparece.

A morte súbita, tal como a que se dá por um acidente, não deve necessariamente afetar a vida astral para pior, de qualquer maneira. Ao mesmo tempo, para a maioria das pessoas, a morte natural é preferível, porque o lento desgaste da idade ou a devastação produzida por uma prolongada doença são quase que invariavelmente acompanhadas por considerável afrouxamento e dissipação das partículas astrais, de forma que, quando o homem recupera a consciência no plano astral, verifica que, seja como for, um pouco do seu trabalho principal já foi feito para ele.

Na maioria dos casos, quando a vida terrena é subitamente cortada por acidente ou por suicídio, o elo entre Kama (desejo) e Prana (vitalidade) não é facilmente rompido, e o corpo astral sente-se, assim, fortemente vivificado.

A retirada dos princípios de seu invólucro físico, devido à morte súbita, em qualquer caso, foi corretamente comparada à retirada do caroço de uma fruta ainda não madura. Uma grande quantidade da mais grosseira espécie de matéria astral ainda rodeia a personalidade, que, consequentemente, é mantida no sétimo subplano astral, isto é, no mais baixo deles.

O terror mental e a perturbação que às vezes acompanham a morte acidental são naturalmente preparação muito desfavorável para a vida astral. Em certos e raros casos, a agitação e o terror podem persistir por algum tempo após a morte.

A vítima da pena de morte, além do dano que lhe é feito com o súbito arrancar do corpo astral em relação ao corpo físico, quando aquele corpo está latejando com sentimentos de ódio, paixão, vingança e tudo o mais, constitui um elemento peculiarmente perigoso no plano astral. Por desagradável a uma sociedade que possa ser um assassino em seu corpo físico, ele se torna obviamente muito mais perigoso quando é subitamente expelido desse corpo; e, embora a sociedade se proteja dos assassinos em corpo físico, torna-se indefesa, agora, contra assassinos subitamente projetados no plano astral quando em pleno referver de suas paixões.

Tais homens, podem bem agir como instigadores de outros assassinos. É bem sabido que os assassínios de um tipo particular são às vezes repetidos muitas e muitas vezes na mesma comunidade.

A posição do suicida é muito mais complicada pelo fato de que seu gesto insensato diminuiu imensamente o poder do ego superior para recolher em si próprio sua porção inferior e, assim, levou-o a ficar exposto a grandes perigos. Apesar disso, devemos lembrar, como já foi dito, que a culpa do suicídio difere consideravelmente, segundo as circunstâncias, desde o ato moralmente isento de culpa de Sócrates, até, através de todos os graus, o de um infeliz que se suicida a fim de escapar aos resultados físicos de seus próprios crimes e, sendo assim, a posição depois da morte varia de acordo com as referidas circunstâncias.

As conseqüências kármicas do suicídio são habitualmente graves: afetarão certamente a próxima vida e provavelmente outras ainda depois dessa. É um crime contra a Natureza interferir no período determinado para a vida física. Para cada pessoa há um fim de vida determinado por uma teia intricada de causas anteriores, isto é, pelo karma, e aquele termo deve chegar até o esgotamento, antes da dissolução da personalidade.

A atitude mental por ocasião da morte determina a posição subseqüente da pessoa. Assim, há uma profunda diferença entre o que entrega sua vida por motivos altruísticos e o que deliberadamente destrói sua vida por motivos egoístas, tais como medo etc.

Os homens cuja mente é pura e espiritual, se forem vitimas de um acidente etc., dormem tranquilamente até o término de sua vida natural. Em outros casos permanecem conscientes – muitas vezes enleados na cena final de sua vida física durante algum tempo, mantidos naquela região com que estejam relacionados pelas camadas mais externas de seu corpo astral. Sua vida kâmalóquica normal só começa depois que a teia da vida terrena é desfeita, e eles ficam nitidamente conscientes tanto de seu ambiente físico como de seu ambiente astral.

Nem por um momento, portanto, deve-se supor que, por causa das muitas superioridades da vida astral sobre a vida física, um homem tenha justificativa para o suicídio ou para procurar a morte. Os homens são encarnados num coro físico com um propósito que só nesse corpo pode ser atingido. Há lições a serem aprendidas no mundo físico, lições que não podem ser aprendidas em nenhum outro lugar, e quanto mais cedo às aprendamos mais cedo estaremos livres da necessidade de retornar a uma vida inferior e limitada. O ego tem de se dar a muito trabalho a fim de encarnar-se num corpo físico, e também para viver o cansativo período da primeira infância, durante o qual está ganhando algum controle sobre seus novos veículos, gradualmente, e com muito esforço. Tais esforços não devem, portanto, ser insensatamente desperdiçados. A esse respeito, o instinto natural de auto preservação deve ser obedecido, sendo dever do homem conservar ao máximo a sua vida terrena, por tanto tempo quanto as circunstâncias o permitam.

Se um homem que foi subitamente assassinado levou uma existência baixa, brutal, egoísta e sensual, estará inteiramente consciente no sétimo subplano astral e tenderá a se transformar numa entidade terrivelmente perversa. Inflamado por apetites que já não pode satisfazer, tentará talvez saciar suas paixões através de um médium ou de uma pessoa sensitiva que possa obsedar. Tais entidades sentem um prazer demoníaco ao usarem de todas as artes da ilusão astral e com isso levam outros aos mesmos excessos que eles próprios se permitiram. Desta classe e dos cascarões vitalizados é que saem os tentadores – os demônios da literatura eclesiástica.

O que se segue é uma descrição, vigorosamente feita, das vitimas de morte súbita, seja em se tratando de suicidas, seja em se tratando de mortos em acidente, quando tais vítimas são depravadas e grosseiras. “Sombras infelizes, se foram pecadoras ou sensuais, ficam vagando”... até que chegue o momento em que sua morte deve ocorrer. Mortos quando no fluxo integral das paixões terrenas que os prendem a cenas familiares, são acicatados pelas oportunidades de satisfazê-las por substituição, oportunidades estas que lhes são fornecidas pelos médiuns. São os Pischachas, os íncubos, os súcubos da época medieval: os demônios da sede, da gula, da luxúria e da avareza, elementares de astúcia, perversidade e crueldade intensificadas, induzindo suas vítimas a crimes horrendos e regalando-se com a sua perpetração.

Soldados mortos em combate não pertencem inteiramente a essa classificação, porque, seja a causa pela qual estão lutando justa ou injusta, em abstrato, eles a consideram justa: para eles é o dever que os chama, e a ele sacrificam suas vidas, voluntariamente e sem egoísmo. A despeito de seus horrores, portanto, a guerra pode ser, apesar disso,um fator poderoso na evolução, em certo nível. Aí está também o grão da verdade existente na idéia do muçulmano fanático segundo a qual o homem que morre lutando pela fé segue diretamente para uma vida muito boa, no mundo seguinte.

No caso de crianças que morrem cedo, é pouco provável que demonstrem afinidade com as mais baixas subdivisões do mundo astral, e raramente são encontradas nos subplanos inferiores do astral.

Há pessoas que se agarram tão desesperadamente à existência material que, por ocasião da morte, seus corpos astrais não se podem separar do etérico e, consequentemente, acordam ainda rodeados pela matéria etérica. Tais pessoas ficam em situação muito desagradável: estão fora do mundo astral por causa do envoltório etérico que as rodeia e ao mesmo tempo estão, como é natural, igualmente fora da vida física comum, porque já não têm os órgãos físicos dos sentidos.

O resultado é ficarem a vagar, solitárias, silenciosas e aterrorizadas, incapazes de se comunicarem com entidades de qualquer dos planos. Não podem compreender que, se não se agarrassem freneticamente à matéria, passariam depois de alguns momentos de inconsciência para a vida habitual do plano astral. Agarram-se, porém, ao seu mundo cinzento, com sua mísera semiconsciência e preferem isso a mergulharem naquilo que imaginam ser a completa extinção ou mesmo o inferno que lhes ensinaram existir.

Com o correr do tempo, o envoltório etérico se desgasta e o curso normal da Natureza se reafirma, apesar daquelas lutas; às vezes, de puro desespero, abandonam-se arrojadamente, preferindo a idéia da aniquilação à sua existência presente – e o resultado é dominadora e surpreendentemente agradável.

Em alguns casos, elas podem ter a infelicidade de descobrir meios para retomar, até certo ponto, contato com a vida física através de um médium, embora em regra geral o “espírito-guia” do médium muito acertadamente lhe proíba esse acesso.

O “guia” está certo em sua ação, porque tais entidades, em seu terror e necessidade, tornam-se muito carentes de escrúpulos e chegam a obsedar e mesmo enlouquecer o médium, lutando pela vida como um homem que se está afogando luta. Só podem ter êxito se o ego do médium enfraqueceu o domínio sobre seus veículos, permitindo-se manter pensamentos ou paixões indesejáveis.

Às vezes, uma entidade pode conseguir agarrar o corpo de um bebê, expulsando a frágil personalidade para a qual tal corpo estava destinado, ou chega mesmo a obsedar o corpo de um animal, o fragmento da alma-grupo que, no animal, está em lugar de um ego, tendo domínio do corpo menos forte do que o de um ego. Tal obsessão pode ser completa ou parcial. A entidade obsessora entra em contato, assim, uma vez mais com o plano físico, vê através dos olhos do animal e sente a dor infligida ao animal – e na verdade, pelo menos no que se refere à sua própria consciência, essa entidade é o animal, nessa ocasião.

O homem que assim se liga a um animal, não pode abandonar o corpo desse animal quando quiser, mas só gradualmente e com esforço considerável que talvez se prolongue por muitos dias. Habitualmente, ele se liberta apenas com a morte do animal e mesmo então permanece uma ligação astral que precisa ser desprendida. Depois da morte do animal, essa entidade procura às vezes obsedar outro membro da mesma espécie ou realmente qualquer outra criatura que possa agarrar, em seu desespero. Os animais mais comumente tomados parecem ser os menos evoluídos – gado, ovelhas e porcos. Criaturas mais inteligentes, como cães, gatos e cavalos, parecem não ser tão facilmente despojados, embora ocorram casos assim, ocasionalmente.

Todas as obsessões, sejam as de um corpo humano, sejam as de um corpo animal, são um mal e um prejuízo para a alma obsessora, já que fortalecem temporariamente seu apego ao material e retardam assim seu progresso natural em direção a vida astral, ale de criarem para ela vínculos kármicos indesejáveis.

No caso de um homem que, por causa de apetites depravados ou outra razão semelhante, forma um vinculo muito forte com qualquer tipo de animal, mostra em seu corpo astral características animais e pode assemelhar-se, em seu aspecto, ao animal cujas qualidades foram encorajadas durante a vida terrena. Em casos extremos, o homem pode ficar ligado ao corpo astral do animal e tornar-se encadeado como um prisioneiro ao corpo físico do animal. O homem é consciente no mundo astral, tem suas faculdades humanas, mas não pode controlar o corpo animal nem expressar-se através daquele corpo no plano físico. O organismo animal ali está como um carcereiro, mais do que como um veículo e, além disso, a alma animal não é expulsa, mas permanece como o verdadeiro ocupante de seu corpo.

Casos desse tipo explicam, pelo menos parcialmente, a crença muitas vezes encontrada em paises orientais, segundo a qual um homem pode, sob certas circunstancias, reencarnar-se no corpo de um animal.

Destino idêntico pode caber ao homem que retorna ao plano astral em seu caminho para o renascimento, e isso está descrito no capítulo XXIV sobre Renascimento.

A classe de pessoas decididamente apegadas à terra pela ansiedade é muitas vezes chamada de “carnal”: conforme diz St. Martin, tais homens são “permanecedores”, não “retornadores”, sem capacidade para se separarem inteiramente da matéria física até que apareça um assunto que lhes mereça especial interesse.

Já vimos que após a morte física o homem verdadeiro vai-se retirando, com firmeza, de seus corpos exteriores, e que, em particular, Manas, ou mente, tenta desembaraçar-se de Kama, ou desejo. O elo entre o mental inferior e o superior, “o cordão de prata que liga ao Mestre”, parte-se em dois, em certos – e raros – casos em que a personalidade, ou homem inferior, esteja de tal forma controlada por Kama que o Manas inferior se tenha tornado inteiramente escravizado, e não consiga desembaraçar-se. A isso, em ocultismo, dá-se o nome de “perda da alma”. É a perda do eu pessoal, que foi separado de seu progenitor, o ego superior, e assim se condenou a perecer.

Em tal caso, mesmo durante a vida terrena, o quaternário inferior é violentamente separado da Tríada, isto é, os princípios inferiores, encabeçados pelo Manas inferior, são desligados dos princípios superiores, Atma, Buddhi e Manas superior. O homem está dividido em dois, o bruto libertou-se e atira-se para a frente, desaçaimado, levando consigo os reflexos daquela luza manásica que deveria ser seu guia através da vida. Tal criatura, já que possui mente, é mesmo mais perigosa do que um animal não-evoluído; embora humano em sua forma, é um bruto em sua natureza, sem senso de verdade, amor ou justiça.

Depois da morte física, tal corpo astral é uma entidade de terrível potência e tem a particularidade de, sob certas circunstancias, embora as condições sejam raras, poder reencarnar-se no mundo dos homens. Sem outros instintos que não sejam os do animal, levado apenas pelas paixões, nunca pela emoção, com uma astúcia que bruto algum pode emular, uma perversidade que é deliberada, chega ao máximo da vileza, e torna-se o inimigo natural de todos os seres humanos normais.

Um ser dessa classe – conhecido como um Elementar - desce cada vez mais baixo a cada encarnação sucessiva, até que a força maligna se desgasta e perece, separando-se da fonte da vida. Desintegra-se, e assim está perdido como existência separada.

Do ponto de vista do ego não houve colheita de experiências úteis daquela personalidade: o “raio” nada levou ao voltar, a vida inferior foi um fracasso total e completo.

A palavra Elementar foi empregada por vários escritores em muitos sentidos diferentes, mas é recomendável que se confine esse nome à entidade acima descrita.

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