Se considerarmos as condições da vida astral de um homem, haverá dois fatores importantes a serem levados em conta: (1) a extensão do tempo que ele passa em qualquer subplano particular; (2) o grau de sua conscientizacão.
A extensão do tempo depende da quantidade de matéria pertencente àquele determinado subplano, a qual ele incorporou ao seu corpo astral durante a vida física. Terá que ficar, necessariamente, no referido subplano, até que a matéria a ele correspondente se tenha desprendido de seu corpo astral.
Durante a vida física, conforme vimos anteriormente, a qualidade do corpo astral que o homem constrói para si próprio é determinada diretamente pelas suas paixões, desejos e emoções e, indiretamente, pelos seus pensamentos, bem como pelos seus hábitos físicos – alimento, bebida, higiene, continência etc. Um corpo astral vulgar e grosseiro, resultando de uma vida vulgar e grosseira, levará o homem a responder apenas às vibrações astrais inferiores, de forma que depois da morte ele se encontrará sujeito ao plano astral durante o longo e lento processo de desintegração do corpo astral.
Por outro lado, um corpo astral aprimorado, criado por uma vida pura e aprimorada, levará o homem a ser insensível às vibrações grosseiras e baixas do mundo astral e responsivo apenas às suas influencias superiores: conseqüentemente, ele terá muito menor transtorno em sua vida após a morte e sua evolução se processará rápida e facilmente.
O grau de conscientização depende do grau até o qual ele vivificou e usou a matéria do subplano particular em sua vida física.
Se durante a vida terrena a natureza animal foi afagada e teve permissão para fazer excessos, se o aspecto intelectual e o espiritual foram negligenciados ou sufocados, então o corpo astral, ou de desejo, persistirá por um longo tempo após a morte física.
Por outro lado, se o desejo foi dominado e cerceado durante a vida terrena, se foi purificado e treinado para obedecer à natureza superior, pouco haverá então para energizar o corpo astral e ele rapidamente se dissolverá, desintegrando-se.
O homem médio, contudo, de forma alguma libertou-se de todos os seus desejos inferiores antes da morte e, consequentemente, é necessário que tenha um longo período nos vários subplanos do plano astral para que as forças por ele geradas se exaurem e libertem assim o ego superior.
O principio geral é que, quando o corpo astral exauriu suas atrações em um nível, a parte maior de suas partículas mais grosseiras tomba e ele se encontra em afinidade com um estado de certa forma superior de existência. Sua gravidade especifica, por assim dizer, está constantemente diminuindo e, assim, vai continuamente subindo da camada densa para as mais leves, detendo-se apenas quando fica exatamente equilibrada, a cada tempo.
Estar em dado subplano no mundo astral é ter desenvolvido sensibilidade das partículas do corpo astral que pertencem àquele subplano. Ter perfeita visão do plano astral significa ter desenvolvido sensibilidade em todas as partículas do corpo astral, de forma que todos os subplanos ficam simultaneamente visíveis.
Um homem que levou uma vida boa e pura, cujos sentimentos e aspirações foram espirituais e destituídos de egoísmo, não se sentirá atraído pelo plano astral e, se for deixado inteiramente a sós, pouco encontrará que o mantenha ali ou que desperte nele uma atividade, mesmo pelo período relativamente curto de seu estágio. Suas paixões terrenas tendo sido dominadas durante a vida física e sua força de vontade tendo sido dirigida para canais superiores, há pouca energia de desejo inferior para ser descartada no plano astral. Assim, seu estágio ali será muito curto e é mais provável que tenha pouco mais do que uma sonolenta semiconsciência até que mergulhe no sono durante o qual seus princípios mais altos finalmente se libertem do corpo astral e ingressem na vida de beatitude do mundo celestial.
Se nos expressarmos mais tecnicamente, diremos que durante a vida física Manas purificou Kama com o qual estava entretecida, de forma que depois da morte tudo quanto restou de Kâma foi um simples resíduo, facilmente descartável pelo ego que se está retirando. Um homem assim teria pouca consciência no plano astral.
É bastante possível que um homem possa, como resultado de suas encarnações anteriores, ter grande quantidade de matéria astral grosseira em seu corpo astral. Mesmo que tenha sido educado, e tenha conduzido sua vida de forma a não vivificar aquela matéria grosseira, e embora muita dessa matéria possa ter sido descartada e substituída por matéria mais refinada, ainda assim bastante dela ficou. Consequentemente, o homem terá de permanecer em um plano astral inferior durante algum tempo, até que realmente a matéria grosseira seja descartada. Porém, já que tal matéria não foi vivificada, ele terá pouca consciência e dormirá praticamente durante o período em que ali permanecer.
Há um ponto conhecido como ponto critico entre cada par de subestados de matéria: o gelo pode ser levado a um ponto em que o menor acréscimo de calor o tornará liquefeito; a água pode ser levada a um ponto em que o menor acréscimo de calor pode transformá-la em vapor. E assim, cada subestado de matéria astral pode ser levado a um ponto de finura no qual qualquer refinamento adicional o transformaria no subestado próximo mais alto. Se um homem fez isso para cada subestado da matéria de seu corpo astral, de forma que ele foi purificado até o último grau possível de delicadeza, então o primeiro toque da força desintegradora despedaça sua coesão e leva-a à condição original, deixando-o imediatamente livre para passar ao subplano seguinte. Sua passagem através do plano astral será, assim, de uma rapidez inconcebível, e ele atravessará o plano de uma forma virtualmente instantânea, seguindo para o estado mais alto do mundo celestial.
Todas as pessoas, depois da morte, têm de passar por todos os subplanos do plano astral, em seu caminho para o mundo celestial. Mas o serem ou não conscientes de todos eles, e em que extensão o seriam, dependerá dos fatores citados.
Por essas razões, é claro que a soma de consciência que um homem possa ter no plano astral, e o tempo que ali irá passar em seu caminho para o mundo celestial, pode variar dentro de limites muito amplos. Há alguns que passam ali apenas algumas horas ou dias, outros permanecem por muitos anos, até mesmo durante séculos.
Para uma pessoa comum, 20 ou 30 anos no plano astral, depois da morte, é uma razoável média. Caso excepcional é o da Rainha Elizabeth, que tinha um amor tão intenso pelo seu país que só recentemente passou para o mundo celestial, tendo usado o tempo, desde a sua morte, empenhando-se, e até pouco tempo sem sucesso, em incutir em seus sucessores as idéias que tinha do que devia ser feito pela Inglaterra.
Outro exemplo notável foi o da Rainha Victoria, que passou muito rapidamente pelo plano astral, seguindo para o mundo celestial, sua rápida passagem sendo devida indubitavelmente pelos milhões de amorosas e gratas formas-pensamentos que lhe foram enviadas, bem como à sua bondade inata.
A questão geral do intervalo entre vidas terrenas é complicada. Aqui só poderemos tocar brevemente na porção astral desses intervalos. Para maiores detalhes, o estudante é remetido ao livro A Vida Interior, de C. W. Leadebeater.
Três fatores principais têm de ser levados em conta:
(1) A classe do ego.
(2) A forma da sua individualização.
(3) A extensão e a natureza de sua última vida terrena.
Geralmente falando, um homem que morre jovem terá um intervalo menor do que um que morra em idade avançada, mas é provável que tenha uma vida astral proporcionalmente mais longa, porque muitas das fortes emoções que se exaurem na vida astral são geradas na parte inicial da vida física.
Devemos recordar que no mundo astral nossos métodos comuns de medir o tempo mal podem ser aplicados; mesmo na vida física a ansiedade e a dor se estendem por horas que parecem infinitas, e no plano astral essas características se exageram ao cêntuplo.
No plano astral um homem só pode medir o tempo pelas suas sensações. A falsa idéia da danação eterna veio da distorção desses fatos.
Vimos, assim, que tanto o tempo de permanência como a soma de consciência mantida em cada nível do plano astral dependem muitíssimo do tipo de vida que o homem teve no mundo físico. Outro fator de grande importância é a atitude mental do homem depois da morte física.
A vida astral pode ser dirigida pela vontade, tal como pode sê-lo a vida física. Um homem com pouca força de vontade e iniciativa é, tanto no mundo astral como no mundo físico, e muito, a criatura do ambiente que criou para si. Um homem determinado, por outro lado, pode sempre fazer o melhor das suas condições e viver sua própria vida, apesar delas.
Um homem, portanto, não se livra de suas más tendências no mundo astral, a não ser que trabalhe positivamente para esse fim. Se não fizer esforços definidos, terá de sofrer necessariamente as conseqüências dessa sua incapacidade de satisfazer os desejos que só podem ser atendidos por intermédio do corpo físico. Com o correr do tempo esses desejos diminuem e morrem, simplesmente por causa da impossibilidade de satisfazê-los.
O processo, contudo, pode ser muitíssimo acelerado, assim que o homem compreenda a necessidade de livrar-se dos maus desejos que o retêm e faça o esforço necessário para isso. Um homem ignorante do verdadeiro estado das coisas, habitualmente fica a remoer seus desejos, encompridando assim a vida desses desejos e, com isso, agarra-se desesperadamente às partículas grosseiras da matéria astral por tanto tempo quanto puder, porque as sensações, relacionadas com ela parecem mais aproximadas daquelas que dá a vida física, e pelas quais ele ainda anseia. O procedimento certo para ele, naturalmente, é matar os desejos terrenos e recolher-se em si mesmo o mais depressa possível.
Mesmo o conhecimento meramente intelectual das condições da vida astral e, afinal, das verdades teosóficas em geral, é de inestimável valor para um homem, em sua vida após a morte.
É da mais alta importância que depois da morte física um homem possa reconhecer claramente que ele se está recolhendo continuamente em direção do ego e, consequentemente, que deve libertar seus pensamentos, tanto quanto possível, das coisas físicas, fixando sua atenção nas coisas espirituais com as quais se ocupará, quando, em devido tempo, passar do plano astral para o plano mental ou mundo celestial.
Muitas pessoas, infelizmente, recusam voltar seus pensamentos para o alto e se agarram aos assuntos terrenos com desesperada tenacidade. Com a passagem do tempo, paulatinamente e no curso normal da evolução, elas perdem contato com os mundos inferiores. Contudo, lutando a cada passo do caminho, causam a si próprias muito sofrimento desnecessário e adiam seriamente seu progresso.
Nessa oposição ignorante ao curso natural das coisas, a posse de um cadáver físico dá assistência a um homem, tal cadáver servindo como uma espécie de sustentáculo no plano físico.
Alguns exemplos típicos da vida astral após a morte ilustrarão melhor a natureza e a base lógica daquela vida.
Um homem comum, sem destaque algum, nem especialmente bom nem especialmente mau, de forma alguma é transformado pela morte, mas permanece descolorido com antes. Consequentemente, não terá sofrimento especial nem especial alegria: na verdade, pode achar aquela vida bem monótona, porque, não tendo cultivado interesses particulares durante a vida física, nenhum interesse tem em sua vida astral
Se durante a sua vida física não se ocupou senão da tagarelice vazia, do esporte, dos negócios ou dos trajos, quando tais coisas não forem mais possíveis, ele se irá encontrar, naturalmente, com o tempo a lhe pesar nas mãos.
Entretanto, um homem que tem fortes desejos de qualidade inferior, que foi, por exemplo, um bêbado ou um sensual, estará em condições bem piores. Não só seus anseios e desejos permanecerão com ele (lembremo-nos de que os centros de sensação estão situados em Kama e não no corpo físico), como serão mais fortes do que nunca, porque sua força integral expressa-se na matéria astral, e não se está mais empregando parte dessa matéria para pôr em movimento às pesadas partículas físicas.
Estando na mais baixa e depravada condição da vida astral, um homem assim parece com freqüência estar ainda suficientemente próximo do físico para ser sensível a certos odores, embora a titilação produzida seja suficiente apenas para excitar ainda mais seu louco desejo e tantalizá-lo ao ponto do frenesi.
Porém, como não mais possui o corpo físico, através do qual e apenas através dele seus desejos podem ser saciados, não tem possibilidade de aplacar sua terrível sede. Daí as inumeráveis tradições do fogo do purgatório, encontradas em quase todas as religiões, que não deixam de ser adequadas como símbolos para as torturantes condições que descrevemos. Tais condições podem durar por longo tempo, já que só desaparecem paulatinamente, por exaustão.
A base racional e a justiça automática de todo o processo é clara: o homem criou, ele próprio, as suas condições, por suas próprias ações, e determinou o grau exato de seu poder e duração. Ademais, essa é a única forma pela qual ele pode livrar-se de seus vícios, porque, se reencarnasse imediatamente, iniciaria sua próxima vida precisamente como terminou a precedente, isto é, como escravo de suas paixões e apetites; e a possibilidade de jamais conseguir o domínio de si mesmo estaria consideravelmente reduzida. Mas, tal como as coisas são, havendo-se exaurido seus apetites, ele poderá começar sua próxima encarnação sem a carga em que eles se constituem, e seu ego, tendo recebido uma severa lição, provavelmente fará todos os esforços possíveis para refrear seus veículos inferiores quanto à repetição daqueles erros.
Um ébrio habitual consegue às vezes rodear-se de um véu de matéria etérica e assim materializar-se parcialmente. Pode, então, sentir o cheiro do álcool, mas não da mesma maneira pela qual nós o sentimos. Daí ficar ansioso para forçar outros a se embriagarem, de forma que ele possa, parcialmente, entrar em seus corpos físicos e obseda-los, sentindo, através daqueles corpos, diretamente o sabor e as outras sensações pelas quais anseia.
A obsessão pode ser permanente ou temporária. Tal como acabamos de mencionar, um sensual morto pode agarrar qualquer veículo que consiga furtar a fim de afagar seus grosseiros desejos. Em outras ocasiões um homem pode obsedar alguém como um ato calculado de vingança: registrou-se um caso em que um homem obsedou a filha de um inimigo.
A melhor maneira de evitar a obsessão ou resistir a ela está no exercício da força de vontade. Quando o fato ocorre é porque quase sempre a vitima, em primeiro lugar, deixou-se dominar voluntariamente pela influência invasora; o primeiro passo a dar é reagir contra essa submissão. A mente deve colocar-se com firmeza, em determinada resistência contra a obsessão, compreendendo fortemente que a vontade humana é mais forte do que qualquer má influência.
Tal obsessão é naturalmente muitíssimo afastada do natural e, para ambas as partes, prejudicial em grau muito elevado.
O efeito do uso excessivo do fumo sobre o corpo astral é notável. O veneno de tal forma enche o corpo astral que ele se enrijece sob a sua influencia e se torna incapaz de mover-se livremente. Durante algum tempo o homem fica paralisado, capaz de falar, ainda assim privado de qualquer movimento e quase que inteiramente desligado de influencias superiores. Quando a parte envenenada de seu corpo astral se exaure, ele emerge daquela desagradável condição.
O corpo astral muda as suas partículas, tal como o faz o corpo físico, mas nada há que corresponda a comer ou digerir alimento. As partículas astrais que se desprendem são substituídas por outras, tiradas da atmosfera ambiente. Os desejos puramente físicos que trazem a fome e a sede já não existem ali; mas o desejo do glutão que quer ter a sensação do paladar, e o desejo do ébrio pelas sensações que se seguem à absorção do álcool, sendo ambos astrais, ainda persistem. E, como ficou dito antes, pode causar grande sofrimento devido à ausência do corpo físico, somente através do qual tais desejos podem ser satisfeitos.
Muitos mitos e tradições existem, exemplificando as condições descritas. Um deles é o de Tântalo, que sofreu sede enlouquecedora e estava condenado a ver a água recuar exatamente quando ia tocá-la com os lábios. Outro exemplo, tipificando a ambição, é o de Sísifo, condenado a rolar uma pesada pedra até o topo de uma montanha e vê-la rolar novamente para baixo. A pedra representa os planos ambiciosos que tal homem continua a formar, apenas para compreender que não tem um corpo físico com que possa levá-los adiante. Ele acaba, finalmente, por exaurir sua egoística ambição, compreende que não precisa rolar sua pedra e deixa que ela fique em paz na base da montanha.
Outra historia é a de Titio, um homem que foi amarrado a um rochedo e tinha seu fígado bicado por abutres, que o comiam. Mas aquele fígado tornava a crescer sempre, tão depressa quanto era comido. Isso simboliza o homem torturado pelas bicadas do remorso trazido por pecados cometidos na terra.
O pior que o homem comum do mundo habitualmente arranja para si próprio depois da morte é uma existência inútil e altamente cansativa, sem interesses racionais – seqüela natural de uma vida desperdiçada em auto-satisfação, futilidades e falatório ocioso, aqui na terra.
As únicas coisas de que gosta já não lhe são possíveis, porque no mundo astral não há negócios a fazer e, embora possa ter todo o companheirismo que deseje, a sociedade é agora, para ele, uma coisa muito diferente, porque todas as suas pretensões, no que a ela se referem e estão habitualmente baseadas neste mundo, já não são possíveis.
O homem faz assim, para si mesmo, seu próprio purgatório e seu próprio céu, e tais coisas não são lugares, mas estados de consciência. O inferno não existe: é apenas uma ficção da imaginação teológica. Nem o purgatório nem o inferno podem ser eternos, porque uma causa finita não pode produzir resultado infinito.
Apesar disso, as condições do pior tipo de homem depois da morte talvez sejam melhor descritas pela palavra “inferno”, embora tais condições não sejam intérminas. Assim, por exemplo, acontece às vezes que um assassino é seguido por sua vitima, jamais podendo escapar dessa presença obsessionante. A vitima (a não ser que também ela seja de tipo inferior) está envolvida em inconsciência e essa mesma inconsciência parece acrescentar um novo horror àquela perseguição mecânica.
Tais fatos não acontecem arbitrariamente, mas são o resultado inevitável de causas postas em movimento pelas pessoas. As lições da natureza são severas, mas com o andar do tempo revelam-se misericordiosas, porque à evolução da alma e são rigorosamente corretivas e salutares.
Para a maioria das pessoas, o estado em que se encontram após a morte é muito mais feliz do que a vida que tiveram sobre a terra. A primeira sensação de que o morto tem consciência é habitualmente a de uma liberdade maravilhosa e deleitante. Nada há para afligi-lo, não lhe são impostos deveres, a não ser aqueles que ele próprio se impõe.
Observado o caso desse ponto de vista, está claro que há ampla justificativa para a afirmação de que as pessoas fisicamente “vivas”, sepultadas e comprimidas em corpos físicos, estão, no verdadeiro sentido, muitíssimo menos “vivas” do que aquelas que habitualmente chamamos mortas. Os chamados mortos são muito mais livres e, estando menos constrangidos pelas condições materiais, podem trabalhar com muito maior eficiência e cobrir campo maior de atividade.
Um homem que não permitiu a redistribuição de seu corpo astral está livre de todo o mundo astral, não o encontra exageradamente povoado porque o mundo astral é muito maior do que a superfície do mundo físico e sua população é de certa forma menor, sendo a vida média da humanidade no mundo astral mais curta do que a média da vida no mundo físico.
Além dos mortos, há ainda no plano astral cerca de um terço de vivos que deixaram temporariamente seu corpo enquanto dormem.
Embora todo o plano astral esteja aberto a qualquer dos seus habitantes que não permitiram a redistribuição de seu corpo astral, ainda assim a grande maioria permanece próxima da superfície da terra.
Passando para um tipo superior de homem, podemos considerar um que tenha algum interesse de natureza racional, isto é, música, literatura, ciência etc. Não mais existindo a necessidade de passar uma grande proporção de cada dia “ganhando a vida”, o homem está livre para fazer precisamente aquilo de que gosta, tanto quanto for capaz de realização sem a matéria física. Na vida astral é possível não só ouvir os maiores músicos, mas ouvir muito mais musica do que antes, porque há no mundo astral outras e mais amplas harmonias do que os ouvidos físicos, relativamente embotados, podem captar. Para o artista, todo o encantamento do mundo astral superior está aberto para seu gozo. Um homem pode rápida e facilmente mover-se de um lugar para outro e ver as maravilhas da Natureza, com muito maior facilidade, é obvio, do que jamais poderia fazê-lo no plano físico. Se ele é um historiador ou um cientista, as bibliotecas e os laboratórios do mundo estão à sua disposição; sua compreensão dos processos naturais será mais completa do que jamais fora, porque ele agora pode ver tanto o interior como o exterior dos trabalhos e muitas das causas das quais antes apenas conheciam os efeitos em todos esses casos, sua satisfação é grandemente aumentada porque não há fadiga possível.
Um filantropo pode continuar seu trabalho beneficente mais vigorosamente do que jamais o fizera e sob melhores condições do que no mundo físico. Há milhares de criaturas que ele pode auxiliar e com maior certeza de estar propiciando real beneficio.
É bastante possível, para qualquer pessoa, depois da morte, dispor-se ao estudo, no plano astral adquirindo assim idéias inteiramente novas. Desta forma, há pessoas que podem tomar conhecimento da Teosofia pela primeira vez, no mundo astral. Há registro de um caso em que uma pessoa dedicou-se ao estudo da música naquele plano, embora tal coisa seja pouco comum.
Em geral, a vida no plano astral é mais ativa do que no plano físico, sendo a matéria astral mais vitalizada do que a matéria física, e a forma apresentando-se mais plástica. As possibilidades, tanto de entretenimento como de progresso, são sob todos os aspectos muito maiores no plano astral do que no plano físico. Tais possibilidades, porém, são de classe mais elevada e exigem inteligência maior para se fazerem proveitosas. Um homem que durante sua estada na terra devotou todo o seu pensamento e toda a sua energia apenas às coisas materiais, pouco provavelmente terá capacidade para se adaptar a condições mais adiantadas, pois sua mente semi-atrofiada não será forte o bastante para captar as possibilidades mais amplas de uma vida maior.
Um homem cuja vida e interesses foram de tipo superior, estará em condições de fazer progresso maior em poucos anos de vida astral do que jamais poderia fazer nos anos da mais longa das vidas físicas.
Sendo os prazeres astrais muito maiores do que os do mundo físico, há o perigo de que as pessoas se voltem para eles, em prejuízo do caminho do progresso. Mesmo as satisfações da vida astral, entretanto, não apresentam sério perigo para os que compreenderam um pouco daquilo que é mais alto. Depois da morte, um homem deve tentar passar através dos níveis astrais o mais rapidamente possível, de forma compatível com a sua utilidade, e não ceder aos refinados prazeres que eles oferecem, como não cederia aos do mundo físico.
Qualquer homem desenvolvido é, sob todos os aspectos, tão ativo durante a vida astral após a morte como o foi em sua vida física. Pode, indiscutivelmente, ajudar ou bloquear seu próprio progresso e o de outros, tanto após a vida como antes, e consequentemente está todo o tempo gerando Karma da mais alta importância.
Na verdade, a consciência de um homem que está vivendo inteiramente no mundo astral é habitualmente muito mais definida do que o foi durante sua vida astral quando adormecido, o que o capacita mais a pensar e agir com determinação, de forma que suas oportunidades de criar bom ou mau Karma são maiores.
Em geral, pode-se dizer que um homem é capaz de criar karma onde quer que sua consciência esteja desenvolvida, ou onde quer que possa agir ou escolher. Assim, as ações realizadas no plano astral podem produzir frutos kármicos para a próxima vida terrena.
No mais baixo dos subplanos astrais, tendo outras coisas a distrair-lhe a atenção, um homem pouco se preocupa com o que acontece no mundo físico, a não ser quando busca antros de vicio.
No subplano seguinte, o sexto, estão homens que, enquanto vivos, centralizaram seus desejos e pensamentos principalmente nos assuntos mundanos. Consequentemente, ainda pairam em torno das pessoas e lugares com os quais estiveram mais ligados quando na terra, e podem ter consciência de muitas coisas sobre eles. Nunca, todavia, vêem a própria matéria física, mas sempre a sua contraparte astral.
Assim, por exemplo, um teatro cheio de gente tem sua contraparte astral, que é visível às entidades astrais. Não poderiam, contudo, ver, tais como os vemos, os costumes ou as expressões dos atores e as emoções dos artistas, já que são simuladas e não reais, e não podem fazer impressão no plano astral. Os que estão no sexto subplano, que fica sobre a superfície da terra, encontram-se rodeados pelas replicas astrais das montanhas, arvores e lagos que fisicamente existam. Nos dois subplanos seguintes, o quinto e o quarto, essa consciência dos acontecimentos físicos também é possível, embora em grau que vai rapidamente diminuindo. Nos dois subplanos seguintes, o terceiro e o segundo, o contato com o plano físico só pode ser obtido por um esforço especial de comunicação através de um médium. Do primeiro subplano, o mais alto, mesmo a comunicação através de um médium. Do primeiro subplano, o mais alto, mesmo a comunicação através de um médium seria muito difícil. Os que vivem em subplanos mais altos quase sempre se munem das cenas que desejam. Assim, num trecho do mundo astral há homens que se rodeiam de paisagem de sua própria criação; outros aceitam paisagens já feitas, construídas por outros. (Uma descrição dos vários níveis ou subplanos será dada no capítulo XVI.)
Há casos em que homens constroem para si próprias cenas descritas em sua varias escrituras religiosas, tentando a desajeitada fabricação de jóias nascendo de arvores, de mares de vidro mesclado com fogo, de criaturas cheias de olhos por dentro, e de deidades com centenas de braços e cabeças.
No lugar que os espíritas chamam Terra de Verão, as pessoas da mesma raça e da mesma religião tendem a manter-se reunidas depois da morte, tal como o eram na vida terrena, de forma que há uma espécie de rede de terras de verão sobre paises a que pertenceram as pessoas que os criaram, sendo formadas comunidades, amplamente diferentes umas das outras, tal como se dá com comunidades semelhantes na terra. Isto se deve não só à afinidade natural, mas também ao fato de que as barreiras da linguagem ainda existem no plano astral.
Esse princípio se aplica realmente ao plano astral em geral. Assim, numa sessão espírita no Ceilão, verificou-se que as entidades que se comunicavam eram budistas e que, para alem do tumulo, tinham encontrado a confirmação de suas preconcepções religiosas, exatamente como os membros das várias seitas cristãs da Europa. Os homens encontram no plano astral não apenas suas formas-pensamentos, mas as que foram feitas por outros – sendo estas, em alguns casos, o produto de gerações de pensamentos de milhares de pessoas, todas seguindo a mesma linha.
Não é fora do comum, para os pais, empenharem-se em imprimir seus desejos sobre os filhos, isto é, no que se refere a algum relacionamento especial que eles desejam. Tal influencia é insidiosa, já que um homem comum pode tomar essa pressão continua como seu próprio desejo subconsciente.
Em muitos casos, os mortos se constituíram em anjos da guarda dos vivos, mães muitas vezes protegendo seus filhos, maridos protegendo suas esposas e assim por diante, durante muitos anos.
Em outros casos, um escritor ou compositor musical mortos podem imprimir suas idéias sobre um escritor ou um compositor que estejam no mundo físico, de forma que muitos livros levados ao credito dos vivos são, realmente, o trabalho dos mortos. A pessoa que realmente escreve pode estar consciente da influência, ou pode estar inteiramente inconsciente dela.
Um romancista conhecido diz que suas historias lhe surgem não sabe de onde e que, na realidade, não são escritas por ele, mas através dele. Reconhece isso. Há muitos outros provavelmente na mesma situação, porem que são inconscientes dela.
Um médico que morre, muitas vezes continua depois da morte a interessar-se pelos seus pacientes, tentando cura-los lá do outro lado ou sugerir ao seu sucessor métodos de tratamentos que, com suas faculdades astrais recentemente obtidas, sabe que lhe serão úteis.
Embora a maioria das pessoas “boas” comuns, que morrem de morte natural, deixem de ter provavelmente qualquer consciência do que quer que seja físico, já que atravessam rapidamente os estágios inferiores antes de terem despertada a consciência astral, ainda assim, mesmo entre essas pessoas, algumas podem ser atraídas de volta a ter contato com o mundo físico em virtude de grande ansiedade sobre alguém que ali ficou.
O desgosto de parentes e amigos também pode atrair a atenção de quem passou para o plano astral e tende a trazê-lo de volta ao contato com sua vida terrena. Essa tendência a descer cresce com o uso, e o homem irá com certeza usar sua vontade para se manter ligado ao mundo físico. Durante algum tempo, seu poder de observar as coisas terrenas aumentará, mas a seguir irá diminuindo e ele sofrerá provavelmente ao sentir esse poder evadindo-se dele.
Em muitos casos, as pessoas não só causam a si próprias uma quantidade imensa de dor inteiramente desnecessária, mas também com freqüência prejudicam seriamente aqueles pelos quais choram com intenso e incontrolado desgosto.
Durante todo o período da vida no plano astral, seja ele curto ou longo, o homem está ao alcance das influencias terrenas. Nos casos que acabamos de mencionar, a dor apaixonada e os desejos de amigos da terra enviam vibrações ao corpo astral do homem que morreu e assim alcançam e acordam sua mente, ou Manas inferior. Acordado assim de seu estado sonhador para a recordação vívida da vida terrena, ele pode tentar comunicar-se com seus amigos da terra, possivelmente através de um médium. Tal despertar é muitas vezes acompanhado de agudo sofrimento e, seja como for, o processo natural de recessão do ego é retardado.
O ensinamento oculto nem por um momento aconselha que se esqueça o morto; mas sugere que a lembrança afetuosa dele é uma força que, se dirigida apropriadamente na intenção de ajudar seu progresso em direção do mundo celestial e sua passagem através de um estado intermediário, pode ser de real valor para ele, enquanto os lamentos não só são inúteis, mas prejudiciais. É com instinto verdadeiro que a religião hindu, realiza suas cerimônias Shrâddha e a Igreja Católica sua prece pelos mortos.
As preces, com as cerimônias que as acompanham, criam elementais que golpeiam o corpo astral da entidade kâmalóquica e apressam-lhe as desintegrações, dirigindo-a, assim, para o mundo celestial.
Quando, por exemplo, uma missa é oferecida com a definida intenção de ajudar a pessoa morta, ela será sem duvida beneficiada pelo afluxo de força: o pensamento forte fixado nela atrai inevitavelmente sua atenção, e quando é atraído à Igreja toma parte na cerimônia e goza de uma boa poção de seus resultados. Mesmo que ainda esteja inconsciente, a vontade do padre e suas orações dirigem uma corrente de força para a pessoa em questão.
Mesmo a sincera oração geral pelo bem dos mortos, como um todo, embora seja provavelmente vaga e portanto menos eficiente do que um pensamento mais definido, tem ainda no produto adicional um efeito cuja importância seria difícil exagerar. A Europa pouco sabe do quanto deve àquelas grandes ordens religiosas que se devotam, noite e dia, a orações contínuas pelos fiéis desaparecidos.