Se houve ou não um templo real com esse nome - que os arqueólogos decidam; mas nenhum erudito versado no jargão antigo e medieval dos cabalistas e alquimistas duvidará de que a descrição detalhada de 1 Reis é puramente alegórica. A construção do Templo de Salomão é a representação simbólica da aquisição gradual da sabedoria secreta ou magia; a ereção e o desenvolvimento do espiritual a partir do terreno; a manifestação do poder e do esplendor do espírito no mundo físico por meio da sabedoria e do gênio do construtor. Esse, ao se tornar um adepto, é um rei mais poderoso do que o próprio Salomão, o emblema do sol ou a própria LUZ - a luz do mundo subjetivo real, brilhando na escuridão do universo objetivo. Esse é o "Templo" que deve ser edificado sem que o som do martelo ou de qualquer ferramenta seja ouvido na casa enquanto esteja "em construção".
No Oriente, essa ciência chama-se, em alguns lugares, o Templo "de sete pisos" e, em outros, o "de nove pisos"; cada piso corresponde alegoricamente a um grau do conhecimento adquirido. Em todos os países do Oriente, onde quer que a magia e a religião-sabedoria seja estudada, seus praticantes e estudiosos são conhecidos por Construtores - pois eles constróem o templo do conhecimento, da ciência secreta. Os adeptos ativos são chamados de Construtores operativos, ao passo que os estudantes, ou neófitos, são denominados especulativos ou teóricos. Os primeiros exemplificam em obras e seu controle sobre as forças da natureza inanimada e animada; os outros estão se aperfeiçoando nos rudimentos da ciência sagrada.
A frase atribuída a Jesus - "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha igreja; e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" -, desfigurada como está por traduções errôneas ou interpretações incorretas, indica claramente o seu significado real. Já mostramos a significação de Peter e de Petra para os hierofantes - a interpretação transmitida pelo iniciador ao futuro intérprete escolhido. Uma vez familiarizado com seu conteúdo misterioso, que lhe revelava os mistérios da criação, o iniciado tornava-se um construtor, pois se inteirava do dodecahedron, ou a figura geométrica com que o universo foi construído. Ao que apresenta em iniciações prévias a respeito do uso da regra e dos princípios arquitetónicos acrescentava-se uma cruz, cujas linhas perpendicular e horizontal se sobrepunham para formar a fundação do templo espiritual e cuja intercessão, ou ponto central primordial, representava o elemento de todas as existências, a primeira idéia concreta da divindade. A partir desse momento ele podia, como Mestre-construtor (ver 1 Coríntios, III, 10), erigir um templo de sabedoria, naquela pedra de Petra, para si mesmo; e, tendo-o construído, permitir que "outros ali construíssem".
O hierofante egípcio recebia uma capacete quadrado, que devia vestir sempre, e um esquadro (ver as insígnias dos maçons), sem os quais não podia apresentar-se em nenhuma cerimônia. O Tao perfeito formado pela perpendicular (raio masculino descendente, ou espírito), uma linha horizontal (ou matéria, raio feminino) e o círculo mundano eram atributos de Ísis, e, só por ocasião da sua morte, a cruz egípcia era colocada sobre o peito da múmia do iniciado. Esses capacetes quadrados são usados até hoje pelos sacerdotes armênios. É verdadeiramente estranha a pretensão de que a cruz seja um símbolo genuinamente cristão introduzido em nossa era, quando se sabe que Ezequiel marca com o signa thao (como está traduzido na Vulgata) as testas dos homens de Judemiam ao Senhor (Ezequiel, IX, 4). No hebraico antigo, esse sinal era traçado assim: (Cruz inclinada para a deretia), mas, nos hieróglifos egípcios originais, como uma cruz cristã perfeita. Também no Apocalipse, o "Alfa e o Ômega" (espírito e matéria), o primeiro e o último, estampa o nome de seu Pai nas testas dos eleitos. (Apocalipse, VII, 2, 3; XXIV, 1.) á que t
E se nossos argumentos estiverem errados, se Jesus não era um iniciado, um Mestre-contrutor, ou Mestre-maçom, como agora é chamado, como é que nas catedrais mais antigas encontramos a sua efígie com as insígnias maçonicas? Na Catedral de Santa Sroce, em Florença, sobre o porta principal, pode-se ver a figura de Cristo segurando um esquadro perfeito em sua mão.
Os "mestres-construtores" sobreviventes da arte operativa do Templo verdadeiro andam literalmente seminus e semidescobertos - não por causa de uma cerimônia pueril, mas porque, como o "Filho do homem", eles não têm onde reclinar a cabeça - embora sejam os possuidores vivos da "Palavra". Serve-lhes de "reboque" o cordão triplo sagrado de certos brâmanes-sannyâsins, ou o fio com que certos lamas penduram suas pedras yu que, embora pareçam talismãs sem valor, nenhum deles trocaria por todas as riquezas de Salomão e da rainha de Sabá. A vareta de bambu de sete nos do faquir pode tornar-se tão poderosa quanto a vara de Moisés "que foi criada no crepúsculo e sobre a qual foi gravado o grande e glorioso NOME, por cujo poder operou maravilhas em Mizraim".
Verdadeiramente, a magna e omnífica palavra da Arca Real, "por longo tempo perdida mas agora encontrada", cumpriu sua promessa profética. A senha desse grau já não é "SOU O QUE SOU". É apenas "Fui mas não sou!"