Comparações entre os sistemas Indiano, Caldeu e Ofita

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 01:27

Os dos ofitas, que assumiram uma forma definitiva na época de Marcion e dos basilideanos, encontramos a razão para as heresias de todas as outras seitas. Como todos os outros gnósticos, eles rejeitavam completamente a Bíblia mosaica. Não obstante, exceto algumas deduções originais de alguns dos fundadores mais importantes de diversos ramos do gnosticismo, a sua filosofia não era nova. Passando pela tradição cabalística caldaica, ela tomou os seus materiais nos livros herméticos e, se procurarmos mais longe ainda por sua especulações metafísicas, nós a encontramos enleada entre os dogmas de Manu e na gênese primitiva hindu pré-sacerdotal. Muitos dos nossos antiquários eruditos remontam as filosofias gnósticas ao Budismo, o que não diminui de maneira alguma os seus nem os nossos argumentos. Repetimos mais uma vez: o Budismo é a fonte primitiva do Bramanismo. Não foi contra os Vedas primitivos que Gautama protestou. Foi contra a religião sacerdotal e oficial de seu país; e os brâmanes, a fim de dar lugar e autoridade às suas castas, preencheram, num período posterior, os manuscritos antigos com slokas (versos) interpolados, com os quais queriam provar que as castas haviam sido predeterminadas pelo Criador pela razão de que cada classe de homens provinha de um dos membros nobres de Brahmâ. A filosofia de Gautama Buddha era aquela que, desde os tempos imemoriais, se ensinava no segredo impenetrável dos santuários internos dos pagodes. Não devemos nos surpreender, portanto, quando encontramos, em todos os dogmas fundamentais dos gnósticos, os dogmas metafísicos tanto do Bramanismo quanto do Budismo. Eles afirmavam que o Velho Testamento era a revelação de uma ser inferior, uma divindade subordinada, e que não continha uma única frase da sua Sophia, a Sabedoria Divina. Quanto ao Novo Testamento, ele perdera a sua pureza quanto os compiladores introduziram interpolações. A revelação da verdade foi sacrificada por eles para a promoção dos seus fins egoístas e para a manutenção de suas querelas. Essa acusação não parece ser muito improvável para aquele que está a par da luta constante entre os defensores da circunscrição e da "Lei" e os apóstolos que renegaram o Judaísmo.

Os ofitas gnósticos ensinavam a doutrina das emanações, tão odiosa aos partidários da unidade na Trindade, e vice-versa. A Divindade Desconhecida, para eles, não tinha nome; mas a sua primeira emanação feminina era chamada Bythos ou Profundidade ( Grande Abismo ou Caos). Correspondia à Shekînah (Luz Primordial) dos cabalistas, o "Véu" que oculta a "Sabedoria" no cranium da mais superior das três cabeças. Como a Mônada pitagórica, essa Sabedoria sem nome era a Fonte de Luz, e Ennoia ou Mente é a própria Luz. Esta era chamada também de "Homem Primitivo", como o Adão-Cadmo, ou o antigo Adão da Cabala. Na verdade, se homem foi criado à imagem e à semelhança de Deus, então era igual à sua criatura em forma e figura - por conseguiste, ele é o "Homem Primitivo". O primeiro Manu, o que desenvolveu de Svayambhû, "o que existe, não revelado, em sua própria glória", também é, em certo sentido, o homem primitivo, para os hindus.

Assim, o Bythos "sem nome e não-revelado", seu reflexo feminino, e Ennoia, a Mente revelada que procede de ambos, ou seu Filho, são as contrapartidas da primeira Tríade caldaica, bem como da Trimûrti bramânica. Comparemos: em todos os sistemas vemos A GRANDE CAUSA PRIMEIRA, o UM, o germe primordial, o TODO sublime e não-revelado, que existe por si mesmo. No

PANTEÃO HINDUCALDAICOOFITA
Brahman-DyausIlu, o Ain Soph cabalísticoo Sem Nome, ou o Nome Secreto.

(N.C. Sobre o assunto ver Etimologia de IAO cap. VII).

 

Quando o Eterno desperta do seu sono e deseja manifestar-se, divide-se em macho e fêmea. Torna-se então em cada um dos sistemas:

A DIVINDADE DE DUPLO SEXO, o Pai e a Mãe universais.

NA ÍNDIANA CALDÉIANO SISTEMA OFITA

Brahmâ
Nâra (macho),
Nârî (fêmea).

Eikon ou Ain Soph.
Anu (macho,
Anata (fêmea).

Espírito Sem Nome
Abrasax (macho),
Bythos (fêmea).

 

Da união dos dois emana um terceiro, ou Princípio criativo - o FILHO, ou o Logos Manifesto, o Produto da Mente Divina.

NA ÍNDIANA CALDÉIANO SISTEMA OFITA
Virâj o FilhoBel, o FilhoOphis (outro nome de Ennoia), o Filho).

Além disso, cada um desses sistemas tem um Trindade masculina tríplice, procedendo cada uma por si mesma de uma Divindade feminina. Assim, por exemplo:

NA ÍNDIANA CALDÉIANO SISTEMA OFITA
A Trindade - Brahmâ, Vishnu, Shiva - em UM, que é Brahma (gênero neutro), que cria e é criado pela Virgem Nârî (a Mãe de fecundidade perpétua).A Trindade - Anu, Bel, Hoa ( ou Sin, Samas, Bin) – que se reúne em UM que é Anu (de Sexo duplo) pela Virgem Mylitta.A Trindade formada pelo Mistério chamado Sigê, Bythos, Ennoia. Eles se tornam UM, que é Abrasax, da Virgem Sophia (ou Pneuma), que é uma emanação de Buthos e do deus-Mistério e que por meio deles faz emanar Cristos.

Para deixá-lo mais claro, o Sistema Babilônico reconhece em primeiro lugar - o Um (Ad, ou Ad-ad), que nunca é nomeado, porém que é reconhecido em pensamento como o Svayambhû hindu. A partir daí ele se manifesta como Anu ou Ana - o único acima de tudo - Monas. Depois vem o Demiurgo chamado Bel ou El, que é o poder ativo da Divindade. O terceiro é o princípio da Sabedoria, Hea ou Hoa que também governa o mar e o mundo inferior. Cada um deles tem sua esposa divina - Anata, Belita e Davkina. Elas, todavia, não são senão Saktis (energia feminina ativa dos deuses) e não são especialmente reconhecidas pelos teólogos. Mas o princípio feminino é designado por Mylitta, a Grande Mãe, também chamada Ishtar. Quanto aos três deuses masculinos, temos a Tríade ou Trimûrti, e, acrescentando-lhe Mylitta, o Arba ou Quaternário (a Tetraktys de Pitágoras), que aperfeiçoa e potencializa tudo. Assim, temos os modos de expressão indicados acima. O diagrama caldaico que segue pode servir como ilustração para todos os outros:

TRÍADAAnu,
Bel,
Hoa,
Mylitta-Arba-il,
ou
Deus quaternário

torna-se, entre os cristãos:

 

TRINDADEDeus o Pai,
Deus o Filho,
Deus o Espírito Santo,
Maria, ou mãe desses três Deuses,
dado que são apenas um,
ou a Tetraktys celestial cristã.

 

Em conseqüência, Hebron, a cidade dos kabiri, era chamada Kiryath-Arba, cidade dos Quatro. Os kabiri eram Axieros, o nobre Eros, Axiokersos, o honorável ornado de chifres, Axiokersa, Deméter e Casmilos, Hoa, etc. (Kabiri, Axiokersa, são Divindades e deuses "os poderosos").

O dez pitagóricos denota o Arba-il ou o Quaternário Divino, emblematizado pelo linga (Um signo ou símbolo de criação abstrata. A Força converte-se no órgão de procriação masculino apenas nesta Terra.) hindu: Anu, 1; Bel, 2; Hoa, 3, que fazem 6. A Tríade e Mylitta, representando 4, perfazem dos Dez.

Embora seja chamado de "Homem Primitivo", Ennoia, que é, como Pimandro egípcio, o "Poder do Pensamento Divino", a primeira manifestação inteligível do Espírito Divino em forma material, ele é como o Filho "Unigênito" do "Pai Desconhecido" de todas as outras nações. Ele é o emblema da primeira aparição da Presença Divina em suas próprias obras de Criação, tangível e visível, e em conseqüência, compreensível. O Deus-mistério, ou a Divindade nunca-revelada, fecunda por meio da Sua Vontade Bythos, a profundidade insondável e infinita que existe no silêncio (Sigê) e na escuridão (para o nosso intelecto) e que representa a idéia abstrata de toda a natureza, o Cosmos eternamente produtivo. (Bythos termo gnóstico que significa "Profundidade" ou "grande abismo", Caos. Equivalente a "espaço", antes que nele se tenha formado alguma coisa a partir dos átomos primordiais, que existem eternamente em suas profundezas, segundo os ensinamentos de Ocultismo.) Como nem o princípio masculino nem o feminino, reunidos na idéia de uma Divindade bissexual nas concepções antigas; podiam ser compreendidos por um intelecto humano comum, a teologia de cada povo de criar, para a sua religião, um Logos ou palavra manifesta, de uma ou de outra forma. Para os ofitas e outros gnósticos, que extraíram os seus modelos diretamente de originais mais antigos, o Bythos não-revelado e sua contrapartida masculina produziram Ennoia e os três, por sua vez, produziram Sophia, completando assim a Tetraktys, que fará emanar o Cristos, a essência mesma do Espírito do Pai. Sob o aspeto do Um não-revelado, ou Logos oculto em seu estado latente, ele existiu por todo o sempre no Arba-il, a abstração metafísica; portanto, ele é UM com os outros enquanto unidade, recebendo estes últimos (e todos eles), indiferentemente, os nomes de Ennoia, Sigê (silêncio), Bythos, etc. Sob seu aspeto revelado, ELE é Andrógino: Cristos e Sophia (Sabedoria Divina), que originam o homem Jesus. Irineu demonstra que ambos, Pai e Filho, amaram a beleza (formam) da mulher primitiva, que é Bythos - Profundidade - e também Sophia, e que, por sua vez, produziu conjuntamente Ophis e Sophia (de novo uma unidade bissexuada), sabedoria masculina e feminina, das quais uma é o Espírito Santo não - revelado, ou antiga Sophia - o Pneuma - a "Mãe (intelectual) de todas as coisas"; a outra, a revelada, ou Ophis, representa a sabedoria divina que desceu à matéria, ou Deus-homem-Jesus, que os ofitas gnósticos representavam por uma serpente (Ophis).

Fecundada pela Luz Divina do Pai e do Filho, o espírito supremo e Ennoia, Sophia produz por sua vez duas outras emanações - um Chistos perfeito, a segunda Sophia-Akhamôth imperfeita a partir da hokhmôth (sabedoria simples), que se torna a mediadora entre os mundos intelectuais e material.

Cristos era o mediador e o guia entre Deus (o Supremo) e tudo o que de espiritual havia no homem; Akhamôth - a Sophia mais jovem - exercia a mesma função entre o "Homem Primitivo", Ennoia, e a matéria. Já explicamos o que havia de misterioso no significado do termos geral Cristos.

No sistema ofita, Sophia, a Sabedoria Andrógina, também é o espírito feminino, ou a fêmea hindu Nârî (Nârâyana), movendo-se na superfície das águas - o caos, ou a matéria futura. Ela a vivifica à distância, mas não toca o abismo das trevas. É incapaz de fazê-lo, pois a Sabedoria é puramente intelectual e não pode agir diretamente sobre a matéria. Portanto, Sophia é obrigada a recorrer a seu Parente Supremo, mas, embora a vida proceda em primeiro lugar da Causa Inobservada e de seu Ennoia, nenhum deles pode, mais do que ela, ter algo em comum com o caos inferior em que a matéria assume sua forma definitiva. Assim, Sophia é obrigada a empregar nessa tarefa a sua emanação imperfeita, que é de natureza mista, metade espiritual e metade material.

A única diferença entre a cosmogonia ofita e a dos nazarenos de São João é uma troca de nomes. Encontramos um sistema idêntico na Cabala, no Livro do mistério (Liber misterii). Esses três sistemas, especialmente o dos cabalistas e dos nazarenos, que foram os modelos para a cosmogonia ofita, pertencem ao gnosticismo oriental puro. O Codex nazaraeus começa da seguinte maneira: "O Supremo Rei da Luz, Mano, o primeiro grande UM", etc., sendo este último a emanação de Ferho - a VIDA desconhecida, sem forma. Ele é o chefe dos Eons, dos quais procedem (ou se originam) cinco raios refulgentes de luz Divina. Mano é o Rex Lucis, o Bythos-Enoia dos ofitas. Ele é a Lua Manifesta que rodeia a mais elevada das três cabeças revelando, Cristos o "Apóstolo Gabriel" e o primeiro Legado ou mensageiro da luz. Se Bythos e Ennoia são o nazareno Mano, então a Akhamôth de natureza dupla, semi-espiritual e semimaterial, deve ser Pthahil, considerada segundo seu aspeto espiritual; mas, se a consideramos conforme sua natureza grosseira, é o "Spiritus" dos nazarenos.

Pthahil, que é o reflexo do seu pai, o Senhor Abathur, a terceira vida - assim como a Sophia primogênita é também a terceira emanação -, é o "homem mais novo". Apercebendo-se dos seus vãos esforços para criar um mundo material perfeito, o "Espiritus" chama em sua ajuda uma das sua progenitoras, o Karabtanos-Ialdabaôth (O espírito do desejo cego ou animal; símbolo do Kâma-rûpa. Espírito "sem sentido ou juízo".), que não tem razão nem judiciosidade ("matéria cega"), para se unir a ela para criar algo de definitivo com essa matéria confusa (turbulentos), tarefa que ela só é capaz de realizar depois de ter produzido, com esta união com Karabtanos, as sete estrelas. Como os seis filhos ou gênios do Ialdabaôth gnósticos, eles produzem então o mundo material. A mesma história se repete com relação a Sophia-Akhamôth. Enviada por seu parente puramente espiritual, a Sophia primordial, para criar o mundo de formas visíveis, desceu ao caos e, dominada pela emanação da matéria, perdeu o seu caminho. Todavia, ambiciosa para criar um mundo de matéria-prima para si, ela se ocupou em flutuar daqui para ali sobre o abismo negro e deu vida e movimento aos elementos inertes, até que, irremediavelmente emaranhada na matéria, como Pthahil, ela é representada sentada imersa no lodo e incapaz de dele se safar; mas, pelo contato com a própria matéria, ela produz o Criador do mundo material. Ele é o Demiurgo, chamado pelos ofitas de Ialdabaôth, e, como mostraremos, o pai do Deus judaico na opinião de algumas seitas e na de outras, o Próprio "Senhor Deus". É neste ponto da cosmogonia cabalístico-gnóstica que começa a Bíblia mosaica. Tendo aceitado o Velho Testamento judaico como seu modelo, não espanta que os cristãos fossem forçados, pela posição excepcional em que foram colocados por sua própria ignorância, a extrair dele o melhor que pudessem.

Outras páginas interessantes: