“Existe apenas uma luz e existe apenas uma escuridão” diz o provérbio siamês. Daemon est Deus inversus, o Diabo é a sombra de Deus, afirma o axioma cabalístico universal. A luz poderia existir se não fosse pela escuridão primordial? E o brilhante universo ensolarado não estirou pela primeira vez os seus braços infantis a partir dos cueiros da escuridão e do caos lúgubre? Se a “plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos” do Cristianismo é uma revelação, devemos então admitir que, se existe um diabo, ele deve ser incluído nesta plenitude e ser uma parte daquilo que “preenche tudo em todos”. Desde tempos imemoriais, foi tentada a justificação da Divindade e a Sua separação do mal existente, e o objetivo foi alcançado pela Filosofia Oriental antiga com a fundação da theodikê; mas as suas idéias metafísicas sobre o espírito caído nunca foram desfiguradas pela criação duma personalidade antropomórfica do Diabo, como foi feito posteriormente pelas luzes diretoras da teologia cristã. Um demônio pessoal, que se opõe à Divindade e impede o progresso no seu caminho em direção à perfeição, só deve ser buscado na Terra no seio da Humanidade, não no céu.
É assim que todos os movimentos religiosos da Antiguidade, sem distinção de país ou clima, são a expressão dos mesmos pensamentos idênticos, cuja chave está na doutrina esotérica. Seria útil, sem estudar esta última, procurar confundir os mistérios ocultados durante séculos nos templos e nas ruínas do Egito e da Assíria, ou nos da América Central, da Colúmbia Britânica ou de Nagkon-Vat, no Camboja. Se cada um deles foi construído por uma nação diferente e se nem essa nação manteve relações com as outras durante séculos - também é certo que todos eles foram planejados e construídos sob a supervisão dos sacerdotes. E o clero de cada nação, embora praticasse ritos e cerimônias que podem ter diferido externamente, foi evidentemente iniciado nos mesmos mistérios tradicionais que foram ensinados em todo o mundo.
Desafiando a mão do Tempo, a vã pesquisa da ciência profana e os insultos das religiões reveladas desvendarão os seus enigmas a apenas alguns dos legatários daqueles aos quais foi confiado o MISTÉRIO. Os lábios frios e pétreos da uma vez oral Memnon e daquelas esfinges intrépidas mantêm os seus segredos bem guardados. Quem os deslacrará? Qual dos nossos anões materialistas modernos e dos nossos saduceus incrédulos ousará erguer o VÉU DE ÍSIS?