A identidade perfeita dos ritos, das cerimônias e das tradições, e mesmo dos nomes das divindades, entre os mexicanos e os babilônios e os egípcios antigos, é uma prova suficiente de que a América do Sul foi povoada por uma colônia que abriu caminho misteriosamente através do Atlântico. Quando? Em que período? A História silencia-se a esse respeito; mas aqueles que consideram que não existe tradição, santificada pelos séculos, que não tenha um determinado sedimento de verdade no seu centro, acreditam na lenda da Atlântida. Há, espalhado pelo mundo, um punhado de estudiosos refletidos e solitários que passam as suas vidas na obscuridade, longe dos rumos do mundo, estudando os grandes problemas dos universos físico e espiritual. Eles têm os seus registros secretos em que estão preservados os frutos dos labores escolásticos da longa linha de reclusos de que eles são os sucessores. O conhecimento dos seus ancestrais primitivos, os sábios da Índia, da Babilônia, de Nínive e da Tebas imperial; as lendas e as tradições comentadas pelos mestres de Solon, de Pitágoras e de Platão, nos saguões de mármore de Heliópolis e de Saïs; tradições que, em sua época, já pareciam brilhar com luz vacilante por entre a cortina de fumaça do passado - tudo isso, e muito mais, está registrado num pergaminho indestrutível e passado com cuidado ciumento de um adepto a outro. Esses homens acreditam que a história da Atlântida não é uma fábula, mas argumentam que em épocas diferentes do passado ilhas imensas, e até continentes, existiram onde agora está um selvagem ermo de águas. Nos seus templos e bibliotecas submersos um arqueólogo encontraria, pudesse ele explorá-los, material suficiente para preencher as lacunas que agora existem naquilo que ele imagina ser a história. Eles dizem que numa época remota um viajante poderia atravessar o que é agora o Oceano Atlântico, apesar da distância que separa as terras, cruzando com barcos e de lado a outro por estreitos apertados que então existiam.
A nossa suspeita quanto ao relacionamento entre as raças cisatlânticas e transatlânticas é fortalecida pela leitura das maravilhas executadas por Quetzalcohuatl, o mágico mexicano. O seu cetro deve estar intimamente relacionado ao tradicional bastão de safira de Moisés, bastão que floresceu no jardim de Raquel-
Jethro, seu sogro, e sobre o qual estava gravado o nome inefável. Os “quatro homens” descritos como os quatro ancestrais reais da raça humana - “que não foram gerados pelos deuses, nem nascidos de mulher”, mas cuja “criação foi uma maravilha realizada pelo Criador”, e que foram feitos depois que falharam três tentativas de manufatura de homens - apresentam igualmente alguns pontos extraordinários de similaridade com as explanações exotéricas dos herméticos; eles também lembram inegavelmente os quatro filhos do Deus da teogonia egípcia. Além disso, como se poderia inferir, a semelhança desse mito com a narrativa relatada no Gênese parecerá evidente mesmo para um observador superficial. Esses quatro ancestrais “podiam raciocinar e falar, sua intuição era ilimitada e conheciam todas as coisas ao mesmo tempo. Quando eles renderam graças ao seu Criador por suas existências, os deuses se assustaram e sopraram sobre os olhos dos homens uma nuvem que só podiam ver a certa distância e não eram os próprios deuses”. Isso nos leva diretamente ao versículo do Gênese [III, 22]: “Veja! o homem se tornou como um de nós para conhecer o bem e o mal; e agora, que ofereça a sua mão, e tome também da árvore da vida”, etc. E, novamente, “enquanto eles dormiam Deus lhes deu esposas”, etc.
“Os quatro ancestrais da raça”, acrescenta Max Müller, “parecem ter tido uma vida longa, e quando, finalmente, morreram, eles desapareceram de maneira misteriosa e legaram aos seus filhos o que se chama de Majestade Oculta, que nunca devia ser revelada por mãos humanas. Não sabemos o que fosse isso.”
Se não existe nenhum relacionamento entre essa “Majestade Oculta” e a glória oculta da Cabala caldaica, de que se diz ter sido deixada por trás por Henoc quando este foi convertido de maneira tão misteriosa, então não devemos acreditar em nenhuma prova circunstancial. Mas não seria possível que esses “quatro anscestrais” da raça quíchua tipicamente em seu sentido esotérico os quatro progenitores sucessivos dos homens, mencionados no Gênese, I, II e VI? No primeiro capítulo, o primeiro homem é bissexual - “macho e fêmea os criou”- e corresponde às divindades herméticas das mitologias posteriores; o segundo, Adão, feito da “poeira do chão” e unissexual, corresponde aos “filhos de Deus” do cap. VI; o terceiro, os gigantes, ou Nephilim, que são apenas sugeridos na Bíblia, mas extensamente explicados em outro lugar; o quarto, os pais dos homens “cujas filhas eram louras”.