O Mistério da Eucaristia

Enviado por Estante Virtual em qui, 22/11/2012 - 20:53

O misterio da Eucaristia nao e tambem propriedade exclusiva dos cristaos. Godfrey Higgins prova que ele foi instituido muitas centenas de anos da "Ceia Pascal", e diz que "o sacrificio do pao e do vinho era comum a muitas nacoes antigas". Cicero menciona-o em suas obras, e surpreende-se com a estranheza do rito. Um significado esoterico se lhe associou desde o inicio do estabelecimento dos misterios, e a Eucaristia e um dos ritos mais antigos. Entre os hierofantes, ela tinha quase que o mesmo significado que para os cristaos. Ceres era o pao, e Baco era o vinho; o primeiro significava a regeneracao da vida a partir da semente, e o segundo - a uva - o emblema da sabedoria e do conhecimentos; a acumulacao do espirito das coisas, e a fermentacao e a consequente forca desse conhecimento esoterico, juntamente, simbolizadas pelo vinho. O misterio relacionava-se com o drama do Eden. Afirma-se que ele foi ensinado pela primeira vez por Jano, que foi tambem o primeiro a introduzir nos templos os sacrificios do "pao" e do "vinho", em comemoracao a "queda na geracao" sob o simbolo da "semente". "Sou a verdadeira vinha, e meu Pai e o vinhateiro", diz Jesus [Joao, XV, 1], aludindo ao conhecimento secreto que podia comunicar. "Nao mais beberei o fruto da vinha, ate aquele dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus" [Marcos, XIV, 25].

 
O festival dos misterios eleusianos tinha inicio no mes de Boedromion, que corresponde ao mes de setembro, o templo da vindima, e se estendia do 15o ao 22o dia do mes, isto e, por sete dias. O festival hebreu da Festa dos Tabernaculos comecava no 15o dia e terminava no 22o dia do mes de Ethanim (outubro) que Dunlap mostra derivar de Adonim, Adonia, Attenim, Ethanim; e essa festa e chamada no Exodo (XXIII, 16) de festa da colheita. "Todos os homens de Israel se reuniram junto do rei Salomao, no mes de Ethanim, durante a festa, que e o setimo mes".
 
Plutarco pensa que as festas das tendas sejam tiros baquicos, nao eleusinos. Assim "evocava-se diretamente a Baco", diz ele. O culto Sabaziano era sabatico; os nomes Evius, ou Hevius, e Luaios sao identicos a Hivita e Levita. O nome frances Louis provem do hebraico Levi; Iacchus e Iao ou Jeova; e Baal ou Adon, como Baco, era um deus falico. "Quem pode subir a montanha [o lugar elevado] do Senhor?", pergunta o santo rei Davi, "quem pode ficar de pe no lugar de seu Kadesh?" (Salmos, XXIV, 3). Kadesh pode significar, num sentido, consagrar, venerar, sacrificar, e tambem iniciar ou por de lado; mas tambem significa o ministerio de ritos lascivos (o culto de Venus) e a verdadeira interpretacao da palavra Kadesh e claramente traduzida em Deuteronomio, XXIII, 17; Oseias, IV, 14; e Genese, XXXVIII, do versiculo 15 ao 22. Os "santos" Kadeshuth da Biblia eram identicos, no que diz respeito aos deveres de seu oficio, as donzelas Nautch dos pagodes hindus mais recentes. Os Kadeshim hebraicos ou galli viviam "no Templo do Senhor, onde as mulheres teciam veus para o bosquete", ou busto de Venus-Astarte, diz o setimo verso do capitulo 23 de II Reis.
 
A danca executada por Davi ao redor da arca era a "danca circular" que teria sido prescrita pelas amazonas para os misterios. Tal era a danca das filhas de Shioh (Juizes, XXI, 21, 23 et passim), e a dos profetas de Baal (I Reis, XVII, 26). Trata-se simplesmente de uma caracteristica do culto sabeu, pois denotava o movimento dos planetas em torno do Sol. Que a danca era um frenesi baquico, nao resta duvida. O sistro era utilizado nessa ocasiao, e o motejo de Micol e a resposta do rei sao muito expressivas. "O rei de Israel se fez louvar hoje, descobrindo-se na presenca das servas como se descobriria um homem de nada". E Davi respondeu: E diante do Senhor, que eu danco [ou ajo luxuriantemente], e ainda me humilharei". Quando lembramos que Davi esteve entre os tirios e os filisteus, onde esses ritos eram comuns; e que ele arrebatou essa terra da casa de Saul, com a ajuda de mercenarios de seus pais, a aceitacao e talvez a introducao de tal culto pagao pelo fragil "salmista" parece muito natural. Davi nada sabia de Moises, ao que parece, e, se ele introduziu o culto de Jeova, nao o fez em seu carater monoteista, mas simplesmente no de muito deuses das nacoes vizinhas - uma divindade tutelar a quem deu preferencia, e a quem escolheu dentre "todos os outros deuses".
 
Seguindo em sua ordem o estudo dos dogmas cristaos, se concentramos nossa atencao naquele que provocou as lutas ferozes ate o seu reconhecimento, o dogma da Trindade, o que encontramos? Encontramo-lo, como ja se mostrou, a Nordeste do Indo; e remontando a Asia Menor e a Europa, reconhecemo-lo em varios povos que nada tinham de algo como uma religiao estabelecida. As mais antigas escolas caldaicas, egipcias e mitraicas o ensinavam. O deus solar caldeu, Mitha, era chamado de "Triplo", e a ideia trinitaria dos caldeus era uma doutrina dos acadios, que pertenciam a uma raca que foi a primeira a conceber uma Trindade metafisica. Os caldeus eram uma tribo dos acadios - de acordo com Rawlinson - que viviam na Babilonia desde tempos ancestrais. Eram os turanios, segundo outros, e instruiram os babilonios nas primeiras nocoes religiosas. Mas esses acadios, quem eram eles? Os cientistas que lhes conferem uma origem turaniana fazem-nos os inventores dos caracteres cuneiformes; outros os chamam de sumerianos; outros, ainda, chamam suas linguas, da qual (por muito boas razoes) nao subsiste nenhum vestigio, de casdeanas, caldaicas, protocaldaicas, casco-citicas, e assim por diante. A unica tradicao digna de credito e que esses acadios instruiram os babilonios nos misterios, e lhes ensinaram a lingua sacerdotal ou dos misterios. Esses acadios eram tao simplesmente uma tribo dos bramanes hindus, agora chamados de arianos - e sua lingua vernacular o sanscrito (Lembramos a esse respeito que o Cel. Vans Kennedy ha muito externou sua opiniao de que a Babilonia fora, outrora, sede da lingua sanscrita e da influencia bramanica.) dos Vedas; e a lingua sagrada ou dos misterios, aquela que, mesmo em nosso proprio seculo, e utilizado pelos faquires hindus e pelos bramanes iniciados em suas evocacoes magicas. Essa lingua tem sido empregada desde tempos imemoriais, e ainda o e pelos iniciados de todos os paises, e os lamas tibetanos afirmam que e nesse idioma que surgem os misteriosos caracteres sobre as folhas e o cortex do Kumbum sagrado.
 
Jacolliot, que se deu ao trabalho de penetrar nos misterios da iniciacao bramanica traduzindo e comentando a Agrushada-Parikshai, confessa o seguinte:
 
"Pretende-se tambem, sem que tenhamos podido verificar a afirmativa, que as evocacoes magicas eram pronunciadas numa lingua particular, e que era proibido, sob pena de morte, traduzi-las nos dialetos vulgares. As raras expressoes que fomos capazes de reter, como - L'rhom, h'hom, sh'hrum, sho'rhim, sao fato muito curiosas, e nao parecem pertencer a qualquer idioma conhecido".
 
Todo aquele que viu um faquir ou um lama recitando seus Mantras e suas conjuracoes sabe que ele jamais pronuncia as palavras de modo audivel quando se dispoe a realizar algum fenomeno. Seus labio se movem, e ninguem jamais ouvira a terrivel formula pronunciada, exceto no interior dos templos, e mesmo ai
em cauteloso sussurro. Essa era entao a lingua agora batizada respetivamente por todos os cientistas, e, de acordo com suas propensoes imaginativas e filologicas, de casdo-semitica, citicas, protocladaicas, etc.
 
No Livro de Hermes, expoe "Poimandres" todo o dogma da Trindade aceito pelos cristaos enunciado em sentencas distintas e inequivocas. "A luz sou eu", diz Poimandres, o PENSAMENTO DIVINO. "Sou o Nous ou inteligencia, e sou teu Deus, mais antigo do que o Principio Humano que escapa das Trevas. Sou o Germe do Pensamento, a PALAVRA resplendente, o FILHO de Deus. Sabe que o que assim ves e ouves em Ti e o Verbum do Mestre, e o Pensamento, que e Deus, o Pai (...) O oceano celestial, o ETER, que flui de leste a oeste, e o Sopro do Pai, o Principio dador da vida, o ESPIRITO SANTO!" "Pois eles nao estao separados, e sua uniao e VIDA."
 
Por mais antiga que possa ser a origem de Hermes, perdidos nos desconhecidos dias da colonizacao egipcia, existe no entanto uma profecia muito antiga, relacionada, segundo os bramanes, diretamente ao Krishna hindu. E de fato estranho, para dizer o mesmo, que os cristaos pretendam basear sua religiao numa profecia da Biblia, que nao existe em nenhum lugar nesse livro. Em que capitulo ou verso prometeu Jeova, o "Senhor Deus", enviar a Adao e Eva um Redentor que viria salvar a Humanidade? "Porei uma hostilidade entre ti e a mulher", diz o Senhor Deus a serpente, "e entre tua linhagem e a dela; ela te esmagara a cabeca e tu lhe ferira o calcanhar".
 
Nessas palavras, nao ha a menor alusao a um Redentor, e a mais sutil das inteligencias nao poderia extrair delas, tal como figuram no terceiro capitulo da Genese, qualquer referencia aquilo que os cristaos pretendem encontrar. Por outro lado, nas tradicao e no Livro de Manu, Brahma promete diretamente ao primeiro casal enviar-lhes o caminho da salvacao.
 
"E dos labios de um mensageiro de Brahma, que nascera em Kurukshetra, Matsyam e na terra de Panchala, tambem chamada Kanya-Kuba [montanha da Virgem], que todos os homens da Terra aprenderao seu dever", diz Manu (Livro II, slokas 19 e 20).
 
Os mexicanos chamam o Pai de sua Trindade de Izamna, o Filho, Bacab, e o Espirito Santo, de Echuak, "e dizem que a receberam [a doutrina] de seus ancestrais". Entre as nacoes semitas, podemos remontar a Trindade aos dias pre-historicos do fabuloso Sesostris, que e identificado por mais de um critico com Nimrod, "o poderoso cacador". Manetho faz o oraculo recriminar o rei, e este pergunta em seguida: "Diz-me o forte no fogo, quem, mais do que eu, poderia subjugar todas as coisas? E quem, depois de mim?" E o oraculo disse: "Em primeiro lugar, Deus, logo o Verbo, e, depois, o Espirito".

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