A maneira de obter oráculos foi praticamente desde a mais alta Antigüidade. Na Índia, essa sublime letargia é chamada "o sono sagrado de ***. Trata-se de um esquecimento em que o paciente é dirigido por determinados processos mágicos, suplementares por goles de suco de soma. O corpo do que dorme permanece durante muitos dias num estado que se assemelha à morte, e pelo poder do adepto é purificado da sua terrenalidade e preparado para tornar-se o receptáculo do esplendor do Augoeides imortal. Nesse estado, o corpo dorme reflete a glória das esferas superiores, como um espelho reflete os raios do Sol. O que dorme não tem consciência do tempo que passa, mas, ao despertar, após quatro ou cinco dias de transe, imagina que dormiu apenas momentos. Ele não se lembrará jamais do que os seus lábios proferiram; mas, como é o espírito que os dirige, eles só podem pronunciar a verdade divina. Durante um lapso de tempo, essa pobreza impotente se faz o escrínio da presença sagrada e converte-se num oráculo mil vezes mais infalível do que a pitonisa asfixiada de Delfos; e, diferentemente do seu frenesi mântico, que foi exibido à multidão, este sono sagrado é testemunhado apenas no recinto sagrado por aqueles poucos adeptos que são dignos de comparecer à presença do ADONAI.
A descrição que faz Isaías da purificação necessária a um profeta para que ele se torne digno de ser o porta-voz do céu aplica-se perfeitamente ao caso de que tratamos. Empregando uma metáfora que lhe era familiar, ele diz: "Um dos serafins voou para mim trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; e com ela tocou a minha boca e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada e purificado o teu pecado".