Simão, o mago discípulo da Samária

Enviado por Estante Virtual em sex, 23/11/2012 - 19:34

Simão, o Mago, era sem dúvida um discípulo dos tannaim da Samaria; a reputação que adquiriu com os seus prodígios, que lhe valeram o título de “o Grande Poder de Deus”, testemunha eloqüente em favor da habilidade dos seus mestres. As calúnias tão cuidadosamente disseminadas contra ele pelos autores e compiladores desconhecidos dos Atos e de outros escritos não podem danificar a verdade a ponto de ocultar o fato de que nenhum cristão podia rivalizar com ele em ações taumatúrgicas. É absolutamente ridícula a história de que ele, durante um vôo aéreo, teria caído e quebrado as pernas e cometido suicídio. Em vez de pedir mentalmente que isso acontecesse, por que os apóstolos não pediam que lhes fosse permitido superar Simão em maravilhas e milagres, para assim provarem facilmente a superioridade de seu poder e converterem milhões ao Cristianismo? A posteridade só ouviu um lado da história. Tivessem tido os discípulos de Simão uma única oportunidade, e acharíamos, talvez, que foi Pedro que quebrou as suas pernas, se não soubéssemos que esse apóstolo era prudente demais para se aventurar até Roma. Segundo a confissão de muitos escritores eclesiásticos, nenhum apóstolo operou essas “maravilhas sobrenaturais”. Naturalmente as pessoas piedosas dirão que isso prova precisamente que foi o “Diabo” que operou por intermédio de Simão.

Simão foi acusado de blasfêmia contra o Espírito Santo, porque o apresentou como o “Espírito Santo, a Mens (Inteligência) ou a mãe de tudo”. Mas encontramos a mesma expressão no Livro de Enoc, em que, em contraposição ao “Filho do Homem”, ele diz “Filho da Mulher”. No Codex dos nazarenos, e no Zohar, bem como nos Livros de Hermes, a expressão é usual; e até no apócrifo Evangelho dos Hebreus lemos que o próprio Jesus admitiu o sexo do Espírito Santo ao usar a expressão “Minha mãe, o Pneuma Santo”.

Como é possível, então, acusar Simão, o Mago, de ser ele um blasfemador, se ele apenas fez aquilo que a sua consciência invencivelmente lhe ordenou ser verdadeiro? E, em que aspecto os hereges, ou mesmo os infiéis da pior espécie, são mais repreensíveis do que os jesuítas - os de Caen, por exemplo - que dizem:

“(A religião cristã) é (...) evidentemente crível, mas não evidentemente verdadeira. Ela é evidentemente crível, pois é evidente que quem quer que a abrace é prudente. Ela não é evidentemente verdadeira, porque ou ela ensina obscuramente ou as coisas que ela ensina são obscuras. E aqueles que afirmam que a religião cristã é evidentemente verdadeira vêem-se obrigados a confessar que ela é evidentemente falsa (Posição 5).

“Donde se infere -

“1. Que não é evidente - que haja agora qualquer religião verdadeira no mundo.

“2. Que não é evidente - que, de todas as religiões existente sobre a terra, a religião católica seja a única verdadeira; viajastes por todos os países do mundo, ou conheceis as religiões que aí se professam? (..)

(......................................................................................................................................)

“4. Que não é evidente que as previsões dos profetas fossem fundadas por inspiração de Deus; pois que refutação faríeis contra mim, se nego que eram profecias verdadeiras, ou se afirmo que eram apenas conjecturas?

“5. Que não é evidente que os milagres eram reais, que foram elaborados por Cristo; embora ninguém possa prudentemente negá-los (Posição 6).

“Tampouco é necessária aos cristãos uma crença explícita em Jesus Cristo, na Trindade, em todos os Artigos de Fé e no Decálogo. A única crença explícita que era necessária aos últimos (os cristãos) é 1, Em Deus; 2, Em um Deus recompensador”(Posição 8).

A profecia de Hermes é menos equívoca do que as alegadas profecias de Isaias, que facilitaram um pretexto para que se qualificasse de demônios, os deuses de todas as nações. Mas os fatos são mais fortes, às vezes, do que a fé mais robusta. Tudo que os judeus aprenderam, eles o receberam de nações mais velhas que a deles. Os magos caldaicos foram os seus mestres na doutrina secreta e foi durante o cativeiro da Babilônia que aprenderam os preceitos, tanto metafísicos, quanto práticos. Plínio menciona três escolas de magos: uma fundada em uma época desconhecida; outra, estabelecida por Osthanes e Zoroastro; a terceira, por Moisés e Jennes. E todo o conhecimento possuído por essas escolas diferentes, fossem elas mágicas, egípcias ou judaicas, derivou da Índia, ou antes de ambos os lados do Himalaia. Mais do que um segredo perdido repousa sob as vastas extensões de areia do deserto de Gobi, no Turquestão Oriental e os sábios do Khotan preservam tradições estranhas e o conhecimento da Alquimia.

 

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