A insensibilidade do corpo humano ao impacto de golpes pesados e a resistência à penetração de instrumentos pontiagudos e de projeteis de arma de fogo são fenômenos bastante familiares à experiência de todos os tempos e países. Enquanto a Ciência é totalmente incapazes de dar-nos qualquer explicação razoável para o mistério, a questão não parece oferecer qualquer dificuldade aos mesmeristas, que estudaram tão bem as propriedades do fluído. O homem que com alguns poucos passes sobre um membro pode produzir uma paralisia local de modo a torná-lo completamente insensível a queimaduras, a cortes e a picadas de agulhas. Quantos aos adeptos da Magia, especialmente do Sião e das Índias Orientais, eles estão familiarizados demais com as propriedades do Âkasa, o misterioso fluído vital. O fluído astral pode ser comprimido sobre uma pessoa de modo a formar uma concha elástica, absolutamente impenetrável por qualquer objeto físico, por maior que seja a sua velocidade. Em resumo, este fluído pode igualar e mesmo ultrapassar em poder de resistência a água e o ar.
Na Índia, no Malabar, e em algumas regiões da África Central, os encantadores permitirão de bom grado a qualquer viajante que os alveje com seu fuzil ou revólver, sem tocar a arma ou selecionar as balas. Em Travels in Timmannee, Kooranko and Soolima Countries, de Laing, temos a descrição, feita por um viajante inglês - o primeiro homem branco a visitar tribos dos Soolimas, nas vizinhanças de Dialliba - de uma cena bastante curiosa. Um grupo de soldados escolhidos fez fogo contra um chefe que nada tinha para se defender senão alguns talismãs. Embora os seus fuzis estivessem convenientemente carregados e apontados, nenhuma bala o atingiu. Salverte narra um caso similar em sua Filosofia da Magia: "Em 1568, o príncipe de Orange condenou um prisioneiro espanhol a ser fuzilado em Juliers. Os soldados o amarraram numa árvore e o fuzilaram, mas ele era invulnerável. Os soldados então o despiram, para ver que armadura ele trajava, mas encontraram apenas um amuleto. Este lhe foi arrancado e ele tombou morto ao primeiro tiro".
Poucos anos atrás, vivia numa aldeia africana um abissínio que passava por ser um feiticeiro. Uma vez, alguns europeus, a caminho do Sudão, divertiram-se por uma ou duas horas alvejando-o com suas próprias pistolas e fuzis, um privilégio que ele lhes concedeu em troca de uma pequena contribuição. Um francês de nome Longlois fez fogo simultaneamente por cinco vezes, e as bocas das armas não estavam a mais de duas jardas do peito do feiticeiro. Em todas as vezes, simultaneamente à chama da detonação via-se a bala aparecer na boca da arma, tremer no ar e, então, depois de descrever uma pequena parábola, cair inofensivamente no solo. Um alemão do grupo, que estava em busca de penas de avestruz, ofereceu cinco francos ao mágico se ele lhe permitisse alvejá-lo com o fuzil tocando-lhe o corpo. O homem recusou em princípio; mas finalmente, depois de ter uma espécie de colóquio com alguém sob a terra, consentiu. O experimentador carregou cuidadosamente a arma e, pressionou a boca da arma contra o corpo do feiticeiro, depois de um momento de hesitação, atirou (...) o cano rebentou-se em fragmentos, assim como a coronha, e o homem saiu ileso.
Esse poder de invulnerabilidade pode ser concedido às pessoas pelos adeptos vivos e pelos espíritos. Em nosso próprio tempo, vários médiuns bem-conhecidos, na presença das mais respeitáveis testemunhas, não apenas seguraram pedaços de carvão e de fato colocaram seus rostos sobre o fogo sem chamuscar um cabelo.
Esse poder, que permite uma pessoa comprimir o Fluído Astral de modo a formar uma concha impenetrável sobre alguém, pode ser utilizado para dirigir, por assim dizer, um jato do fluído contra um dado objeto, com uma força fatal. Muitas vinganças tenebrosas foram praticadas dessa maneira; e em tais casos, os inquéritos dos magistrados jamais descobriram outra coisa que não uma morte súbita, conseqüência, aparentemente, de uma doença do coração, de um ataque apoplético, ou de alguma outra causa natural, mas não verdadeira.