Da Teosofia para as massas

Enviado por Estante Virtual em dom, 02/12/2012 - 20:56

P: Acredita que a Teosofia ajudaria a extirpar esses males, nas condições contrárias de nossa vida moderna?

T: Creio firmemente que poderíamos alcançá-lo, se tivéssemos mais recursos e tantos teósofos não precisassem trabalhar para ganhar o pão.

 

P: De que maneira? Pensa que poderiam plantar sua doutrina entre as massas ignorantes, sendo tão abstrata e difícil que somente pessoas instruídas podem compreendê-la?

T: Você se esquece de uma coisa, e é que precisamente sua tão decantada educação moderna é o que dificulta para vocês a compreensão da Teosofia. Vocês têm a mente tão cheia de sutilezas e preocupações intelectuais, que a intuição natural e percepção da verdade não podem funcionar. Para que o homem compreenda as verdades gerais de Karma e reencarnação, não é necessária a metafísica ou a cultura. Aí estão milhares de pobres e ignorantes buddhistas e hindus, para quem Karma e reencarnação são realidades, somente porque sua mente jamais foi forçada ou torcida por nenhum molde artificial. Nunca perverteu-se neles o inato sentimento de justiça humana, fazendo-os acreditar que todos os seus pecados seriam perdoados, por haver sido morto outro homem por eles. E note que os buddhistas vivem cumprindo suas crenças, sem proferir uma queixa contra Karma, ou o que consideram como justo castigo; enquanto a plebe cristã não cumpre seu ideal moral, nem aceita sua sorte com satisfação. Daí as queixas, o descontentamento e a intensidade da luta pela existência, nos países ocidentais.

 

P: Mas essa tão elogiada resignação mataria todo motivo de esforço e deferia o progresso.

T: E nós teósofos dizemos que esse progresso e civilização de que tanto se vangloriam não são mais que fogos-fátuos que flutuam em cima de um pântano, que exala miasmas envenenados e mortíferos. Porque vemos o egoísmo, o crime, a imoralidade e todos os males imagináveis, caindo sobre a desgraçada humanidade, ao sair dessa caixa de Pandora que chamam século do progresso, e aumentando pari passu com o desenvolvimento de sua civilização material. A este preço, mais vale a inércia e a inatividade dos países buddhistas, apenas conseqüências da escravidão política de muitos séculos.

 

P: Então, não tem importância toda essa metafísica e misticismo de que tanto se ocupam?

T: Não trazem grande conseqüência com relação às massas, que apenas necessitam uma direção e ajuda prática; mas são da maior importância para as pessoas cultas, chefes naturais dessas massas; para aquelas cujo modo de pensar e agir será cedo ou tarde adotado por essas mesmas massas.

Somente por meio da filosofia o homem inteligente e culto pode evitar o suicídio intelectual de acreditar baseado na fé cega; e apenas assimilando-se a estrita continuidade e a coerência lógica das doutrinas, se não esotéricas, pelo menos as orientais, pode compreender a verdade das mesmas. Da convicção nasce o entusiasmo; e o "entusiasmo -- diz Bulwer Litton -- é o gênio da sinceridade, sem o qual a verdade não alcança vitória alguma". Emerson, com muito acerto, diz que "todo movimento grande e imperioso nos anais do mundo, é o triunfo do entusiasmo". E para produzir semelhante sentimento aonde se encontrará uma filosofia tão sublime, tão estável, tão lógica e que de tal modo abranja tudo, como nossas doutrinas orientais?

 

P: Mas sem dúvida são muito numerosos seus inimigos, e cada dia a Teosofia encontra novos adversários.

T: Mas é precisamente o que prova sua excelência e valor intrínsecos. A pessoa somente odeia aquilo que teme, e ninguém se preocupa de jogar por terra o que não é uma ameaça nem se eleva por cima da mediocridade.

 

P: E espera algum dia comunicar esse entusiasmo às massas?

T: E por que não? Já que a história nos diz, que as massas adotaram com entusiasmo o buddhismo; já que -- como disse antes — o efeito prático desta filosofia de ética mostra-se nelas pela insignificância do número de crimes entre as populações buddhistas, segundo mostra a estatística quando se a compara com a de qualquer outra religião. O principal é esgotar a fonte abundantíssima de todo crime e imoralidade, ou seja, a crença de que alguém possa subtrair-se das conseqüências de seus próprios atos. Ensine-se a mais sublime de todas as leis — Karma e reencarnação — e as massas, além de sentirem a verdadeira dignidade da natureza humana, se afastarão do mal e fugirão dele, como o fariam de um perigo físico.

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