Ainda que ao Devacan ou Plano Mental se chame também Mundo Celeste, não se há de considerá-lo tão-só como o mundo em que têm realidade as idéias mais espirituais que sobre o céu mantêm as religiões confessionais, pois também, se tem de considerá-lo como um mundo, plano, nível, esfera ou região de nosso universo; como um mundo esplêndido de exuberante vida, onde podemos residir tanto agora como depois da vida astral, no intervalo entre duas encarnações.
Unicamente nosso escasso desenvolvimento, a limitação a que nos sujeita a vestimenta de carne, impede-nos de darmos conta de que o esplendor, a glória do céu, estão aqui e agora no mundo ao nosso redor, e que as influências dimanantes do mundo celeste atuariam em nós se fôssemos capazes de compreendê-las e recebê-las.
Por impossível que isto pareça ao profano, é a mais sensível realidade para os ocultistas, e àqueles que ainda não compreenderam esta verdade fundamental, repetiremos o conselho de Gautama, o Buda: "Não vos queixeis nem choreis nem supliqueis, e sim, abri os olhos e vede, porque a luz vos envolve e só vos falta arrancar a venda dos olhos e olhar. E algo admirável, formoso, superior a tudo quanto o homem sonhou, a tudo pelo que ele chorou e suplicou, e é, além disso, sempiterno".
É absolutamente necessário que o estudante de Teosofia compreenda a verdade capital de que em nosso universo há sete planos, mundos, níveis, esferas ou regiões, cada um com sua matéria peculiar de apropriado grau de densidade que interpenetra a matéria do plano contiguamente inferior (1). Portanto, as palavras "superior", "alto" e "baixo", com referência aos planos ou mundos de nosso universo, não denotam sua posição, pois que todos ocupam o mesmo espaço, senão tão-só indicam o maior ou menor grau de condensação de matéria primordial e sua diversa tônica de vibração.
Em conseqüência, quando dizemos que um indivíduo passa de um plano para outro, esse passo não significa nem o menor movimento no espaço, senão simplesmente uma mudança de foco de consciência. Porque cada ser humano tem em si mesmo matéria de cada um dos sete planos e um veículo ou corpo correspondente a cada um deles, por cujo meio pode atuar quando sabe manejá-lo. Assim é que a passagem de um plano para outro eqüivale a mudar de um veículo para outro o foco da consciência, e no atual estado evolutivo da massa geral da humanidade esta mudança se contrai ao uso dos veículos astral e mental, em lugar do físico.
Cada um destes corpos responde unicamente às vibrações da matéria de seu próprio plano, de sorte que quando a consciência está focalizada no corpo astral, só percebe o mundo astral, assim como quando se focalizam nele os veículos astral e mental em vez do físico, ainda que ambos os mundos, como todos, estejam sempre ativos ao nosso redor. Todos estes planos constituem um potente e vívido conjunto, embora nossas ainda débeis faculdades só nos permitam perceber simultaneamente uma parte muito pequena.
Ao considerar o tema de localização e interpenetração, devemos precavernos contra possíveis erros. Quanto aos três planos inferiores de nosso Sistema Solar, convém advertir que cada planeta ou globo físico tem também seus peculiares mundos astral e mental, de modo que os três se interpenetram dentro do campo de força de cada planeta, mas não se interpenetram com os mundos físico, astral e mental dos demais planetas.
Todavia, do plano búdico para cima todos os planos são comuns a todos os planetas do Sistema Solar. Porém, como cada plano se subdivide em sete subplanos, segundo o grau de sutileza de sua matéria, vemos que o subplano de matéria mais sutil estará constituído pelos átomos da matéria própria do plano, e a esse subplano se dá o nome de plano atômico. Pois bem, os sete subplanos atômicos dos sete planos de nosso Sistema Solar constituem separadamente dos outros seis subplanos de cada plano, o plano inferior (ou "prakrítico") dos ~ sete planos cósmicos. Assim, por exemplo, o éter interplanetário que enche todo espaço cósmico, e nos transmite as vibrações luminosas de longínquas estrelas, está constituído pelos átomos ultérrimos da matéria física, porém as modalidades mais densas e complexas do éter formam ao redor de cada planeta uma aura que se estende muito além de sua atmosfera meteorológica. O mesmo acontece com os planos astral e mental. O plano astral de nosso planeta interpenetra o globo terrestre e sua atmosfera, mas estende-se além de sua atmosfera, e por isso os filósofos gregos denominaram ao plano astral o mundo sublunar. O plano mental interpenetra o astral e estende-se mais além.
Unicamente a matéria atômica livre dos planos físico, astral e mental é coextensiva com o éter interplanetário, e portanto, um indivíduo não pode passar de um a outro planeta em corpo astral ou em corpo mental, como não pode passar em corpo físico. Mas pode fazê-lo em corpo causal altamente desenvolvido, conquanto não com tanta rapidez como em corpo búdico.
A clara compreensão destes fatos impedirá a confusão em que têm incorrido alguns estudantes, entre o plano mental correspondente ao planeta terrestre e os outros globos de nossa Cadeia, existentes no plano mental.
Os sete globos de nossa Cadeia Planetária são realmente globos que ocupam definidas e separadas posições no espaço, apesar de alguns deles não estarem no plano físico. Os globos A, B, F e G estão separados do nosso e um do outro, tanto como Marte está separado da Terra, com a única diferença que enquanto a Terra tem peculiares planos físico, astral e mental, os globos B e F estão no plano astral e os A e G no plano mental.
O plano astral que estudamos antes deste livro e o plano mental que agora vamos estudar são os peculiares da Terra e nada têm a ver com os demais planetas acima referidos.
O plano mental onde se manifesta a vida celeste é um dos cinco planos com que a humanidade está atualmente relacionada, pois os dois restantes e mais o sexto e o sétimo estão ainda muitíssimo longe do alcance humano. O plano mental tem por baixo os planos astral e físico, e por cima, os planos búdico e nirvânico. No plano mental permanece o homem a maior parte do tempo durante o transcurso de sua evolução, a menos que esteja sumamente atrasado. Em termo médio, a vida celeste dura vinte vezes mais que a mais longeva vida física. A duração é muito menor nos indivíduos escassamente evoluídos, enquanto que, ao contrário, nos muito evoluídos a vida celeste é trinta vezes mais longa que a física.
O plano mental é a peculiar e permanente morada do Ego, cujas descidas à encarnação são curtos ainda que importantíssimos episódios de sua carreira. Portanto, não serão tempo nem esforço perdidos os empregados em adquirir o maior conhecimento possível da vida celeste enquanto estivermos aprisionados no corpo físico.
Infelizmente tropeçamos com dificuldades quase insuperáveis na intenção de expressar na linguagem usual o que se refere ao plano mental, pois mesmo no plano físico as palavras são insuficientes para expressar nossas idéias e sentimentos. Recordemos que na obra O Plano Astral falamos da impossibilidade de transmitir um adequado conceito das maravilhas desse plano aos que ainda não deixaram o plano físico. Portanto, só podemos dizer que cada observação concernente ao plano astral se aplica com intensidade duplicada às observações que temos de fazer em relação ao plano mental. Não somente a matéria que vamos descrever é muitíssimo mais sutil do que a astral, senão que a consciência mental é imensamente mais ampla do que se pode imaginar no mundo físico, e suas condições são tão diferentes, que ao querer expressá-las em linguagem comum, o investigador se encontra completamente perdido e só pode esperar que a intuição dos leitores supra a inevitável deficiência da descrição.
Como exemplo de uma das muitas dificuldades, parece como se no plano mental não existisse espaço nem tempo, por que os acontecimentos que no plano físico se sucedem um após outro em lugares separados, ocorrem no mundo mental simultaneamente e no mesmo lugar. Tal é pelo menos o efeito produzido na consciência do Ego, embora existam circunstâncias favorecendo a suposição de que a absoluta simultaneidade é peculiar a um plano ainda mais sutil, e que no mundo celeste é tão rápida a sua sucessão que parece simultânea, de modo que parece descrever uma circunferência luminosa, senão que é uma ilusão ótica derivada de que a sensação visual no olho humano e dura um décimo de segundo.
De qualquer modo, o leitor compreenderá facilmente que ao descrever uma condição de existência tão por completo diferente da vida física, como é a que vamos considerar, não poderemos deixar de dizer muita coisa em parte ininteligível e em parte incrível para quem não tiver experimentado individualmente a vida superior. Isto é inevitável, e assim, os leitores que se sintam incapazes de aceitar as informações de nossas investigações, terão de esperar para receber mais fidedignas informações sobre o mundo celeste, para que possam observá-las e examiná-las por si mesmos.
Só me cabe repetir a segurança já dada ao tratar do plano astral, de que foram tomadas todas as precauções razoáveis para conseguir exatidão.
Neste caso, como naquele, podemos dizer que neste tratado não foi admitido nenhum fato novo nem velho que não fosse corroborado pelo testemunho de ao menos dois Mestres, hábeis investigadores independentes, e que tenham admitido por verdadeiros os veteranos ocultistas cujo conhecimento nestes pontos é necessariamente muito maior do que o nosso.
Por conseguinte, é de se esperar que se admita este relato como fidedigno, embora não se possa considerá-lo como completo.
Notas do capítulo