Condições da Vida Celeste

Enviado por Estante Virtual em qua, 14/12/2011 - 20:37

A realidade da vida celeste comparada com a terrena manifesta-se claramente ao considerar as condições requeridas por este alto estado de existência. As qualidades que o homem tem de atualizar durante a vida física para ter direito à celeste, são as que as figuras mais nobres e bondosas da humanidade têm assinalado sempre como real e permanentemente desejáveis. Para que uma aspiração ou um pensamento tenham existência no mundo celeste é indispensável que seu propósito seja totalmente inegoísta.

O amor à família, a amizade leal c a devoção religiosa são qualidades que levam um homem à vida celeste, embora se tenha de distinguir entre as duas variedades egoísta e inegoísta destas qualidades, pois as de índole egoísta não abrem as portas do mundo celeste.

O verdadeiro amor se derrama sobre o objeto amado sem esperança nem demanda de recompensa, nem o que ama pensa em si mesmo, e sim em tudo que pode fazer em bem do amado. Este sentimento amoroso gera uma força espiritual que só pode atuar no mundo celeste.

Mas existe outro amor em que o amante exige correspondência e deseja ser amado, que apaixonadamente pensa sempre no que pode dar, e tende a degenerar em ciúmes à menor provocação ou mesmo sem ela. As formas atualizadas por esta paixão amorosa nunca vão além do mundo astral.

O mesmo se pode dizer da falsa devoção religiosa de grande número de pessoas cujo único pensamento é a salvação de suas almas, sem lhes importar grande coisa a glória de sua divindade, o que denota não terem ainda o menor conceito de alma.

O verdadeiro devoto só pensa em venerar o objeto de sua devoção e mostrar-lhe sua gratidão com ardente desejo de fazer alguma boa obra em seu nome. Esta devoção conduz a uma dilatada e longa vida celeste, seja qual for o seu objeto; é assim que alcançam a vida superior os fiéis e inegoístas devotos de Buda, Krishna, Alá ou Cristo.

A duração e intensidade desta vida superior no mundo celeste dependerão da intensidade e pureza do sentimento devocional e não do objeto da devoção, embora esta última circunstância afete indubitavelmente a possibilidade de receber mais amplos ensinamentos durante a vida celeste.

Entretanto, na maioria dos casos, o amor humano, como a devoção humana, não são inteiramente puros nem completamente egoístas. O amor humano sempre pede correspondência, porém pode ter rasgos de abnegação, e uma nobre e pura devoção pode estar acompanhada de um débil sentimento egoísta ou de ciúmes. Em ambos os casos a lei de eterna justiça discerne infalivelmente, pois assim como o momentâneo rasgo de abnegação no homem pouco evoluído lhe proporcionará algo de vida celeste, assim a sombra de egoísmo que empane um puro sentimento terá sua força no mundo astral, mas não impedirá de todo a vida celeste.

A primeira entrada. Vejamos como o homem chega pela primeira vez à vida celeste. Do exposto se infere que os Egos em suas primeiras etapas de evolução não chegam ao mundo mental, e grande número dos um tanto mais adiantados só roça, por assim dizer, o subplano inferior do plano mental.

Todo indivíduo tem de retrair-se em seu verdadeiro ser no plano mental antes de se reencarnar; mas disso não se segue que nesta condição haja de ser consciente, e do mesmo modo temos dito que os Egos atrasados ou que começam a sua evolução não chegam ao plano mental.

Trataremos mais detidamente deste ponto ao estudar os subplanos arúpicos ou sem forma, pois parece melhor começar pelo subplano inferior rúpico ou com forma e proceder lentamente para cima, de sorte que podemos prescindir de momento da parte da humanidade cuja existência consciente depois da morte física se contrai ao mundo astral, e considerar o caso de uma entidade que pela primeira vez eleva sua consciência ao subplano inferior do mundo celeste.

Evidentemente há vários métodos de chegar a esta importante etapa do prematuro desenvolvimento do Ego; mas bastará para o nosso propósito citar o exemplo de uma entidade observada por nossos investigadores ao estudar esta questão. Era uma pobre costureira que vivia num tugúrio dos baixos bairros de Londres, onde escasseavam luz e ar.

Não estava a costureira muito altamente educada, porque sua vida havia transcorrido em penoso labor sob adversas condições; mas era amável, bondosa e derramava carinhosa simpatia em quantos com ela tratavam. Sua habitação era a mais pobre das que davam para aquele pátio de vizinhança, ainda que estava mais limpa e asseada que as outras. Não tinha dinheiro com que socorrer seus vizinhos em circunstâncias prementes, mas, em troca, distraía uns tantos minutos de seu labor para prestar cordialmente os serviços que lhe eram possíveis.

Com efeito, ela era uma providência para as rudes e ignorantes operárias da vizinhança, que a olhavam como um anjo de auxílio e misericórdia, sempre presente em casos de tribulação e de enfermidade. Amiúde, depois de trabalhar todo o dia sem ao menos um momento de descanso, levantava-se à meia-noite para alternar no cuidado de algum dos muitos enfermos que se achavam no insalubre e mórbido ambiente dos baixos bairros de Londres. E em muitos casos, a gratidão e o afeto que nos enfermos suscitava a incansável bondade da costureira eram os únicos sentimentos nobres de suas grosseiras e arrastadas vidas.

Tais como eram as condições de vida naquele pátio de vizinhança, não é estranho que morressem alguns enfermos, e então se notava que a costureira havia feito por eles mais do que sabia, pois não só lhes prestou auxílio em suas necessidades temporais, senão que impulsionou notavelmente a sua evolução espiritual, pois eram Egos muito pouco desenvolvidos, entidades de classe retardada, que ainda não haviam atualizado em nenhuma de suas encarnações a energia espiritual, única capaz de lhes dar existência consciente no plano mental. Mas pela primeira vez tinham diante de si um ideal ao qual podiam aspirar, e a influência da abnegada costureira lhes havia despertado um sentimento de amor inegoísta que aumentou sua individualidade e os capacitou para depois da vida astral adquirir sua primeira experiência no subplano inferior do mundo celeste.

Por certo foi essa uma experiência muito curta e de natureza não muito adiantada, mas de importância muitíssimo maior do que parece à primeira vista, porque, enquanto se atualiza a energia espiritual do inegoísmo, os resultados de sua atuação no mundo celeste a estimulam à repetição, e conquanto não seja muito caudaloso este primeiro influxo, estabelece no Ego o embrião de uma qualidade que seguramente se manifestará na próxima vida. Assim, a gentil benevolência de uma pobre costureira determinou que Egos menos adiantados alcançassem uma vida conscientemente espiritual que se irá enaltecendo encarnação após encarnação e reagirá cada vez mais nas futuras vidas terrenas.

Este incidente explica a circunstância de que iodas as religiões dêem tanta importância à virtude da caridade como direta relação entre benfeitor e beneficiado.

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