Clarividência Simples: Parcial

Enviado por Estante Virtual em dom, 22/01/2012 - 02:57

As experiências do clarividente sem instrução — e não se deve esquecer que a essa classe pertencem quase todos os clarividentes europeus — ficarão, porém, em geral, muito aquém do que tentei esboçar; ficarão aquém de muitas e diferentes maneiras — em grau, em variedade, em permanência, e. sobretudo em precisão. 

Casos há, por exemplo, em que a clarividência dum indivíduo será permanente, mas muito incompleta, abrangendo apenas uma ou duas classes dos fenômenos observáveis; ele encontrar-se-á possuindo um qualquer fragmento isolado de visão superior, sem aparentemente possuir outros poderes de visão que deviam normalmente acompanhar, ou mesmo preceder, tal fragmento. Por exemplo: um dos meus mais íntimos amigos teve sempre o poder de ver o éter atômico e a matéria astral atômica, e de reconhecer a sua estrutura, quer em plena luz, quer às escuras, como interpenetrando todas as outras cousas; e contudo raríssimas vezes tem conseguido ver entidades cujos corpos sejam compostos dos éteres inferiores, ou da mais densa matéria astral, aliás muito mais evidentes, ou, pelo menos, é com certeza incapaz de as ver permanentemente. Ele encontra-se simplesmente de posse desta faculdade especial, sem haver razão alguma que explique essa posse, ou relação recognoscível entre ela e outra cousa qualquer; e, além de lhe provar a existência destes planos atômicos e de lhe demonstrar a sua estrutura, é difícil calcular para que lhe serve atualmente tal faculdade. Seja como for, a faculdade aí está, e é prova de que cousas maiores se lhe seguirão — de poderes maiores que ainda esperam desenvolver-se. 

Há muitos casos semelhantes — semelhantes, quero dizer, não na posse daquela forma especial de visão (que é única na minha experiência), mas em revelar o desenvolvimento duma pequena parte da plena e nítida visão dos planos astral e etérico. Em nove casos em cada dez, porém, esta clarividência parcial carecerá, também, de precisão — isto é, haverá nela uma grande parte de impressões vagas e de meras deduções, em vez da nítida definição e clara certeza do indivíduo educado na clarividência. Exemplos deste tipo encontram-se freqüentemente, sobretudo entre aqueles que se reclamam como "clarividentes demonstrativos e profissionais". Há, também, os indivíduos que são apenas temporariamente clarividentes em certas condições especiais. Entre estes há várias subdivisões, porque há indivíduos que podem reproduzir, quando querem, o estado de clarividência mediante a reconstrução das mesmas condições, ao passo que há outros em quem ela se dá esporadicamente, sem referência palpável ao que os cerca, e ainda outros em quem a faculdade se revela apenas uma ou duas vezes em toda a vida. 

À primeira destas subdivisões pertencem aqueles que são clarividentes apenas quando em transe hipnótico, e que, quando não estão em tal transe, são totalmente incapazes de ver ou ouvir qualquer cousa de anormal. Estes podem por vezes atingir grandes alturas de conhecimento, e ser extraordinariamente precisos nas suas indicações, mas quando assim acontece é que, em geral, estão seguindo um curso regular de educação clarividente, ainda que, por uma razão qualquer, não possam por enquanto livrar-se sem auxílio do peso de vida terrena. 

Na mesma classe poderemos incluir aqueles — na sua maioria orientais — que adquirem uma visão temporária apenas pela influência de certas drogas, ou mediante a prática de certos processos. As vezes hipnotizam-se pela repetição do processo e nessa condição tornam-se até certo ponto clarividentes; as mais das vezes, porém, apenas se reduzem a uma condição passiva, na qual qualquer outra entidade os pode obcecar e falar através deles. Por vezes, ainda, as cerimônias ou ritos que empregam não visam de modo algum a afetarem-se a si próprios, mas apenas a invocar qualquer entidade astral que lhes dê a desejada informação; mas isso, é claro, não passa de um caso de magia, e não de clarividência. Tanto as drogas como os ritos são métodos que devem ser rigidamente afastados por quem quiser aproximar-se da clarividência pelo seu lado superior, e usá-la para seu progresso e para auxílio de outrem. Os bruxos da África Central e alguns dos shamans tártaros são bons exemplos deste tipo. 

Aqueles a quem certa dose de clarividência aconteceu apenas ocasionalmente, e sem relação alguma com os seus desejos, têm muitas vezes sido pessoas histéricas ou altamente nervosas, em quem esta faculdade era apenas, em grande parte, um dos sintomas de uma doença. O seu aparecimento mostrava que o instrumento físico estava a tal ponto enfraquecido que já não constituía sequer um obstáculo a um certo grau de visão astral ou etérica. Um exemplo extremo desta classe é o indivíduo que se alcooliza ao ponto de atingir o delirium tremens, e que, na condição de ruína física absoluta e impura excitação psíquica produzida pêlos estragos dessa terrível doença, se torna temporariamente capaz de ver algumas das hediondas entidades elementais e outras de que se cercou no longo decurso da sua bestial degradação. Há, porém, outros casos em que o poder de visão tem aparecido e desaparecido sem relação aparente com o estado da saúde física; mas o mais provável é que, mesmo nesses casos, se tivessem sido observados bem de perto, não teria sido impossível notar qualquer alteração na condição do duplo etérico. 

Aqueles que em toda a sua vida tiveram apenas um momento de clarividência são um grupo difícil de classificar cabalmente, por causa da grande diversidade das circunstâncias que para isso contribuíram. Há muitos deles em quem essa experiência se deu nalgum dos momentos culminantes da sua vida, quando se compreende bem que houvesse uma exaltação temporária das faculdades que bastasse para explicar esse poder. 

No caso de uma outra subdivisão destes, a experiência única consiste em ver uma aparição, que na maioria dos casos é de um parente ou amigo que está a morrer. Temos aqui que escolher entre duas possibilidades, e em qualquer delas o desejo forte do moribundo é a força impulsora. Essa força pode tê-lo tornado capaz de se materializar por um momento, e nesse caso não seria precisa clarividência para o ver; ou, com maior probabilidade, pode ter agido hipnoticamente sobre o percipiente, momentaneamente apagando a sua sensibilidade física e estimulando a sua sensibilidade superior. Em qualquer dos casos a visão é o produto das circunstâncias, e não se repete simplesmente porque se não repetem as condições necessárias. 

Permanece, porém, um certo número de casos" insolúveis em que se trata de um caso único de indiscutível clarividência, tratando-se contudo de circunstâncias inteiramente triviais e sem importância. Acerca destes casos" só podemos formar hipóteses; as condições que os governam não pertencem evidentemente ao plano físico, e seria preciso que examinássemos separadamente cada caso antes que pudéssemos dar qualquer opinião segura sobre as suas causas. Nalguns deles resultou que se tratava de uma entidade astral que se estava esforçando por fazer uma comunicação, e não conseguia transmitir ao indivíduo senão um detalhe sem importância dessa comunicação — porque a parte essencial e útil não conseguia, por qualquer razão, entrar para a consciência desse indivíduo. Na investigação dos fenômenos da clarividência, todos estes tipos, e muitos outros, se encontrarão, e não faltarão alguns casos de simples alucinação, que terão de ser rigorosamente excluídos da lista de exemplos. O estudioso dum assunto destes precisa ter um fundo inesgotável de paciência e de perseverança, mas, se continuar com tenacidade, começará vagamente a perceber a ordem que existe por detrás do caos, e pouco a pouco irá tendo alguma noção das grandes leis pelas quais toda a evolução se rege. 

Muito o auxiliará nesses estudos a adoção da ordem que acabamos de seguir — isto é, se começar por se tornar conhecedor, tanto quanto lhe seja possível, dos fatos verdadeiros com respeito aos planos de que a clarividência vulgar trata. Se aprender o que se pode realmente ver com a visão .sutil e etérica, e quais são as suas respectivas limitações, então terá, por assim dizer, uma bitola pela qual ajuíze dos casos que observar. Visto que todos os casos de visão parcial devem necessariamente entrar para qualquer escaninho desta classificação, o estudioso, se tiver sempre presente a linha geral do esquema, verá que lhe é relativamente fácil, com alguma prática, classificar os casos que venha a encontrar. Nada ainda dissemos quanto às possibilidades ainda mais maravilhosas da clarividência no plano mental, nem, na verdade, é preciso dizer muito a esse respeito, visto ser extremamente improvável que o investigador encontre casos desses, exceto entre alunos educados em qualquer das mais altas escolas de ocultismo. Para eles essa visão abre ainda um outro mundo, inteiramente novo, muito mais vasto do que todos os outros abaixo dele — um mundo onde tudo quanto podemos imaginar de glória e de esplendor supremos é apenas o vulgar e o normal da vida. Alguns detalhes a respeito desta maravilhosa faculdade, da felicidade espantosa que dá, das suas magníficas oportunidades para aprender e trabalhar, vêm no sexto dos nossos Manuais Teosóficos, que o estudioso deve consultar sobre este assunto. 

Tudo o que esse plano tem a dar — tudo, pelo menos, quanto ele pode assimilar — está ao alcance do aluno educado, mas que o clarividente sem educação o possa tocar, não passa da mais vaga das possibilidades. Tem-se feito isso em transe mesmérico, mas o caso é de uma raridade extrema, porque exige qualificações quase sobre-humanas no sentido de alta aspiração espiritual e absoluta pureza do pensamento e de intenção tanto da parte do hipnotizado como do hipnotizador. 

A um tipo de clarividência tal como este, e, ainda mais, àquele que pertence ao plano imediatamente superior, o nome de visão espiritual pode na verdade ser dado; e, visto que todo o mundo celestial, para o qual ele nos abre os olhos, nos cerca aqui e agora, é próprio que a nossa referência passageira lhe seja feita ao tratarmos da clarividência simples, ainda que se torne necessário tornar a aludir a esse poder quando tratarmos da clarividência no espaço, da qual passamos a falar. 

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