SIGNIFICADO DA PALAVRA
A palavra chakra é sânscrita, e significa roda. Também se usam várias acepções figuradas, incidentais e por extensão, como nas línguas ocidentais. Da mesma forma como falamos da roda do destino ou da fortuna, assim também os budistas falam da roda da vida e da morte, e designam com o nome de Dhammachakkappavattana Sutta(1) ao primeiro sermão em que o Senhor Buda pregou a Sua doutrina, nome esse que o professor Rhys Davids traduz poeticamente pela expressão: "por em marcha as rodas da regia carroça do Reino da justiça". Este é o exato significado da expressão para o budista devoto, ainda que a tradução literal das palavras seja "o giro da roda da Lei". O uso em acepção figurada da palavra chakra. de que tratamos neste momento, refere-se a uma série de vórtices semelhantes a rodas que existem na superfície do duplo etérico do homem.
EXPLICAÇÕES PRELIMINARES
Como possivelmente este livro cairá em mãos de pessoas não familiarizadas com a terminologia teosófica, não será demais uma explicação preliminar.
Nas conversações comuns e superficiais, o homem costuma falar de sua alma como se o corpo, por intermédio do qual ele fala, fosse o seu verdadeiro ser, e que a alma, uma propriedade ou feudo do corpo, algo semelhante a um globo cativo a flutuar sobre o corpo, a ele ligado de certo modo. Esta afirmação é vaga, inexata e errônea, pois a inversa é que é verdadeira. O homem é uma alma que possui um corpo, ou em realidade vários corpos, porque além do corpo visível, por cujo meio desenvolve seus negócios neste baixo mundo, tem outros corpos invisíveis à visão ordinária, com os quais se relaciona com os mundos emocional e mental. Contudo, por ora não trataremos desses outros corpos.
Durante o século passado houve um enorme avanço no conhecimento dos pormenores do corpo físico; e os fisiólogos estão agora familiarizados com as suas desconcertantes complexidades e têm, pelo menos, uma idéia geral de como funciona seu mecanismo assombrosamente intrincado.
O DUPLO ETÉRICO
Os fisiólogos têm limitado sua atenção à parte do corpo físico bastante densa para que a vejam os olhos, e a maioria deles desconhece provavelmente a existência daquele grau de matéria, também física, ainda que invisível, a que em Teosofia chamamos etérica(2). Esta parte invisível do corpo físico é de suma importância para nós, porque é o veículo pelo qual fluem as correntes vitais que mantêm vivo o corpo, e serve de ponte para transferir as ondulações do pensamento e a emoção do corpo astral ao corpo físico denso. Sem tal ponte intermediária não poderia o ego utilizar as células de seu cérebro. O clarividente o vê como uma distinta massa de neblina gris-violeta debilmente luminosa, que interpenetra a parte densa do corpo físico e se estende um pouco mais além deste.
A vida do corpo físico muda incessantemente, e para viver necessita de contínua alimentação de três fontes distintas. Precisa de comida para a digestão, de ar para a respiração e de três modalidades de vitalidade para a assimilação. Esta vitalidade é essencialmente uma força, mas quando está revestida de matéria parece-nos um elemento químico sumamente refinado. Existe essa força ou energia em todos os planos embora no momento, e para atender ao objetivo que nos ocupa, só consideraremos a sua manifestação e expressão no plano físico.
Para melhor compreensão de tudo isto, convém conhecer algo da constituição e ordem da parte etérica de nosso corpo. Há muitos anos tratei deste assunto em diversas obras, e o comandante Powell coligiu recentemente tudo quanto se tem escrito até agora sobre esse particular, publicando-o em seu livro O Duplo Etérico.
OS CENTROS
Os chakras, ou centros de força, são pontos de conexão ou enlace pelos quais flui a energia de um a outro veículo ou corpo do homem. Quem quer que possua um ligeiro grau de clarividência, pode vê-los facilmente no duplo etérico, em cuja superfície aparecem sob forma de depressões semelhantes a pratinhos ou vórtices. Quando já totalmente desenvolvidos, assemelham-se a círculos de uns cinco centímetros de diâmetro, que brilham mortiçamente no homem vulgar, mas que, ao se excitarem vividamente, aumentam de tamanho e se vêem como refulgentes e coruscantes torvelinhos à maneira de diminutos sóis. Às vezes falamos destes centros como se toscamente se correspondessem com determinados órgãos físicos; mas em realidade estão na superfície do duplo etérico, que se projeta ligeiramente mais além do corpo denso.
Se olharmos diretamente para baixo da corola de uma convolvulácea, teremos uma idéia do aspecto geral do chakra.
O pecíolo da flor brota de um ponto do pedúnculo, de modo que segundo outro símile (prancha VIII). a espinha dorsal se assemelharia a um talo central, do qual de trecho em trecho brotam as flores com suas corolas na superfície do corpo etérico.
A figura 1 representa os sete centros de que tratamos e a Tabela 1 dá os seus nomes em sânscrito e português.
Todas estas rodas giram incessantemente, e pelo cubo ou boca aberta de cada uma delas flui continuadamente a energia do mundo superior, a manifestação da corrente vital dimanante do Segundo Aspecto do Logos Solar, a que chamamos energia primária, de natureza sétupla, cujas modalidades in totum agem sobre cada chakra, ainda que com particular predomínio de uma delas segundo o chakra. Sem esse influxo de energia não existiria o corpo físico.
Portanto, os centros ou chakras atuam em todo ser humano, ainda que nas pessoas pouco evoluídas é tardo o seu movimento, o estritamente necessário para formar o vórtice adequado ao influxo de energia. No homem bastante evoluído refulgem e palpitam com vivida luz, de maneira que por eles passa uma quantidade muitíssimo maior de energia, e o indivíduo obtém como resultado o acréscimo de suas potências e faculdades.
Situação | Nome Sânscrito | Nome Português |
---|---|---|
Na base da espinha dorsal | Muladhara | Chakra raiz ou básico |
(3) | Chakra do baço | |
No umbigo, sobre o plexo solar | Manipura | Chakra do umbigo |
Sobre o coração | Anahata | Chakra do coração |
Na frente da garganta | Vishuddha | Chakra laríngeo |
Entre as sobrancelhas | Ajna | Chakra frontal |
No alto da cabeça | Sahasrara | Chakra coronário |
FORMA DOS VÓRTICES
A divina energia, que do exterior se derrama em cada centro, determina na superfície do corpo etérico, e em ângulo reto com a sua própria direção, energias secundárias em movimento circular ondulatório, da mesma forma que uma barra imantada introduzida numa bobina de indução provoca uma corrente elétrica que flui ao redor da bobina em ângulo reto com a direção do ímã.
Depois de haver entrado no vórtice, a energia primária volta a irradiar de si mesma em ângulos retos, mas em linhas retas, como se o centro do vórtice fosse o cubo de uma roda e as radiações de energia primária os seus raios, que enlaçam à guisa de colchetes o duplo etérico com o corpo astral. O número de raios difere em cada um dos centros e determina o número de ondas ou pétalas que respectivamente exibem. Por isso os livros orientais costumam comparar poeticamente os chakras a flores.
Cada uma das energias secundárias que fluem ao redor da depressão semelhante a um pratinho, tem sua peculiar longitude de onda e uma luz de determinada cor. Mas em vez de se mover em linha reta como a luz, move-se em ondas relativamente amplas de diversos tamanhos, sendo cada uma delas o múltiplo de menores ondulações que abrange. O número de ondulações está determinado pelo de raios da roda, e a energia secundária ondula por baixo e por cima das radiações da energia primária, à maneira de um trabalho em vime entretecido ao redor dos raios de uma roda de carruagem. As longitudes de onda são infinitesimais, e provavelmente cada ondulação as contém aos milhares.
Segundo fluem as energias ao redor do vórtice, as diferentes classes de ondulações se entrecruzam umas com as outras, como num trabalho em vime, e produzem uma forma semelhante à corola de convolvulácea a que antes me referi.
Contudo, os chakras ainda se parecem mais a uma galheta de ondulado cristal iridescente como as que se fabricam em Veneza. Todas estas ondulações ou pétalas têm o acatassolado e trêmulo brilho da concha, ainda que geralmente cada uma delas ostente sua cor predominante, segundo o mostram as ilustrações. Este nacarino aspecto argêntico costuma ser comparado nos tratados sânscritos ao tremeluzir da lua na superfície das águas do mar.
AS PRANCHAS
As pranchas que exornam o texto representam os chakras tal como os percebe um clarividente muito evoluído e discreto que tenha já disciplinado suficientemente os seus para atuarem ordenadamente.
Evidentemente, nem as cores das pranchas nem nenhuma cor deste mundo têm a suficiente luminosidade para igualar à do chakra respectivo; mas o desenho dá pelo menos uma idéia do verdadeiro aspecto destas rodas de luz.
Pelo já exposto se compreenderá que os centros diferem de tamanho e brilho segundo a pessoa, e ainda num mesmo indivíduo podem ser uns mais vigorosos que outros. Todos estão desenhados em tamanho natural, exceto o sahasrara, ou centro coronário; que foi conveniente ampliar-se para destacar sua assombrosa riqueza de pormenores.
No caso de um homem que se sobressai excelentemente nas qualidades expressas por meio de determinado centro, não só aparecerá em tamanho muito maior, mas especialmente radiante e emitindo fúlgidos raios de ouro. Exemplo disto nos oferece a precipitação que da aura de Stainton Moseyn fez a senhora Blavatsky, conservada no santuário da Sede Central da Sociedade Teosófica em Adyar, e reproduzida, embora muito imperfeitamente, na obra do coronel Olcott, Old Diary Leaves(4).
Os chakras se dividem naturalmente em três grupos: inferior, médio e superior. Podem denominar-se, respectivamente, filosófico, pessoal e espiritual.
Os chakras primeiro e segundo têm poucos raios ou pétalas, e sua função é transferir para o corpo duas forças procedentes do plano físico.
Uma delas é o fogo serpentino da terra, e a outra a vitalidade do sol. Os centros terceiro, quarto e quinto, que constituem o grupo médio, estão relacionados com forças que o ego recebe por meio da personalidade. O terceiro centro as transfere através da parte inferior do corpo astral; o quarto por meio da parte superior do mesmo corpo, e o quinto, pelo corpo mental.
Todos estes centros, alimentam determinados gânglios nervosos do corpo denso. Os centros sexto e sétimo, independentes dos demais, estão, respectivamente, relacionados com o corpo pituitário e a glândula pineal, e somente se põem em ação quando o homem alcança certo grau de desenvolvimento espiritual.
Ouvi dizer que cada pétala dos chakras representa uma qualidade moral, cuja atualização põe o chakra em atividade. Por exemplo, segundo o upanichade de Dhyanabindu, as pétalas do chakra cardíaco representam devoção, preguiça, cólera, pureza e outras qualidades análogas. De minha parte não observei ainda nada que comprove esta afirmação, e não se compreende facilmente como pode ser assim, porque as pétalas resultam da ação de certas forças claramente distinguíveis, e em cada chakra estão ou não ativas, segundo se tenham ou não atualizado essas forças. De modo que o desenvolvimento das pétalas não têm mais direta relação com a moralidade do indivíduo do que a que possa ter o robustecimento do bíceps. Observei pessoas de moralidade não muito alta, nas quais alguns chakras estavam plenamente ativos, enquanto que outras pessoas sumamente espirituais e de nobilíssima conduta os tinham escassamente vitalizados, pelo que me parece não haver necessária conexão entre ambos os desenvolvimentos.
No entanto, observam-se certos fenômenos em que bem poderia apoiar-se tão estranha idéia. Ainda que a semelhança com as pétalas esteja determinada pelas mesmas forças que giram ao redor do centro, alternativamente por cima e por baixo dos raios, diferem estes em caráter porque a força ou energia influente se subdivide em suas partes ou qualidades componentes; portanto, cada raio emite uma influência peculiar, mesmo débil, que afeta a energia secundária que por ele passa, e lhe altera um tanto o matiz. Vários destes matizes podem denotar uma modalidade da energia favorável ao desenvolvimento de uma qualidade moral; e depois de fortalecer esta qualidade, são mais intensas as vibrações correspondentes.
Em conseqüência, a densidade menor ou maior do matiz denotará a posse em menor ou maior grau da respectiva qualidade.
O CHAKRA FUNDAMENTAL
O primeiro centro, o radico ou fundamental (prancha I), situado na base da espinha dorsal, recebe uma energia primária que emite quatro raios.
Portanto, dispõe suas ondulações de modo que pareçam divididas em quadrantes alternativamente vermelhos e alaranjados com vazios entre eles, resultando daí estarem como que assinalados com o sinal-da-cruz. Por isso se costuma empregar a cruz como símbolo deste centro, e uma cruz às vezes flamígera para indicar o fogo serpentino residente neste chakra.
Quando atua vigorosamente, é de ígnea cor vermelho-alaranjada, em íntima correspondência com o tipo de vitalidade que lhe transfere o chakra esplênico. Com efeito, observaremos, em cada chakra, correspondência análoga com a cor de sua vitalidade.
O CHAKRA ESPLÊNICO
O segundo chakra (prancha II) está situado no baço, e sua função é especializar, subdividir e difundir a vitalidade dimanante do sol. Esta vitalidade surge do chakra esplênico, subdividida em sete modalidades; seis correspondem aos seis raios do chakra, e a sétima fica concentrada no cubo da roda. Portanto, tem este chakra seis pétalas ou ondulações de diversas cores, e é muito radiante, pois fulge como um sol. Em cada uma das seis subdivisões da roda predomina a cor de uma das modalidades da energia vital. Estas cores são: vermelha, alaranjada, amarela, verde, azul e violácea; isto é, as mesmas cores do espectro solar menos o índigo ou anil.
O CHAKRA UMBILICAL
O terceiro chakra (prancha IV) está situado no umbigo, ou melhor diríamos, no plexo solar, e recebe a energia primária que se subdivide em dez radiações, de modo que vibra como se estivesse dividido em dez ondulações ou pétalas. Está intimamente relacionado com sentimentos e emoções de índole diversa. Sua cor predominante é uma curiosa combinação de vários matizes do vermelho, ainda que também contenha muito do verde.
As divisões são alternativas e principalmente vermelhas e verdes.
O CHAKRA CARDÍACO
O quarto chakra (prancha V), situado no coração, é de brilhante cor de ouro, e cada um de seus quadrantes está dividido em três partes, pelo que tem doze ondulações, pois sua energia primária se subdivide em doze raios.
O CHAKRA LARÍNGEO
O quinto centro (prancha VII) está situado na garganta e tem dezesseis raios correspondentes a outras tantas modalidades da energia.
Embora haja bastante do azul em sua cor, o tom predominante é o prateado brilhante, parecido com o fulgor da luz da lua quando roça o mar. Em seus raios predominam alternativamente o azul e o verde.
O CHAKRA FRONTAL
O sexto chakra (prancha IX), situado entre as sobrancelhas, parece dividido em duas metades; uma em que predomina a cor rosada, ainda que com muito do amarelo, e a outra em que sobressai uma espécie de azulpurpúreo.
Ambas as cores se correspondem com as da vitalidade que o chakra recebe. Talvez por esta razão dizem os tratados orientais que este chakra só tem duas pétalas; mas se observarmos as ondulações análogas às dos chakras anteriores, veremos que cada metade está subdividida em quarenta e oito ondulações, ou seja, noventa e seis no total, porque este é o número das radiações da energia primária recebida pelo chakra.
O brusco salto de dezesseis para noventa e seis raios, e a ainda maior variação súbita de noventa e seis a novecentos e setenta e dois raios que tem o chakra coronário, demonstram que são chakras de uma ordem inteiramente distinta da ordem dos até agora considerados. Não conhecemos ainda todos os fatores que determinam o número de raios de um chakra; mas é evidente que representam modalidades da energia primária, e antes que possamos afirmar algo mais sobre esse particular, será necessário fazer centenas de observações e comparações, repetidamente comprovadas.
Entretanto, não resta dúvida de que enquanto as necessidades da personalidade podem ser satisfeitas com limitados tipos de energia, nos superiores e permanentes princípios do homem encontramos uma tão complexa multiplicidade, que requer, para sua expressão, muito maiores e seletas modalidades de energia.
O CHAKRA CORONÁRIO
O sétimo chakra (veja-se o frontispício) no alto da cabeça, é o mais refulgente de todos, quando está em plena atividade, pois oferece abundância de indescritíveis efeitos cromáticos e vibra com quase inconcebível rapidez. Parece conter todos os matizes do espectro, ainda que
no conjunto predomine o violeta.
Os livros da índia denominam-no "a flor de mil pétalas", e esta denominação não dista muito da verdade, pois são novecentas e sessenta as radiações da energia primária que recebe. Cada uma destas radiações aparece fielmente reproduzida na prancha do frontispício, embora seja muito difícil assinalar a separação das pétalas. Além disso, este chakra tem uma característica que não possuem os outros, que consiste numa espécie de subalterno torvelinho central, de um branco fulgurante e com o núcleo cor de ouro. Este vórtice subsidiário é menos ativo e tem doze ondulações próprias.
Geralmente, o chakra coronário é o último que se atualiza. No princípio não difere em tamanho dos demais; mas à medida que o homem se adianta na senda do aperfeiçoamento espiritual, vai aumentando pouco a pouco, até cobrir toda a parte superior da cabeça.
Outra particularidade acompanha o seu desenvolvimento. No princípio é, como todos os demais chakras, uma depressão do duplo etérico, pela qual penetra a divina energia procedente do exterior. Mas quando o homem se reconhece rei da divina luz e se mostra magnânimo com tudo que o rodeia, o chakra coronário reverte, por assim dizer, de dentro para fora, e já não é um canal receptor, mas um radiante foco de energia, não uma depressão, mas uma proeminência ereta sobre a cabeça como uma cúpula, como uma verdadeira coroa de glória.
As imagens pictóricas e esculturais das divindades e excelsas personagens do Oriente, costumam mostrar esta proeminência, como se vê na estátua do Senhor Buda em Borobudur (ilha de Java) reproduzida na figura 2 (esquerda). Este é o método usual de representar a proeminência, e de tal forma aparece sobre a cabeça de milhares de imagens do Senhor Buda no mundo oriental.
Nalguns casos, dois terços deste chakra são representados em forma de abóbada, constituída pelas novecentas e sessenta pétalas, e em cima outra abóbada menor, constituída pelas doze radiações do vórtice subalterno. Assim aparece na cabeça à direita da figura 2, que é a da estátua ou imagem do Brama no Hokkaido de Todaiji de Nara (Japão), cuja Antigüidade remonta ao ano 749. O tocado desta cabeça representa o chakra coronário com a grinalda de chamas que brotam dele, e é diferente da representação do mesmo chakra na cabeça da estátua de Buda.
Também se nota essa proeminência na simbologia cristã, como, por exemplo nas coroas dos vinte e quatro anciões, que as retiravam diante do trono do Senhor.
No homem muito evoluído, o chakra coronário fulgura com tanto esplendor, que cinge a sua cabeça como uma verdadeira coroa; e o significado da passagem da Apocalipse acima citada é que tudo quanto o homem conseguiu, o magnífico karma acumulado, toda a assombrosa energia espiritual que engendra, tudo deita perpetuamente aos pés do Logos, para que o empregue em Sua obra. Assim freqüentemente retira diante do trono do Senhor sua áurea coroa, porque continuamente restaura a energia proveniente de seu interior.
OUTROS DADOS REFERENTES AOS CHAKRAS
Os Upanichades menores, os Puranas, as obras tântricas e algumas outras da bibliografia sânscrita, costumam descrever sete chakras, e hoje em dia os utilizam muitos iogues hindus. Um amigo meu, familiarizado com a vida íntima da Índia, me assegurou que existe nesse país uma escola que faz livre uso dos chakras e conta com 16 000 sócios, esparsos por um extenso território. Das fontes indianas de informação se obtêm dados mui valiosos referentes aos chakras, que procuraremos compendiar no último capítulo da presente monografia.
Também parece que alguns místicos europeus conheceram os chakras, segundo denota a obra Teosofia Prática do místico alemão Johann George Gichtel, discípulo de Jacob Boehme, que talvez tenha pertencido à sociedade secreta dos rosa-cruzes(5). Essa obra foi publicada pela primeira vez em 1696, e diz-se que as ilustrações da edição de 1736, descritas no texto do volume, se estamparam em 1720, dez anos após a morte do autor, ocorrida em 1710. Não se deve confundir a obra citada com a coleção de cartas de Gichtel que tem o mesmo título de Teosofia Prática, pois o volume a que nos referimos não se acha em forma de cartas, mas na de seis capítulos concernentes à mística regeneração que era dogma tão importante entre os rosa-cruzes.
A prancha VII, que damos nesta monografia, é uma reprodução fotográfica do desenho intercalado na tradução francesa de Teosofia Prática, publicada em 1892 pela Biblioteca Chacornac de Paris, no volume número 7 da biblioteca Rosa-cruciana.
Gichtel nasceu no ano de 1638 em Ratisbona (Baviera). Estudou teologia e jurisprudência, e exerceu a advocacia; mas pouco depois, ao reconhecer seu interior mundo espiritual, renunciou a todo interesse mundano e iniciou um movimento místico cristão. Sua oposição à ignara ortodoxia de sua época lhe atraiu o ódio daqueles a quem combatia, pelo que, por volta do ano de 670, o desterraram do país e lhe confiscaram os bens. Por fim conseguiu refugiar-se na Holanda, onde permaneceu os quarenta anos restantes de sua vida.
Evidentemente considerava Gichtel de natureza secreta as figuras estampadas em sua obra Teosofia Prática, e as manteve reservadas para seus discípulos durante alguns anos, pois, como ele próprio disse, eram o resultado de uma iluminação interior, provavelmente o que agora chamamos clarividência. Na introdução do livro, diz Gichtel que é: "Uma breve exposição dos três princípios dos três mundos do homem, representados em claras imagens, que demonstram como e onde têm seus respectivos centros no homem interno, segundo o qual o autor observou a si mesmo em divina contemplação, e o que sentiu, experimentou e percebeu."
Contudo, como todos os místicos de seu tempo, Gichtel carece da exatidão que deve caracterizar o ocultismo e misticismo, e ao descrever as figuras se desvia em prolixidades, embora às vezes faça digressões interessantes sobre as dificuldades e problemas da vida espiritual. Portanto, não é o seu livro uma obra mestra no concernente à descrição das figuras se bem que talvez não se atreveu a dizer demasiado, ou quis induzir seus leitores a que aprendessem a ver por si mesmos aquilo que descrevia.
Assim mesmo infere-se de sua conduta verdadeiramente espiritual, que havia atualizado bastante clarividência para ver os chakras, mas que, incapaz de conhecer o seu genuíno caráter e serviço, lhes aplicou, em sua tentativa de os explicar, o usual simbolismo da escola a que pertencia.
Como se notará, trata Gichter do natural homem terreno submerso nas trevas, pelo que se deve desculpá-lo de ser um tanto pessimista a respeito dos chakras. Não se detém a comentar o primeiro e o segundo, talvez porque sabia que estavam principalmente relacionados com o processo fisiológico; mas qualificava o plexo solar de assento da ira, como de fato o é. Considera o chakra cardíaco cheio de amor-próprio, o laríngeo, de inveja e avareza, e no coronário só vê radiante orgulho.
Também atribui planetas aos chakras. A Lua ao fundamental; Vênus ao umbilical; o Sol ao cardíaco(6); Marte ao laríngeo; Júpiter ao frontal e Saturno ao coronário. Além disso, nos diz que o fogo reside no coração, a água no fígado, a terra nos pulmões, e o ar na bexiga, ainda que tudo isso em linguagem simbólica.
Convém notar que Gichtel traça uma espiral da serpente enroscada até o coração, passando sucessivamente por todos os chakras; mas não se percebe razão alguma da ordem em que a espiral passa por eles. O simbolismo do cão corredor não está explicado, e temos, portanto, liberdade de interpretá-lo segundo nos agrade ou de deduzir qualquer interpretação.
O autor nos oferece por último uma ilustração do homem regenerado pelo Cristo, que esmagou completamente a serpente; mas substitui o sol pelo Sagrado Coração, horrivelmente sangrante.
O interesse que para nós tem esse desenho não consiste nas interpretações do autor, mas em demonstrar, sem deixar margem à dúvida, que pelo menos alguns místicos do século XVII conheciam a existência dos chakras e suas respectivas situações nas diversas regiões do corpo humano.
Adicional prova do primitivo conhecimento dos chakras nos oferecem os rituais maçônicos cujos pontos capitais remontam a um tempo imemorial, pois os monumentos arqueológicos demonstram que tais pontos rituais já se conheciam e praticavam no antigo Egito. e foram fielmente transmitidos até os dias de hoje. Os mações incluem-nos entre os seus segredos, e ao utilizá-los, estimulam positivamente algum chakra para o propósito de seu trabalho maçônico, enquanto no geral pouco ou nada conheçam do que ocorre além do campo ordinário da visão.
É-me impossível dar aqui explicações mais claras, mas já disse muito do que é permitido dizer, em minha obra A Vida Oculta na Maçonaria.
Notas do capítulo:
- Chakka é o equivalente páli do sânscrito chakra.
- Não se deve confundir este grau superior de matéria física com o verdadeiro éter no espaço, do qual a matéria é negação.
- O chakra do baço não está indicado nos livros da índia, e em seu lugar aparece um centro chamado Swadhisthana, situado na vizinhança dos órgãos genitais ao qual se assinalam as mesmas seis pétalas. Em nosso entender o despertamento deste centro deve considerar -se como uma desgraça pelos graves perigos com ele relacionados. No plano egípcio de desenvolvimento se tomavam esquisitas precauções para evitar tal despertamento. (Veja-se A Vida Oculta da Maçonaria de C. W. Leadbeater, Ed. Pensamento, São Paulo, 1956.)
- Traduzida pata o francês e espanhol com o título História Autêntica da Sociedade Teosófica.
- Com amável permissão do editor, reproduzimos da citada obra a prancha III.
- Ainda que se notará ter uma serpente enroscada.