Sexto Subplano: O Segundo Céu

Enviado por Estante Virtual em qua, 14/12/2011 - 20:39

A característica dominante neste subplano é o sentimento de devoção antropomórfica, isto é, dirigida a uma divindade imaginada em forma humana. A distinção entre este sentimento e o que se manifesta no segundo subplano do mundo astral consiste em que este provém do desejo de obter algum benefício material em troca do ato devoto, enquanto que o outro é puramente inegoísta sem qualquer preocupação do resultado que venha a obter o indivíduo para sua devoção, de modo que no segundo subplano do mundo astral o sentimento religioso contém invariavelmente um elemento egoísta negativo, enquanto que a devoção que eleva o indivíduo até o sexto subplano do mundo mental está livre desta mancha.

De outro lado, esta modalidade de devoção que consiste essencialmente na adoração perpétua de um Deus pessoal, deve ser distinguida cuidadosamente daquelas outras modalidades superiores de devoção manifestadas em alguma obra, definidamente praticadas em honra da divindade. Alguns exemplos dos casos observados neste subplano mostrarão tal distinção mais claramente que as palavras descritas.

Grande número de entidades cuja atividade mental opera neste subplano, procede das religiões orientais e tem por característica uma devoção pura, embora relativamente rotineira por falta de racional e inteligente compreensão. Neste subplano se encontram os adoradores de Vishnu e seus avataras, especialmente no de Krishna, e alguns adoradores de Shiva, cada qual envolto no casulo de seus próprios pensamentos, a sós com o seu deus, e esquecidos da humanidade exceto dos seres que eles amaram na terra. Viu-se um vaishnavita inteiramente absorto na extática adoração da imagem de Vishnu a quem tinha tributado suas oferendas durante a vida terrena.

As mulheres dão os mais característicos exemplos das condições do sexto subplano mental, e mulheres foram na terra a maioria de seus habitantes.

Entre outras, havia uma hinduísta que tinha divinizado seu marido e imaginava seus filhos brincando com o menino Krishna; porém, enquanto os filhos eram para ela imagens de pessoas humanas, a imagem do menino Krishna era a vivificação da que, pintada na madeira, havia adorado durante a vida. Também aquela mulher imaginava Krishna em forma de um afeminado donzel tocando flauta, sem que de modo algum a conturbasse aquela dupla representação. Outra mulher, adoradora de Shiva, tinha confundido o deus com seu marido, a quem encarava como uma manifestação daquele, de modo que cada imagem estava constantemente se mudando na outra.

Existem também alguns budistas neste subplano, porém são os que, de escasso alcance religioso, consideram Buda mais como um ser adorável do que como um eminente instrutor. A religião cristã contribui notadamente para povoar o sexto subplano. A supersticiosa devoção exemplificada pelo camponês católico ignorante de um lado, e de outro, o ardente soldado do Exército da Salvação, parece que dão resultados muito semelhantes aos descritos, pois se encontram entregues à contemplação em Cristo e sua mãe Maria. Por exemplo, viu-se um camponês irlandês arroubado em profunda adoração à Virgem Maria, que ele imaginava com a lua aos seus pés, como a representa Ticiano em seu quadro da Assunção, e que lhe estendia as mãos e lhe falava.

Um monge medieval foi visto em extática contemplação de Cristo crucificado, e a intensidade de seu anelante amor e compaixão era tal, que, ao olhar o sangue das feridas da figura de Cristo, os estigmas se lhe reproduziam no corpo mental.

Outro homem parecia ter esquecido a triste história da crucificação e só pensava em Cristo glorificado em seu trono, com o mar de vidro (1) ante ele e sobre o mar uma inumerável multidão entre a qual estava o adorador com sua mulher e filhos, aos quais amava profundamente, porém seus pensamentos se dirigiam à adoração de Cristo, embora tivesse dele um conceito tão material que o representava mudando caleidoscopicamente entre a figura humana e a do cordeiro com a bandeirinha que se costuma ver nas janelas das igrejas.

Caso interessantíssimo foi o de uma ehola que morrera aos vinte anos de idade. No mundo celeste, retrocedeu à época em que Cristo estava na terra, e se imaginava em companhia dele por todos os lugares de que falam os evangelhos, e que depois da crucificação tomou a Virgem Maria ao seu cuidado. Mas, as imagens das paisagens e costumes da Palestina eram anacrônicas, porque o Salvador e seus discípulos estavam vestidos de trajes de camponeses ehóis, as colinas circundantes de Jerusalém eram altas montanhas plantadas de vinhas e as oliveiras estavam cobertas de musgo. A mulher se imaginava martirizada por sua fé, e que subia ao céu para gozar daquela felicidade sem fim.

Terminaremos a enumeração de exemplos da vida celeste no sexto subplano, relatando o caso de um menino que morreu com a idade de sete anos e se ocupava em atualizar no mundo celeste as lendas religiosas que lhe ensinara sua pajem irlandesa. Antes de tudo, ele se imaginava brincando com o Menino Jesus, ajudando-o a fabricar os bonecos de barro que, segundo a lenda, tinham vida e punham-se a voar pelo poder do Cristo menino.

Ver-se-á que a cega e inculta devoção a que acabamos de nos referir, não eleva os devotos a grande altura espiritual; mas recordemo-nos de que em todos os casos são completamente felizes e estão de todo satisfeitos, pois recebem tanto quanto são capazes de receber. Contudo, o seu estado de consciência favorece o seu futuro, porque, se bem que este tipo de devoção, por intensa que seja, não vigorificará nunca o entendimento, suscita maior aptidão para uma modalidade superior de devoção e em muitos casos chega a purificar a conduta.

Portanto, quem passa a vida celeste no sexto subplano, embora não seja capaz de fazer progressos rápidos na senda do aperfeiçoamento espiritual, livra-se de muitos perigos, pois não é provável que em sua encarnação imediata cometa culpas grosseiras, ou desprendido de suas aspirações devotas, caia numa conduta mundana de avareza, ambição e libertinagem. De qualquer modo, o exame deste ressalta á necessidade de seguir o conselho de São Pedro: "Acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude, conhecimento".

Posto que tão estranhos resultados derivem das modalidades grosseiras da fé, é muito interessante observarmos os efeitos do materialismo cru, tão comum na Europa há um século. A Senhora Blavatsky expôs na Chave da Teosofia que, em alguns casos, o indivíduo materialista não goza da vida celeste, porque durante a vida terrena não acreditou na sua existência.

No entanto, parece que a Senhora Blavatsky emprega a palavra "materialista" num sentido mais restrito do que o que se lhe costuma dar, porque na mesma obra ela afirma que para o materialista não há vida possível depois da morte, enquanto que aqueles que se ocupam em percorrer o mundo astral durante a noite, encontram ali materialistas completamente conscientes. Por exemplo, um eminente materialista intimamente conhecido de um dos nossos investigadores, estava há algum tempo atrás no segundo subplano astral, rodeado de seus livros e prosseguindo seus estudos como o teria feito na terra. Ao ser interrogado por seu amigo, o investigador, respondeu que, com efeito, as teorias que defendera durante a vida terrena estavam refutadas pela lógica irresistível dos fatos, porém suas tendências agnósticas ainda eram bastante firmes para não crer no que o seu amigo lhe dizia sobre a existência de um mundo superior, o plano mental. No entanto, havia certamente no caráter deste indivíduo muito do que só podia achar plena expressão do mundo mental, e desde que sua incredulidade da vida depois da morte não havia impedido suas experiências astrais, parece que não há razão para supor que impeça depois da morte astral a manifestação valiosa das suas qualidades no mundo mental. Embora ele tenha perdido muito por sua incredulidade, e sem dúvida que se fosse capaz de compreender a beleza do ideal religioso, teria atualizado nele uma potente energia devocional cujos efeitos colheria na ocasião. Tudo isto perdeu. Mas seu profundo e inegoísta afeto à família, seus ardentes e infatigáveis esforços filantrópicos eram também fluxos de energia que deviam produzir seus resultados e só podiam produzi-los no mundo mental. A ausência de uma modalidade de energia não pode impedir a ação das demais.

Outro caso mais recente observado foi o de um materialista que, ao despertar no mundo astral depois da morte, acreditou que ainda estava vivo na terra, porém sob a influência de um pesadelo. Afortunadamente para ele havia no grupo de investigadores capazes de atuar no mundo astral o filho de um antigo amigo do materialista, enviado de propósitopara prestar-lhe auxílio. Logo pensou que o filho do amigo era uma ilusão forjada em sonhos; porém, ao receber uma mensagem do amigo referindo-lhe tudo quanto tinha ocorrido antes do nascimento do jovem mensageiro, convenceu-se da realidade do mundo em que se encontrava e mostrou vivíssimo anseio de obter todas as informações possíveis sobre a sua situação. As instruções que recebeu sem dúvida lhe proporcionaram um efeito positivo, modificando em sentido favorável não só sua próxima vida mental, mas também a futura existência terrena.

Não deve surpreender-nos o que nos mostram estes dois e muitos outros exemplos, porque é tudo quanto nos cabe esperar de nossas experiências no mundo físico, onde observamos constantemente que a natureza dispensa o conhecermos ou não as suas leis. Se, crente de que o fogo não queima, o homem puser sua mão na chama, convencer-se-á experimentalmente do seu erro. Da mesma forma, a incredulidade de um indivíduo em relação à vida futura não altera os fatos naturais, e ao morrer, reconhece o seu erro.

Portanto, a espécie de materialismo a que a Senhora Blavatsky alude na mencionada obra é seguramente muito mais grosseira e agressiva do que o agnosticismo comum, algo que incapacitaria quem o tivesse para atualizar as qualidades que só podem manifestar-se ativamente no plano mental.

 


Notas do capítulo

  1. Alusão ao mar de vidro mencionado no Apocalipse 4:6. (N. da T.)

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