As doutrinas da Ressurreição e da Ascensão de Cristo também formam parte dos Mistérios Menores, sendo partes integrais do “Mito Solar” e da história de vida do Cristo no homem.
A respeito do próprio Cristo elas têm sua base histórica nos fatos de Ele ter continuado a ensinar Seus apóstolos depois de Sua morte física, em Suas aparições nos Grandes Mistérios como Hierofante depois que Sua instrução direta cessou, até que Jesus assumiu Seu lugar. Nas lendas míticas a ressurreição do herói e sua glorificação invariavelmente formam a conclusão de suas história de morte, e nos Mistérios, o corpo do candidato sempre era lançado em um transe semelhante à morte, durante o qual ele, como uma alma liberta, viajava pelo mundo invisível, retornando e revivendo o corpo depois de três dias. E na história de vida de um indivíduo que está se tornando um Cristo, veremos, à medida que estudarmos, que os dramas da Ressurreição e da Ascensão se repetem.
Mas antes que possamos seguir esta história inteligentemente, devemos dominar o básico a respeito da constituição humana, e entender os corpos natural e espiritual do homem. “Existe um corpo natural, e existe um corpo espiritual” (I Coríntios, XV, 44).
Ainda existem pessoas incultas que consideram o homem como uma mera dualidade, feito de “alma” e “corpo”. Estas pessoas usam as palavras “alma” e “espírito” como sinônimos, e falam indiferentemente “alma e corpo” ou “espírito e corpo”, querendo dizer que o homem é composto de dois constituintes, um dos quais perece na morte, enquanto que o outro sobrevive. Para os simples e ignorantes esta divisão tosca é suficiente, mas ela não vai nos capacitar a entender os mistérios da Ressurreição e da Ascensão.
Todo Cristão que fez mesmo um estudo superficial da constituição humana reconhece nela três constituintes – Espírito, Alma e Corpo. Esta divisão é boa, embora necessite de subdivisões adicionais para o estudo mais aprofundado, e foi usada por São Paulo em sua oração para que “vossos espíritos e almas e corpos sejam preservados irreprováveis” (I Tessalonicenses, V, 23). Esta divisão tríplice é aceita na Teologia Cristã.
O Espírito é na realidade uma Trindade, o reflexo e imagem da Trindade Suprema, e isto estudaremos no capítulo seguinte, “A Trindade”. O homem real, o imortal, é o Espírito, a Trindade no homem. Ela é vida e consciência, e a ela pertence o corpo espiritual, cada aspecto da Trindade tendo seu próprio Corpo. A Alma é dual, e compreende a mente e a natureza emocional, com seus invólucros apropriados. E o corpo é o instrumento material do espírito e da Alma. De um ponto de vista Cristão sobre o homem ele seria um ser dodécuplo, com seis modificações perfazendo o homem espiritual, e seis outras o homem natural; de acordo com outro ponto de vista, ele seria divisível em quatorze partes, sete modificações da consciência e sete tipos de forma correspondentes. Esta concepção é praticamente idêntica àquela estudada nos Mistérios, e usualmente é chamada de sétupla, porque existem realmente sete divisões, cada uma sendo dupla, com um aspecto vida e um aspecto forma.
Estas divisões e subdivisões deixam o de mente simples um pouco confusos e perplexos, e é por isso que Orígenes e Clemente, como vimos antes, enfatizaram tanto a necessidade de inteligência de parte de todos os que quisessem se tornar Gnósticos. Enfim, aqueles que as considerarem problemáticas podem deixá-las de lado, sem tirá-las dos estudantes dedicados, que as consideram não só iluminadoras, mas absolutamente necessárias para qualquer entendimento dos Mistérios da Vida e do Homem.
A palavra Corpo significa um veículo de consciência, ou um instrumento de consciência, aquilo onde a consciência é levada como num carro, ou aquilo que a consciência usa para entrar em contato com o mundo externo, como um mecânico usa uma ferramenta. Ou, podemos compará-lo a um vaso onde está contida a consciência, assim como uma jarra contém líquido. Ele é uma forma usada por uma vida, e não sabemos nada da consciência salvo quando ligada a estas formas. A forma pode ser de materiais mais refinados ou sutis, pode ser tão diáfana que só nos damos conta da vida em seu interior; mas a forma ainda está lá, e é composta de Matéria. Pode ser tão densa que oculta a vida interna, e só ficamos conscientes da forma; ainda assim a vida está lá, e é composta do oposto da Matéria – o Espírito. O estudante deve estudar e repassar este fato fundamental – a dualidade de toda existência manifesta, a inseparável coexistência de Espírito e Matéria tanto em um grão de pó como no Logos, o Deus manifesto. A idéia deve se tornar parte dele, doutra forma ele deve abandonar os estudos dos Mistérios Menores. O Cristo, como Deus e Homem, só demonstra em escala cósmica o mesmo fato dual que é repetido em toda parte na natureza. Tudo no universo é formado em cima desta dualidade original.
O homem tem um “corpo natural”, e ele é constituído de quatro porções diferentes e separadas, e é sujeito à morte. Duas delas são compostas de matéria física, e jamais se separam completamente entre si até a morte, embora uma separação parcial possa ser causada pela anestesia ou por doença. Estas duas devem ser classificadas juntas como sendo o Corpo Físico.
Neste o homem desempenha suas atividades conscientes enquanto está acordado; falando tecnicamente, ele é o veículo da consciência no mundo físico.
A terceira porção é o seu Corpo de Desejos, chamado assim porque a natureza sentimental e passional do homem encontra nele seu veículo especial. Durante o sono o homem deixa o corpo físico, e desenvolve suas atividades conscientes neste outro, que atua no mundo invisível mais próximo da nossa Terra visível. Ele é portanto seu veículo de consciência no mais baixo dos mundos suprafísicos, que também é o primeiro mundo para o qual o homem passa ao morrer.
A quarta porção é o Corpo Mental, assim chamado porque a natureza intelectual do homem, até onde lida com o concreto, atua nele. Ele é o veículo da consciência no segundo dos mundos suprafísicos, que também é o segundo, ou mundo celeste inferior, ao qual o homem passa depois da morte, quando liberto do mundo mencionado no parágrafo anterior.
Esta quatro porções de sua forma, constituídas do corpo físico dual, do corpo de desejos e do corpo mental, formam o corpo natural de que fala São Paulo.
Esta análise científica caiu fora do ensino Cristão usual, o qual é vago e confuso neste ponto. Não que as igrejas jamais o tenham possuído; ao contrário, este conhecimento da constituição do homem formava parte dos ensinamentos dos Mistérios Menores; a divisão simples em Espírito, Alma e Corpo era exotérica, a primeira e mais rudimentar divisão dada como fundamento. A subdivisão a respeito do “Corpo” era feita no curso da instrução posterior, como preliminar ao treinamento pelo qual o Instrutor habilitava o discípulo a separar um veículo de outro, e usar cada um como veículo de consciência em seu domínio apropriado.
Esta concepção deveria ser bem compreendida. Se um homem deseja viajar na Terra sólida, ele usa como seu veículo um carro ou trem. Se ele quer viajar sobre os líquidos mares, toma um navio. Se quer viajar no ar, ele muda seu veículo e usa um avião. Ele é o mesmo homem em todas as ocasiões, mas está usando três veículos diferentes, de acordo com o tipo de matéria em que deseje viajar. A analogia é primária e inadequada, mas não é enganosa.
Quando um homem está ocupado no mundo físico, seu veículo é o corpo físico, e sua consciência atua em e através deste corpo. Quando ele passa para o mundo além do físico, durante o sono ou na morte, seu veículo é o corpo de desejos, e ele deve aprender a usá-lo conscientemente, assim como ele usa o físico conscientemente. Ele já o usa inconscientemente todos os dias de sua vida quando está sentindo e desejando, assim como em cada noite de sua vida. Quando ele vai para o mundo celeste depois da morte, seu veículo é o corpo mental, e este ele também está usando diariamente quando pensa, e não haveria nenhum pensamento no cérebro se eles não existissem no corpo mental.
O homem tem além disso um “corpo espiritual”. Este é feito de três porções separáveis, cada uma pertencendo a, e separado de, cada uma das três Pessoas na Trindade do espírito humano. São Paulo fala de ter sido “levado até o terceiro céu”, e de lá ter ouvido “palavras impronunciáveis que não é lícito a um homem pronunciar” (II Coríntios, XII, 2-4). Estas diferentes regiões dos mundos invisíveis supernos são conhecidas pelos Iniciados, e eles sabem muito bem que aqueles que passam além do primeiro céu precisam do corpo verdadeiramente espiritual como veículo, e que de acordo com o seu desenvolvimento poderão entrar em um céu ou noutro.
A mais baixa destas três divisões é usualmente chamada de Corpo Causal, por uma razão de que só será totalmente assimilada por aqueles que estudaram o ensinamento sobre a Reencarnação – ensinada na Igreja Primitiva – e por aqueles que entenderem que a evolução humana precisa de muitas vidas sucessivas sobre a Terra, antes que a alma germinal do selvagem se torne a alma aperfeiçoada do Cristo, e então, se torne “perfeito como seu Pai no céu é perfeito” (Mateus, V, 48). É um corpo que perdura de vida para vida, e no qual está armazenada toda a memória do passado. Dele procedem as causas que constróem os corpos inferiores. Ele é o receptáculo da experiência humana, a casa do tesouro na qual é guardado tudo o que reunimos em nossas vidas, é a séde da Consciência, o possuidor da Vontade.
A segunda das três divisões do corpo espiritual é mencionada por São Paulo nas significativas palavras: “Temos uma morada feita por Deus, uma casa que não foi feita pelas mãos, eterna, nos céus” (II Coríntios, V, 1). Este é o Corpo de Bem-aventurança, o corpo glorificado do Cristo, o “Corpo da Ressurreição”.
Não é um corpo “feito pelas mãos”, mas é obra da consciência nos veículos inferiores; não é formado pela experiência, nem construído por materiais reunidos pelo homem em sua longa peregrinação. É um corpo que pertence à vida Crística, a vida da Iniciação, ao desabrochar divino no homem; é construído por Deus, pela atividade do Espírito, e cresce durante todo o ciclo de vida ou vidas do Iniciado, atingindo sua perfeição só na “Ressurreição”.
A terceira divisão do corpo espiritual é a fina película de matéria sutil que distingue o Espírito individual como um Ser, embora permita a interpenetração de todos por todos, e seja assim a expressão da unidade fundamental. No dia em que o próprio Filho for “sujeito Àquele que sujeitou todas as coisas, para que Deus possa ser tudo em todos” (I Coríntios, XV, 28), este corpo será transcendido, mas para nós ele permanece como a mais alta divisão do corpo espiritual, no qual ascendemos até o Pai, e nos unificamos a Ele.
O Cristianismo sempre reconheceu a existência de três mundos, pelos quais passa o homem: primeiro, o mundo físico; segundo, um estado indeterminado ao qual passa por ocasião da morte; terceiro, o mundo celeste. Todos os Cristãos educados acreditam nestes três mundos; só o inculto imagina que um homem passe de seu leito de morte diretamente para o estado final de beatitude. Mas existe algumas diferenças de opinião a respeito da natureza do mundo intermediário. Os Católicos Romanos o chamam de Purgatório, e crêem que toda alma passe a ele, exceto a do Santo, o homem que atingiu a perfeição, ou a do homem que morra em “pecado mortal”. A grande massa da humanidade passa para uma região purificadora, onde o homem permanece por um período variável de acordo com os pecados que cometeu, só saindo dele para o mundo celeste quando se tornou puro. As várias comunidades que são chamadas de Protestantes variam em seus ensinamentos a respeito de detalhes, e principalmente repudiam a idéia de purificação post-mortem, mas em linhas gerais eles concordam que haja um estado intermédio, algumas vezes chamado de “Paraíso”, ou de “período de espera”. O mundo celeste é quase universalmente considerado, no Cristianismo, um estado final, sem alguma idéia muito definida ou genérica sobre sua natureza, ou sobre a condição progressiva ou estacionária daqueles que o alcançam. No Cristianismo primitivo este céu era considerado, como o é realmente, uma etapa no progresso da alma, sendo ensinadas muito geralmente a preexistência da alma e a reencarnação. O resultado era (considerar-se) que o estado celeste fosse uma condição temporária, embora geralmente muito prolongada, durando “uma era” – como falado no grego do Novo Testamento, terminando a era com a volta do homem para o próximo estágio de sua vida e progresso contínuos – e não durando “eternamente”, como se fala na má tradução da versão inglesa autorizada [e mesmo das portuguesas – NT] (esta má tradução foi algo natural, uma vez que foi realizada no século XVII, e toda idéia da preexistência da alma e de sua evolução há muito tempo havia desaparecido da Cristandade, exceto nos ensinamentos de poucas seitas consideradas como heréticas e perseguidas pela Igreja Católica Romana).
A fim de completar o esboço necessário para a compreensão da Ressurreição e da Ascensão, devemos agora averiguar como estes vários corpos se desenvolvem na evolução superior.
O corpo físico está em um estado de constante fluxo, suas partículas infinitesimais estão sendo continuamente renovadas, de modo que ele está sempre em construção; e como ele se compõe daquilo que comemos, dos líquidos que bebemos, do ar que respiramos e de partículas de nosso ambiente físico, seja de coisas ou pessoas, podemos progressivamente purificá-lo escolhendo bem seus componentes, e assim tornando-o um veículo sempre mais puro através do qual agiremos, receptivo a vibrações mais sutis, responsivo a desejos mais puros, a pensamentos mais nobres e elevados. Por esta razão todos os que aspiravam chegar aos Mistérios eram submetidos a regras de dieta, abluções, etc, e se desejava que fossem muito cuidadosos sobre as pessoas com que se associavam e os lugares aonde iam.
O corpo de desejos também muda de modo semelhante, mas os seus materiais são expelidos e atraídos pelo movimento dos desejos, dos sentimentos, paixões e emoções. Se estes forem grosseiros, os materiais acrescentados ao corpo de desejos serão também grosseiros, enquanto que se forem purificados, o corpo de desejos se tornará sutil e muito sensível às influências superiores. À medida em que um homem domine sua natureza inferior e se torne altruísta em seus desejos, sentimentos e emoções, à medida em que tornar seu amor pelos que o cercam menos egoísta e exigente, ele estará purificando seu veículo superior de consciência; o resultado é que quando fora do corpo durante o sono ele tem experiências mais elevadas, puras e instrutivas, e quando abandona seu corpo físico pela morte ele passa rapidamente pelo estado intermédio, e o corpo de desejos se desintegra com grande rapidez, e não o atrasa em sua jornada para diante.
O corpo mental está similarmente sendo construído neste caso pelos pensamentos, ele será o veículo da consciência no mundo celeste, mas está sendo construído agora pelas aspirações, pela imaginação, razão, julgamento, faculdades artísticas, pelo uso de todos os poderes mentais. Do modo como o homem o tiver feito deverá usá-lo, e a duração e riqueza de seu estado celeste depende do tipo de corpo mental que construiu em sua vida terrena.
Quando um homem entra na evolução superior, este corpo inicia uma atividade independente deste lado da morte, e ele gradualmente se torna consciente de sua vida celeste, mesmo em meio ao tumulto da existência humana. Então ele se torna “o Filho do homem que está no céu” (João, III, 13) que pode falar com a autoridade do conhecimento das coisas celestes. Quando um homem começa a viver a vida do Filho, tendo passado pela Senda de Santidade, ele vive no Céu enquanto ainda permanece na Terra, passando a possuir e usar conscientemente este corpo celestial. E porquanto o Céu não esteja longe de nós, mas nos rodeia de todos os lados, e só estamos afastados dele por nossa incapacidade de sentir suas vibrações e não por sua ausência; porquanto estas vibrações estejam atuando em nós todos os momentos de nossas vidas, tudo o que é necessário para estar no Céu é se tornar consciente das suas vibrações.
Nós nos tornamos conscientes delas com a vitalização, organização e evolução deste corpo celestial, o qual, sendo construído de materiais celestiais, só responde às vibrações de matéria do mundo celeste. Por isso o “Filho do homem” está sempre no Céu. Mas sabemos que “Filho do homem” é um termo aplicado ao Iniciado, e não ao Cristo ressurrecto e glorificado, mas ao Filho que ainda está “sendo tornado perfeito” (Hebreus, V, 9).
Durante os estágios da evolução que conduzem para e incluem a Senda Probacionária, a primeira divisão do corpo espiritual – o Corpo Causal – se desenvolve rapidamente, e capacita o homem, após a morte, ascender ao segundo Céu. depois do Segundo Nascimento, o nascimento do Cristo no homem, começa a construção do Corpo de Bem-aventurança “nos Céus”. Este á o corpo do Cristo, desenvolvendo-se durante os dias de Seu serviço na Terra, e, à medida em que se desenvolve. A consciência do “Filho de Deus” se torna mais e mais acentuada, e a união vindoura com o Pai ilumina o Espírito que desabrocha.
Nos Mistérios Cristãos – assim como nos antigos Egípcios, Caldeus e outros – havia um simbolismo exterior que expressava os estágios pelos quais o homem estava passando. Ele era levada para a Câmara da Iniciação, e era estendido no chão com seus braços abertos, algumas vezes sobre uma cruz de madeira, algumas vezes apenas sobre o chão de pedra, numa postura de crucificado.
Então ele era tocado com o tirso no coração – a “lança” da crucificação – e, deixando o corpo, passava para os mundos além, caindo o corpo em um profundo transe, a morte do crucificado. O corpo era colocado em um sarcófago de pedra e deixado lá, guardado cuidadosamente. Enquanto isso o próprio homem estava pela primeira vez explorando as regiões obscuras chamadas de “o coração da Terra”, e depois ia até a montanha celeste, onde era colocado em seu Corpo de Bem-aventurança aperfeiçoado, agora plenamente organizado como veículo de consciência. Neste corpo ele voltava ao corpo de carne, para reanimá-lo. A cruz que sustentava aquele corpo, ou o corpo rígido e em transe, se não fora usada uma cruz, era tirado do sarcófago e colocado em uma rampa com a face para o leste, pronto para o nascimento do sol no terceiro dia. No momento em que os raios do sol tocavam sua face, o Cristo, o Iniciado perfeito ou Mestre, entrava novamente no corpo de carne, glorificando-o com o corpo de beatitude que estava usando, mudando o corpo de carne através de seu contato com o corpo de beatitude, dando-lhe novas propriedades, novos poderes, novas capacidades, transmutando-o à Sua própria semelhança. Esta era a Ressurreição do Cristo, e depois disto o próprio corpo de carne era modificado, e assumia uma outra natureza.
Este é o motivo de o sol ter sido sempre tomado como símbolo do Cristo ressurrecto, e o porquê de, nos hinos pascais, haver constante referência ao nascer do Sol da Justiça. O mesmo é escrito sobre o Cristo triunfante: “Eu sou aquele que vivia e morreu; mas vêde, eu vivo para sempre, amém; e tenho as chaves do inferno e da morte” (Apocalipse, I, 18). Todos os poderes dos mundos inferiores foram dominados pelo Filho, que triunfou gloriosamente; a morte já não tem poder sobre Ele, “Ele tem a vida e a morte em Sua mão poderosa” (H.P.Blavatsky, The Voice of the Silence, p. 90, 5ª ed.). Ele é o Cristo ressuscitado, o Cristo triunfante.
A Ascensão do Cristo era o Mistério da terceira porção do corpo espiritual, a investidura de uma Túnica de Glória, preparatória para a união do Filho com o Pai, quando o Espírito adentrava novamente a glória que tinha "antes que o mundo existisse" (Apocalipse, XVII, 5). Então o Espírito trino se tornava uno, sabia-se eterno, e encontrava o Deus oculto. Isto é o que é desenhado da doutrina da Ascensão, até onde interessa ao indivíduo.
A Ascensão para a Humanidade será quando toda a raça tiver atingido a condição Crística, o estado de Filho, e quando o Filho se tornar uno com o Pai, e Deus for tudo em todos. Esta é a meta, prefigurada no triunfo do Iniciado, mas atingida somente quando a raça humana estiver perfeita, e quando "a grande órfã Humanidade" já não for mais órfã, mas reconhecer-se conscientemente como Filha de Deus.
Estudando assim as doutrinas da Expiação, da Ressurreição e da Ascensão, chegamos às verdades desveladas correlatas existentes nos Mistérios Menores, e começamos a entender a plena verdade do ensino apostólico de que Cristo não foi uma personalidade única, mas "as primícias dentre os que dormem" (I Coríntios, XV, 20), e que todo homem há de se tornar um Cristo.
Tampouco o Cristo era considerado um Salvador externo, por cuja reputada justiça os homens se veriam livres da ira divina. Era corrente na Igreja o ensino glorioso e inspirador de que Ele era apenas os primeiros frutos da humanidade, o modelo que todo homem deveria reproduzir em si mesmo, a vida que todos deveria partilhar. Os Iniciados sempre forma considerados como alguns destes primeiros frutos, a promessa de uma raça tornada perfeita. Para os primeiros Cristãos, Cristo era o símbolo vivente de sua própria divindade, o fruto glorioso da semente que traziam em seu próprio coração. O ensinamento Cristão nos Mistérios Menores era não o de sermos salvos por um Cristo externo, mas sermos glorificados em um Cristo interior. A etapa do discipulado devia dar lugar à da Filiação. A vida do Filho devia ser vivida entre os homens até que fosse encerrada pela Ressurreição, e o Cristo glorificado se tornasse um dos Salvadores Perfeitos do mundo.
Um Evangelho bem maior do que o dos dias de hoje! Colocado ao lado do grandioso ideal do cristianismo esotérico, o ensinamento exotérico das igrejas parece realmente estreito e pobre.