As doutrinas fundamentais do Espiritualismo, diz Huxley, "estão fora dos limites da investigação filosófica". Seremos bastantes audazes para contradizer tal asserção, e dizemos que elas estão muito mais dentro desses limites do que o protoplasma de Huxley. Ainda mais que elas oferecem fatos palpáveis e evidentes da existência do espírito, e as células protoplasmáticas, uma vez mortas, não apresentam absolutamente nada das origens ou das bases da vida, como este autor, um dos poucos "pensadores de proa do presente", nos quer fazer acreditar.
Os antigos cabalistas não se demoravam numa hipótese, se a base desta não estivesse estabelecida sobre a rocha sólida das experiências comprovadas.
Mas a exagerada subordinação aos fatos físicos ocasiona a pujança do materialismo e a decadência da espiritualidade e da fé. Ao tempo de Aristóteles, era essa a tendência de pensamento dominante. E embora
o preceito délfico ainda não tivesse sido completamente eliminado do pensamento grego, e alguns filósofos ainda sustentassem que "para saber o que o homem é, devemos saber o que o homem foi, o materialismo já tinha começado a corroer a fé pela raiz. Os próprios mistérios haviam se degenerado ao extremo em meras especulações sacerdotais e fraudes religiosas. Poucos eram os verdadeiros adeptos e iniciados, os herdeiros e os descendentes daqueles que foram dispersados pelas espadas conquistadoras de vários invasores do Antigo Egito.
O tempo predito pelo Hermes em seu diálogo com Esculápio tinha deveras chegado; o tempo em que estrangeiros ímpios iriam acusar o Egito de adorar monstros, em que nada iria sobreviver de suas instituições, a não ser as inscrições gravadas na pedra sobre os monumentos - enigmas incríveis para a posteridade. Seus escribas e seus hierofantes erravam sobre a Terra. Obrigados pelo medo da profanação dos santos mistérios a procurar refúgio entre as confrarias herméticas - conhecidas mais tarde sob o nome de essênios, seus conhecimentos esotéricos foram então mais do que nunca sepultados profundamente. A espada triunfante do discípulo de Aristóteles removera de sua trilha de conquista todo vestígio de uma outrora pura religião, e o próprio Aristóteles, tipo e protótipo de sua época, embora instruído na ciência secreta dos egípcios, pouco conheceu desses soberano redundados de milênios esotéricos.
Nossa ciência moderna reconhece um Poder Supremo, de um Deus pessoal. Logicamente, pode-se contestar que existe uma diferença entre as duas idéias, pois, no presente caso, o Poder e o Ser são idênticos. A razão humana imagina com dificuldade um Poder Supremo inteligente, se não o associa à idéia de um Ser Inteligente. Não esperamos que as massas ignorantes tenham uma clara concepção da onipotência e da onipresença de um Deus Supremo sem dotar tais atributos de uma gigantesca projeção de sua própria personalidade. Mas os cabalistas jamais consideraram o invisível UNSOPH EN-SOPH, O infinito ou ilimitado. senão como um Poder.