A palavra “Carma” significa, simplesmente, Ação. A conotação da palavra, entretanto, é de longo alcance, porque está muito mais ligada a uma ação que se realiza do que as pessoas comuns podem imaginar. Cada ação tem um passado que a leva a existir e tem um futuro que nela tem sua origem. Uma ação implica o desejo que a sugeriu e o pensamento que a delineou, bem como um movimento visível, que chamamos de “ato” e que habitualmente está ligado a ela. Cada ato é o elo de uma cadeia infinita de causas e efeitos, cada efeito tornando-se uma causa, e cada causa tendo sido um efeito. Cada elo dessa cadeia infinita está soldado a três componentes: desejo, pensamento e atividade. Um desejo estimula o pensamento, um pensamento incorpora-se num ato. Às vezes é um pensamento, na forma de lembrança, que desperta o desejo, e o desejo se transforma em ação. Mas os três componentes — dois invisíveis e um visível, os dois primeiros pertencendo à consciência e o último ao corpo — ali estão. Para falar com perfeita clareza, o ato também está na consciência como uma imagem, antes de ser concretizado como movimento físico. O Desejo — ou Vontade —, o Pensamento e a Atividade são as três formas de consciência.
Essa relação do desejo, do pensamento e da atividade como “Ação”, e a infinita interligação dessas ações como causas e efeitos, estão todas incluídas na palavra Carma. Trata-se de uma sucessão que a natureza reconhece, isto é, trata-se de uma Lei. Assim, em nosso idioma, podemos chamar o Carma de “Causação” ou Lei da Causação. Sua definição específica é: “A Ação e a Reação são iguais e opostas.” Sua definição religiosa não pode ser mais bem exposta do que no conhecido versículo da Escritura Cristã: “Aquilo que o homem semeia, isso ele colherá.” Às vezes ela é chamada de Lei do Equilíbrio porque, onde quer que o equilíbrio seja perturbado, há uma tendência da Natureza para restaurar a condição de equilíbrio.
O Carma é, assim, a expressão da Natureza Divina em seu aspecto de Lei. Está escrito: “Em quem não há variabilidade, nem sombra de alteração.” A inviolabilidade da ordem natural, a exatidão da ordem natural, a absoluta autenticidade da Natureza — são os fortes fundamentos do Universo. Sem elas não poderia haver ciência, nem certeza, nem raciocínio vindo do passado, nem prognóstico para o futuro. A experiência humana se tornaria inútil, e a vida seria algo irracionalmente caótico.
O que o homem semeia, isso ele colherá. Isso é Carma. Se ele quiser arroz, deve semear arroz. É inútil plantar vinhas e esperar rosas; é ocioso plantar cardos e aguardar trigo. No mundo moral, como no mental, a Lei é igualmente imutável; inútil será semear ociosidade e esperar uma colheita de conhecimentos; semear negligência e esperar discernimento; semear egoísmo e aguardar amor; semear medo e esperar coragem. Esse ensinamento, verdadeiro e sadio, leva o homem a estudar as causas que está criando com seus desejos diários, com seus pensamentos e ações, e a compreender qual será a sua inevitável colheita. Esse ensinamento leva-o a abrir mão de todas as enganosas ideias de “perdão”, de “expiação através de um substituto”, de “misericórdia divina”, e do resto dos opiatos que a superstição oferece ao pecador. Com a força de um toque de clarim, esse ensinamento brada a todos os que procuram drogar-se para se sentirem em paz: “Não se enganem. Deus não se deixa iludir: o que quer que um homem semeie, isso ele colherá.”
Esse é o lado de advertência da lei, mas notem o seu lado de encorajamento. Se há uma lei no mundo mental, como no moral, nós podemos construir o nosso caráter. O pensamento produz qualidade e a qualidade produz o caráter. “Tal como um homem pensa, ele é.” “O homem é criado pelo pensamento; o homem torna-se naquilo que pensa. “Se pensamos em coragem, colocaremos coragem em nosso caráter. O mesmo quanto a pureza, paciência, altruísmo e autocontrole. O pensamento firme, perseverante, estabelece um hábito definido na mente, e esse hábito se manifesta como uma qualidade do caráter. Podemos construir o nosso caráter, a nossa personalidade, com tanta certeza como o pedreiro pode construir uma parede, se trabalharmos com a Lei e através da Lei. O caráter é o fator mais poderoso no nosso destino, e construindo um caráter nobre podemos garantir um destino útil para prestar serviço à humanidade. Assim como sofremos pela Lei, nós triunfamos pela Lei. A ignorância da Lei é que nos deixa como um barco sem leme, à deriva. O seu conhecimento nos fornece o leme com o qual podemos guiar o nosso barco sempre que quisermos.