O Karma Coletivo

Enviado por Estante Virtual em sab, 17/12/2011 - 21:46

A reunião das Almas em grupos formando famílias, castas, nações, raças, introduz um novo elemento de confusão nos resultados kármicos e daí provém aquilo a que se chama "os acidentes" e as adaptações que os Senhores do Karma estão continuamente fazendo. Embora a um homem nada possa acontecer além daquilo que se encontra no seu "Karma individual", parece, contudo, que uma grande catástrofe nacional, um tremor de terra, por exemplo, pode servir de pretexto para ele esgotar uma certa quantidade de mau Karma, que, em condições normais, não seria afetado no seu período de existência atual. Parece — tudo que eu digo a este respeito é apenas com um caráter especulativo, porque não tenho sobre este ponto conhecimentos especiais — que a morte súbita não pode suprimir o corpo de um homem a não ser que a sua morte seja em decorrência da lei; pouco importa o turbilhão de catástrofes e desgraças em que possa estar envolvido; será um dos que "escapam por milagre", como costuma dizer-se, no meio da morte e da ruína que tragou os seus vizinhos, a tempestade ou a explosão passarão sem lhe fazer mal. Mas se ele deve uma vida, ou se o seu Karma nacional ou familiar o atraiu para a zona de ação de uma destas catástrofes, não há intervenção nenhuma que o possa salvar, mesmo que a morte súbita não faça parte da trama do Linga Sharira relativo à vida presente. Quando morreu, já se tinham tomado medidas para que não viesse a sofrer injustamente pela sua ex- pulsão súbita da vida terrestre; mas teve a faculdade de pagar a sua dívida no momento em que se deu essa eventualidade, faculdade que lhe foi posta ao alcance da lei, pelo Karma coletivo que o envolve. Da mesma forma, pode vir a tirar partido desta ação indireta da lei, se, por exemplo, pertence a um país que goza dos efeitos de um bom Karma nacional; pode assim receber o montante de uma dívida que a Natureza não saldaria na vida presente, se apenas entrasse no débito e no haver do Karma individual.

O nascimento de um indivíduo nesta ou naquela nação é função de certos princípios gerais de evolução e, também, dos característicos que lhe são próprios. No seu lento desenvolvimento, a Alma não tem de passar apenas pelas sete raças raízes de um globo (refiro-me à evolução normal da humanidade) mas também pelas sete sub-raças.

Esta necessidade impõe certas condições pela qual a Alma deve passar. Tem-se notado que, em pontos onde se tem podido seguir longas séries de reencarnações, certos indivíduos progridem regularmente de sub-raça em sub-raça, ao passo que outros são mais errantes e se reencarnam por vezes repetidamente nesta ou naquela sub-raça. Embora sempre dentro dos limites da sub-raça, as características individuais do homem atraem-no para certa nação, e é fácil assinalar a reaparição "em bloco", no teatro da história, das características nacionais dominantes, depois de um intervalo normal de mil e quinhentos anos. E assim vemos romanos encarnados hoje como ingleses, reaparecendo o seu espírito empreendedor, os seus instintos de colonização, conquista e domínio como características nacionais da Inglaterra. O homem com tais características nacionais fortemente acentuadas pode, chegado o momento do renascimento, ser atraído para a nação inglesa pelo seu Karma e compartilhar o destino dessa nação, para o bem ou para o mal, nos limites em que o destino de um país pode afetar a sorte de um indivíduo.

Evidentemente o laço familiar é de um caráter mais geral que o nacional, pelo que se conclui que aqueles que se ligaram por laços íntimos de afeição tendem a renascer em membros de uma mesma família. Por vezes, esses laços encontram-se com persistência em duas vidas, e por isso os destinos de dois indivíduos podem achar-se intimamente ligados nas encarnações sucessivas.

Outras vezes — em virtude da diferença de duração dos Devachâns, diferença ocasionada pela maior ou menor atividade intelectual e espiritual durante as vidas passadas juntamente na terra — os membros de uma família aparecem disseminados e só se voltam a encontrar muitas reencarnações depois. De uma maneira geral, pode afirmar-se que a probabilidade de renascimento num mesmo grupo familiar é função da intimidade dos laços existentes nas regiões superiores da vida. E nisto também influem os Karmas entrechocados da família do indivíduo, que vão afetar o seu Karma individual; daí resulta um indivíduo poder aproveitar-se deles' com vantagem ou achar-se sacrificado pela sua influência, sem que para isso concorra diretamente o Karma pessoal, saldando, assim, dívidas kármicas, por assim dizer, antes do prazo.

Parece, porém, que este fato traz consigo uma certa compensação — no que diz respeito à personalidade — na passagem no Kama-Loka e no Devachân, para que se faça inteira justiça à personalidade efêmera.

O funcionamento detalhado do Karma coletivo levar-nos-ia para além dos limites de um trabalho elementar, como é este, e ultrapassaria mesmo os conhecimentos do autor. Limitamo-nos, pois, a apresentar ao estudante ligeiros fragmentos. Para perfeita compreensão do assunto tornar-se-ia necessário estudar inúmeros casos individuais e segui-los durante muitos milhares de anos. Sobre estes assuntos é ocioso fazer conjecturas; o que é preciso, é observar com paciência e perseverança.

Há, contudo, um outro aspecto do Karma coletivo. sobre o qual se podem dizer algumas palavras: é a relação existente entre os pensamentos, os atos do homem e os aspectos da natureza exterior.

Sobre este obscuro assunto, damos a palavra a Madame Blavatsky:

Depois de Platão, Aristóteles explicou que o termo elemento representava apenas os princípios incorporais colocados nas quatro grandes divisões do nosso mundo cósmico para o vigiar. Assim os pagãos não adoram, como crêem os cristãos, nem respeitam os elementos e os pontos cardinais imaginários, mas sim os "Deuses" que governam cada um deles. Para a Igreja, existem duas espécies de seres siderais: os Anjos e os Demônios; para o Kabalista e para o Ocultista, há apenas uma classe desses seres, e nem o kabalista nem o ocultista fazem diferença entre "Retores da Luz", e os "Retores das Trevas" ou Cosmocratores que a Igreja romana imagina e descobre nos "Retores da Luz", visto um deles ser chamado com um nome diferente daquele que lhe dá Não é o Retor ou o Mahârâjah quem castiga ou recompensa com ou sem permissão ou ordem de "Deus"; é o próprio homem que o faz. Porque os atos ou o seu Karma atraem individual e coletiv-mente (às vezes nações inteiras) toda a espécie de males e de calamidades. Nós produzimos Causas e estas despertam os poderes correspondentes do mundo sideral, que são então magneticamente, irresistivelmente atraídos para os criadores dessas causas e reagem sobre eles, quer estes sejam apenas malfeitores por obras ou simplesmente "pensadores" que chocam ações más. A ciência moderna ensina efetivamente que o pensamen to é matéria e que "toda a partícula de matéria existente deve registrar tudo o que aconteceu".

Assim o anunciam nos seus "Princípios da Ciência", Jevons e Babbage. Cada dia que passa atrai com redobrada força a ciência moderna para a corrente do ocultismo, atração inconsciente, é certo, mas extremamente sensível.

"O pensamento é matéria", mas não no sentido do materialista alemão Moleschott que afirma que "o pensamento é o movimento da matéria" — fórmula de um absurdo quase sem igual. Os estados mental e físico aparecem-nos assim em franca oposição. Mas isso não altera a asserção de que todo o pensamento apresenta, a mais do que o seu acompanhamento físico, um aspecto objetivo — embora de uma objetividade supra-sensorial para nós — no plano astral(1).

Parece que quando há da parte dos homens uma grande produção de formas-pensamentos de caráter destrutivo, coincidindo com a aglomeração no plano astral de grandes massas de forças, a sua energia pode ser, e é muitas vezes, projetada no plano físico, dando lugar a guerras, revoluções e perturbações de todas as espécies, que vêm a ferir, como Karma coletivo, os seus progenitores; e, assim, o homem é; sob o ponto de vista coletivo, também, senhor do seu destino, e o mundo onde ele evolui toma forma sob a influência da sua ação criadora.

As epidemias de crimes e de doenças, os ciclos de acidentes podem explicarse de maneira análoga. As formas-pensamentos de cólera concorrem para a perpetração de assassinatos; os elementais desta categoria nutrem-se do crime, e os resultados do crime — os pensamentos de ódio e de vingança da parte daqueles que eram afetos à vítima, o ressentimento feroz e o furor impotente do criminoso ao ver-se expulso à força deste mundo — ajudam a reforçar os seus semelhantes com uma quantidade de forças maléficas. Estas, do plano astral onde estão, incitam o homem mau a novos crimes, e assim se inaugura um novo ciclo de novas impulsões que determinam uma epidemia de atos violentos.

Espalham-se doenças e os pensamentos de terror que lhes acompanham os progressos têm uma ação direta que reforça o poder do mal; aparecem perturbações magnéticas, propagam-se e reagem no campo magnético daqueles que se encontram na sua esfera de influência.

Em resumo, de mil maneiras e por todos os lados, os pensamentos maus do homem causam devastações; e o homem que devia ser um divino colaborador na construção do Universo emprega os seus poderes criadores na destruição e no retrocesso do Grande Esquema Divino.

 


Notas do capítulo:

  1. A Doutrina Secreta, I.

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