O abstrato e o concreto

Submitted by Estante Virtual on Sun, 12/02/2012 - 03:45

P: Solicito que esclareça um pouco mais essa diferença.

T: A Sociedade é uma grande corporação de homens e mulheres, composta de elementos os mais heterogêneos. A Teosofia em sua significação abstrata é a Sabedoria Divina, ou a síntese da ciência e sabedoria que sustem o universo -- a homogeneidade do eterno bem; e em seu sentido concreto, é somente a soma total do mesmo, concedida ao homem pela natureza nesta Terra. Alguns membros se esforçam sinceramente em viver verdadeiramente a Teosofia, objetivando-a; enquanto que outros desejam apenas saber, sem praticar; e há ainda os que entraram na Sociedade unicamente por curiosidade ou por interesse passageiro, ou talvez porque algum amigo fazia parte dela. Como se pode, portanto, julgar o sistema com o critério dos que querem ostentar o nome sem nenhum direito a ele? Devemos julgar a poesia apenas pelos que pretendem ser poetas mas só nos ferem os ouvidos? Somente em seus objetivos e motivos abstratos, a Sociedade pode ser julgada como representação exterior da Teosofia; jamais poderá pretender ser seu veículo concreto, enquanto todas as debilidades e imperfeições humanas se encontrem nela; de outro modo a Sociedade não faria mais do que repetir o grande erro e os sacrilégios das chamadas Igrejas de Cristo. Se nos for permitida uma comparação oriental, diremos que a Teosofia é o oceano infinito da verdade universal, do amor e sabedoria que se reflete na Terra, enquanto que a - Sociedade Teosófica é tão-só uma bolha visível desse reflexo. A Teosofia é a natureza divina, visível e invisível, e a Sociedade que leva seu nome, a natureza humana esforçando-se em se elevar até à primeira. A Teosofia, enfim, é o sol fixo e eterno, e a Sociedade o cometa que trata de entrar em sua órbita para converter-se em planeta, girando eternamente sob a atração do sol da verdade. Foi formada para ajudar a demonstrar aos homens que existe uma coisa chamada Teosofia, dando meios de alcançá-la, elevando-se até ela pelo estudo e assimilação de suas verdades eternas.

 

P: Mas não foi dito que não havia princípios ou doutrinas especiais?

T: E não as temos. A Sociedade não possui uma sabedoria própria para defender ou ensinar. É simplesmente o receptáculo de todas as verdades expostas pelos grandes videntes, iniciados e profetas de todas as idades históricas e mesmo pré-históricas, ao menos de tudo o que possa reconhecer. Em conseqüência, é somente o órgão pelo qual os fragmentos da verdade que se encontram nos ensinamentos acumulados dos grandes Mestres do mundo, são recolhidos e expostos aos homens.

 

P: Mas é impossível alcançar semelhante verdade fora da Sociedade? Cada Igreja não aspira exatamente a isso?

T: A existência inegável de grandes iniciados -- verdadeiros "Filhos de Deus" — demonstra que tal sabedoria foi alcançada freqüentemente por indivíduos isolados, mas jamais, sem dúvida, sem a direção de um mestre.

Mas muitos dos discípulos, também por sua vez convertidos em instrutores, reduziram a universalidade dos ensinamentos na medida de seus próprios dogmas sectários. Os mandamentos de um só Mestre eleito foram adotados e seguidos, com exclusão de todos os demais (se é que foram seguidos, levando-se em conta o que sucede com o Sermão da Montanha). Cada religião é, portanto, um fragmento da verdade divina, que ilumina um vasto panorama da fantasia humana, e pretende representar e replantar aquela verdade.

 

P: Mas não foi dito que a Teosofia não é uma religião?

T: Seguramente não o é, uma vez que é a essência de toda religião e da verdade absoluta, uma gota da qual alimenta cada credo. Empregando novamente uma metáfora, diremos que a Teosofia na Terra é como um raio branco do espectro solar, e cada religião é somente uma das sete cores prismáticas. Ignorando todos os outros e tachando-os de falsos, não só reivindica a cada raio de cor a prioridade, como sustenta que é o raio branco mesmo, e anatematiza até mesmo seus matizes — desde os claros como os escuros — como heresias. Sem dúvida, como o sol da verdade se eleva cada vez mais no horizonte da percepção do homem, e em cada raio de cor se desvanece gradualmente até que seja reabsorvido, não será já ao fim atormentada a humanidade com polarizações artificiais, mas sim poderá gozar da pura e branca luz da verdade eterna. E esta será a Teosofia.

 

P: Pretendem provar que todas as grandes religiões procedem da Teosofia, e que pela assimilação dela o mundo poderá por fim salvar-se de suas grandes ilusões e erros?

T: Precisamente. E acrescentamos que nossa Sociedade Teosófica é a humilde semente que, se bem regada e deixada em condições de viver, há de produzir por fim a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, que está enxertada na Árvore da Vida Eterna. Porque unicamente estudando as grandes religiões e filosofias da humanidade, comparando-as desapaixonadamente e com ânimo livre de prejulgamentos, é como os homens podem conseguir a verdade. Especialmente analisando os vários pontos de conformidade, é o melhor caminho para o fim pretendido. Sempre que chegamos — ou por estudo, ou porque alguém que sabe nos ensinou - - a compreender a significação íntima de religiões ou filosofias, sempre encontramos alguma grande verdade da natureza.

 

P: Sempre ouvimos falar de que existiu uma Idade de Ouro, e essa descrição seria uma Idade de Ouro realizável no futuro. Quando chegará?

T: Nunca antes que a humanidade inteira sinta necessidade dela. Uma máxima da obra persa Javidan Khirad diz: "A verdade é de duas classes - - uma manifesta e evidente por si, e outra que requer constantemente novas provas e demonstrações". Somente quando esta última classe de verdade se converter em uma evidência tão universal e óbvia como atualmente é obscura (e, em conseqüência, sujeita a ser alterada pelo sofisma e a casuística); só quando essas duas classes de verdade voltarem a fundir-se, se poderá conseguir a unidade de crenças nos homens.

 

P: Mas os poucos que sentiram a necessidade de tais verdades tiveram que optar por uma crença definida qualquer. Se a Sociedade não tem doutrinas próprias, cada membro tem liberdade de crer o que lhe pareça, e aceitar aquilo que lhe convenha. Parece que a Sociedade está disposta a ressuscitar a confusão de línguas e crenças da antiga Torre de Babel. Não há crenças comuns?

T: Dizer que a Sociedade não tem doutrinas ou crenças próprias ou particulares, significa que não são obrigatórias crenças ou doutrinas especiais em seus membros; mas é evidente que isto se refere somente à Sociedade em geral, que está dividida, conforme já dissemos, em externa e interna. Os que pertencem a esta última, possuem naturalmente uma filosofia ou — se preferir — um sistema religioso próprio.

 

P: Podemos saber em que consiste?

T: Não fazemos segredo dele. Há poucos anos atrás foi esboçado no The Theosophist e em O Buddhismo Esotérico, e será encontrado ainda mais desenvolvido em A Doutrina Secreta. É fundamentado na mais antiga filosofia do mundo, chamada religião da Sabedoria ou Doutrina Arcaica.

Sobre isso, pode fazer as perguntas que achar convenientes.

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