A palavra Teosofia está agora nos lábios de muita gente, e, assim como M. Jourdain falava em prosa sem saber do que se tratava, muitos são teosofistas sem o saber. Porque Teosofia é Sabedoria Divina, e a Sabedoria é a luz que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Não pertence a ninguém com exclusividade; pertence a cada qual inclusivamente, e o poder de recebê-la é o direito de possuí-la; o fato dessa posse cria o dever de compartilhar. Toda religião, toda filosofia, toda ciência, toda atividade extrai o que tem de verdade e beleza da Sabedoria Divina, mas não pode reclamar a posse dela como coisa sua, contra as demais. A Teosofia não pertence à Sociedade Teosófica; a Sociedade Teosófica é que pertence à Teosofia.
Qual é a essência da Teosofia? É o fato de que o homem, sendo ele próprio divino, pode conhecer a Divindade, de cuja vida compartilha. Como corolário inevitável dessa verdade suprema, surge o fato da Fraternidade do Homem. A Vida divina é o espírito de tudo quanto existe, desde o átomo até o arcanjo; um grão de poeira não poderia existir se Deus estivesse ausente dele, e o mais elevado Serafim não passa de uma faísca saída do Fogo eterno, que é Deus. Os que compartilham de uma Vida, formam, reunidos, uma Fraternidade. A imanência de Deus, a solidariedade do Homem, eis as verdades básicas da Teosofia.
Seus ensinamentos secundários são aqueles comuns aos ensinamentos de todas as religiões, vivas ou mortas: a Unidade de Deus; Sua Natureza Tríplice; a descida do espírito para a matéria, e daí as hierarquias das inteligências, das quais a humanidade é uma; o crescimento da humanidade pelo desdobramento da consciência e pela evolução dos corpos, isto é, pela Reencarnação; o progresso desse crescimento sob lei, inviolável, a lei da causalidade, isto é, o carma; o ambiente para esse crescimento, os três mundos, o físico, o astral e o mental, ou a Terra, o mundo intermediário, e o céu; a existência de Mestres divinos, homens sobre-humanos.
Todas as religiões ensinam, ou ensinaram, essas coisas, embora de vez em quando um ou outro desses ensinamentos possa ficar temporariamente em segundo plano; mas eles sempre reaparecem — tal como a doutrina da reencarnação que saiu do Cristianismo eclesiástico e agora está retornando a ele. Estava submersa, mas emerge novamente.
A missão da Sociedade Teosófica como um todo é difundir essas verdades em todas as nações, embora não se imponha a qualquer membro, individualmente, a aceitação de qualquer delas. Deixa-se absoluta liberdade a cada membro, para estudar como lhe parecer, para aceitar ou rejeitar; mas se a Sociedade, como coletividade, deixasse de aceitar e difundir essas verdades, também deixaria de existir.
Essa unidade de ensinamentos entre as religiões do mundo deve-se ao fato de todas elas terem sido fundadas por membros da Fraternidade de Mestres divinos, que têm a custódia da Divina Sabedoria, da Teosofia. Dessa Fraternidade surgem, de vez em quando, os Fundadores de novas religiões, que sempre trazem consigo os mesmos ensinamentos, mas dão-lhes forma condizente com as condições da época, de acordo com o estágio intelectual do povo em cujo meio Eles aparecem, seu tipo, suas necessidades, sua capacidade. Os pontos essenciais são sempre os mesmos; os não essenciais variam. A identidade aparece nos símbolos que vemos em todos os tipos de fé, porque os símbolos formam a linguagem comum a todas as religiões. O círculo, o triângulo, a cruz, o olho, a estrela, entre muitos outros, sempre trazem o testemunho silencioso da unidade fundamental das religiões do mundo. Compreendendo isso, a Sociedade Teosófica atende a cada religião em seu próprio domínio e as reúne todas na Fraternidade.
A Teosofia constrói seus ensinamentos morais sobre a Unidade, vendo em cada forma a expressão de uma Vida comum. Daí considerar que o que fere a uma fere a todas. Fazer o mal, isto é, lançar veneno no sangue-vida da humanidade, é crime contra a Unidade. A Teosofia não tem código de ética, por ser em si mesma a corporificação da mais alta moralidade. Ela apresenta aos estudantes os mais altos ensinamentos de todas as religiões, reunindo as flores mais fragrantes dos jardins da fé no mundo. Sua Sociedade não tem código, porque qualquer código que fosse imposto com generalidade estaria correspondendo à média do nível mais baixo da época. E a Sociedade busca elevar seus membros acima do nível comum, mostrando-lhes sempre os mais altos ideais, e infundindo neles as mais elevadas aspirações. Ela busca desenvolver a lei interior e não impor a lei exterior. Seu modo de proceder com os menos evoluídos dos seus membros não é a expulsão, mas a reforma.
A incorporação da Sabedoria Divina numa organização forma um núcleo, a partir do qual as forças da vida podem irradiar. Novo e sólido vínculo é assim formado entre o mundo espiritual e o material. E é, na grande verdade, um Sacramento, “o signo exterior e visível de uma graça interior e espiritual”, um testemunho da Vida de Deus no Homem.