Características Gerais do Plano Mental

Submitted by Estante Virtual on Wed, 12/14/2011 - 20:33

Talvez a maneira menos embaraçosa de abordar este dificílimo tema seja a descrição daquilo que um discípulo vê pela primeira vez ao contemplar o mundo celeste. Intencionalmente me refiro a um discípulo, pois a menos que esteja em relação com um Mestre de Sabedoria, não é possível focalizar plena mente a consciência no mundo celeste e retornar à terra com clara recordação do que ali percebeu. Do plano mental não vêm complacentes "espíritos" para soltar vulgaridades pela boca , de médiuns profissionais. Nem até o plano mental se alçam os clarividentes comuns, conquanto os mais puros e sinceros, quando desligados de seus hipnotizadores, tenham caído emêxtase profundo e se transportado ao mundo mental, mas só trouxeram ao mundo físico a tênue recordação de uma intensa e indescritível felicidade, geralmente colorida por suas crenças religiosas pessoais. Ao terminar a vida astral, quando o Ego se retrai em si mesmo e transporta sua consciência ao plano mental, já não são suficientemente poderosos para pô-lo em comunicação com o mundo físico, nem angustiosos pensamentos de seus parentes, nem as seduções dos círculos espiritistas. É necessário que se consumam as forças espirituais que ele atualizou durante sua vida terrena e se ache em condições de assumir um novo corpo físico. Mas, ainda que lhe fosse possível retornar à Terra, seu relato não nos daria verdadeira idéia do plano mental, porque, como veremos adiante, unicamente percebem a glória e a formosura do mundo celeste os que ali entram com plena consciência e atuam livremente.

Formosa descrição. - É a que um eminente ocultista inseriu numa de suas primeiras cartas(1) com o objetivo de que se aprendesse de memória, e é a seguinte:

"Nosso Senhor Buda disse: Milhares de miríades de mundos além deste, há uma região de felicidade chamada Sukhâvati. Está circundada por sete fileiras de balaustradas, sete fileiras de amplas cortinas e sete fileiras de ondulantes árvores. Esta sagrada mansão dos Arhats é governada por Tathagatas e possuída pelos Bodhisatvas. Há nela sete formosas lagoas em meio das quais fluem águas cristalinas com sete qualidades sintetizadas em uma. Esta morada, ó Sariputra, é o Devacan. A Udumbara, sua divina flor, cria raízes na sombra de cada terra e floresce para todos que a alcançam. Verdadeiramente felizes são os nascidos nesta bem-aventurada região, que atravessaram a áurea ponte e chegaram às sete montanhas de ouro. Já não há neste ciclo nem tristeza nem dor para eles".

Ainda que veladas pelas primorosas imagens do Oriente, podemos descobrir na citada passagem algumas das principais características que mais assinaladamente aparecem nos relatos de nossos modernos investigadores.

As "sete montanhas de ouro" são seguramente os sete subplanos do mundo mental separados por impalpáveis, porém efetivas barreiras simbolizadas nas sete fileiras de balaústres, nas sete amplas cortinas e nas sete ondulantes árvores. As sete espécies de água cristalina com suas distintivas propriedades e qualidades representam as diferentes condições e faculdades da mente, sintetizadas na que assegura aos habitantes do mundo mental a mais intensa felicidade que sejam capazes de gozar. A flor enraizada na sombra de cada terra significa que cada mundo físico tem seu céu correspondente; e a felicidade que nenhuma língua pode expressar é o florescimento que brota para quantos vivem nas terras de modo que se capacitem para alcançá-lo, porque atravessaram a áurea ponte estendida sobre o rio que separa o mundo mental do mundo do desejo, e terminou para eles a luta entre a natureza superior e a inferior, de modo que no ciclo da vida mental já não há tristeza nem dor, até que o Ego volte a encarnar e deixe atrás de si, durante algum tempo, o mundo celeste.

A felicidade do mundo celeste. - A intensiva felicidade é a primeira idéia capital em que devem basear-se nossos conceitos da vida celeste.

Tratamos de um mundo em que, por sua própria constituição, são impossíveis o mal e a tristeza; em que todos são felizes, pois cada qual goza da maior felicidade espiritual de que é capaz de gozar. É um mundo cujo poder de resposta de aspirações só está limitado pela capacidade do aspirante.

Pela primeira vez começamos no mundo celeste a perceber algo da natureza da Fonte de Vida. Pela primeira vez temos uma visão distante do que deve ser o Logos e do que Ele significa para nós. E quando a estupenda realidade do mundo celeste se desponta ante nossa atônita visão, não podemos deixar de sentir que com este conhecimento da verdade, a vida já não pode daí em diante parecer-nos como nos parecia até então. Admiramonos de toda insuficiência dos conceitos de felicidade tidos pelo homem mundano, poisa maioria deles está completamente invertida e é irrealizável, e marcha de costas para a meta que intenta alcançar, enquanto que no mundo celeste a verdade e a beleza transcendem os sonhos dos poetas; e à luz de sua sobrepujante glória, todo outro gozo parece sombrio, lânguido e enganoso.

Este radiante sentimento . da consciência de todo mal e discórdia, e da insistente e preponderante presença do absoluto gozo, é a primeira e mais intensa impressão experimentada por quem entra no mundo celeste, e este sentimento persiste enquanto ele ali permanece, seja qual for sua atividade, e ainda que, ao ir conhecendo as condições do novo mundo em que se encontra, descubra maiores possibilidades de exaltação espiritual.

Nunca se lhe desvanece o estranho e indescritível sentimento de inefável deleite que lhe infunde a existência de todos os seus habitantes.

Nada existe na terra comparável à felicidade celeste e ninguém é capaz de imaginá-la. Se se supusesse a vida infantil mil vezes mais espiritualizada do que a do homem, talvez tivéssemos nela uma débil idéia da felicidade no mundo mental; porém, ainda este símile está muito longe da inefável e estupenda vitalidade espiritual do mundo celeste.

Uma das manifestações desta intensa vitalidade é a extrema rapidez vibratória da matéria mental. Sabemos teoricamente que no mundo físico até a mais densa matéria sólida está em vibração; porém quando a visão astral nos mostra a positiva realidade desta hipótese científica, apercebemo-nos da universalidade da vida, o que antes não nos fora possível. Amplia-se o nosso horizonte mental e começamos a ter vislumbres de possibilidades da natureza, que ao homem comum lhe pareceriam fantásticos sonhos.

Se este é o efeito da aquisição da visão astral aplicada à matéria física, podemos supor o que experimentará o observador ao descobrir um novo mundo incomparavelmente superior ao astral em vividez vibratória, e cujas vibrações em relação ao físico são como as da luz em relação ao som.

No mundo mental a onipresente vida palpita em toda a parte, incessantemente, e com enorme elevação de tonalidade.

 


Notas do capítulo

  1. Nunca pude averiguar donde foi tirada a descrição; mas na obra de Beal: Cortena of Buddhic Scriptures, p. 378, aparece outra versão algo extensa.

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