Teosofia e ascetismo

Enviado por Estante Virtual em dom, 02/12/2012 - 21:06

P: Ouvi certas pessoas dizerem que suas regras exigem que todos os membros sejam vegetarianos, solteiros e ascetas rigorosos. Mas até agora não disse nada sobre isto. Diga-me a verdade.

T: A verdade é que nossas regras não exigem nada desse estilo. A Sociedade Teosófica nem sequer espera — e muito menos exige de nenhum de seus membros — que sejam ascetas de modo algum, a não ser que você chame ascetismo o esforçar-se em fazer o bem aos demais e a não ser egoísta.

 

P: Mas sem dúvida, muitos dos membros são vegetarianos estritos e confessam abertamente seu propósito de permanecer solteiros. Sucede freqüentemente com os que desempenham um papel importante, relacionado com a obra da Sociedade.

T: Isto é muito natural, porque muitos de nossos zelosos trabalhadores são membros da Seção Interna da Sociedade, sobre a qual já falei.

 

P:  Esta Seção Interna exige práticas ascéticas?

T: Não: nem sequer nesta as exigimos ou impomos; mas creio que será melhor explicar nosso ponto de vista com relação ao ascetismo em geral, e então vai compreender o do vegetarianismo e tudo o mais.

Como já disse, muitos dos que se convertem realmente em verdadeiros estudantes de Teosofia, e em trabalhadores ativos dentro da Sociedade, desejam fazer alguma coisa além de estudar teoricamente as verdades que ensinamos. Desejam conhecer a verdade por experiência pessoal e direta, e estudar ocultismo com o objetivo de adquirir sabedoria e poder para ajudar os outros de forma eficaz e justa, ao invés de agir às cegas e ao acaso. Por isso, cedo ou tarde, entram na Seção Interna.

 

P: Mas acabou de dizer que nem mesmo nessa Seção Interna são necessárias as "práticas ascéticas".

T: E não são. Mas a primeira coisa que aprendem é um conceito exato e verdadeiro da relação do corpo -  envoltura física - com o homem interno, ou seja, com o homem verdadeiro. A relação e a ação mútua entre esses dois aspectos da natureza humana lhes é explicada e demonstrada, e é assim que logo compenetram-se da importância suprema do homem interno, comparada com a cobertura exterior, ou corpo. É-lhes ensinado que o ascetismo cego e não inteligente é uma loucura; que conduzir-se como São Labro, ou como os faquires hindus e os ascetas dos bosques, que cortam, queimam e mortificam seu corpo do modo mais cruel e horrível, não é mais que um tormento próprio para alcançar fins egoístas, isto é, para desenvolver o poder da vontade, mas que é perfeitamente inútil para o objetivo de alcançar o desenvolvimento espiritual, real e verdadeiro, ou seja: teosófico.

 

P: Compreendo: somente é considerado como necessário o ascetismo moral. Ê como um meio para um fim, sendo este fim o perfeito equilíbrio da natureza interna do homem, e a consecução do domínio completo sobre o corpo, com todas suas paixões e desejos.

T; Precisamente. Mas esses meios devem ser usados inteligente e ajuizadamente, e não às cegas e sem discernimento; como um atleta que se exercita e se prepara para uma grande luta, não como o avarento que se mata de fome até ficar doente, para poder satisfazer sua paixão de ouro.

 

P: Agora compreendia a idéia geral, mas vejamos na prática como se aplica, por exemplo, com relação ao vegetarianismo.

T: Um grande sábio alemão demonstrou que toda carne animal, seja qual for a maneira de cozinhá-la, sempre conserva certas propriedades características do corpo de que fez parte, e que podem ser reconhecidas. Além disso, todos sabemos, pelo gosto, que tipo de carne estamos comendo. Nós vamos mais longe e provamos que, quando a carne dos animais é assimilada como alimento pelo homem, transmite-lhe - fisiologicamente - algumas das propriedades características do animal a que pertencia. Além disso, a ciência oculta ensina e prova a seus estudantes pela demonstração ocular, fazendo ver igualmente que esse efeito de "animalização" no homem é mais acentuado provindo da carne de animais maiores, menor se se trata de aves, ainda menos sendo de pescado e outros animais de sangue frio, e mínimo quando só come vegetais.

 

P: Então seria melhor que não comesse nada!

T: Indubitavelmente, se pudesse viver sem comer. Mas, já que se precisa comer para viver, aconselhamos os estudantes realmente zelosos, que escolham o alimento que tenha influência menos pesada sobre seu cérebro e seu corpo, e cujo efeito de atrapalhar ou atrasar o desenvolvimento de sua intuição, faculdades internas e poderes seja o menor possível.

 

P: Então adotam todos os argumentos de que costumam valer-se geralmente os vegetarianos?

T: Certamente que não. Alguns de seus argumentos são muito débeis e freqüentemente baseados em suposições inteiramente falsas. Mas, de outro lado, dizem muitas coisas completamente certas. Acreditamos, por exemplo, que muitas enfermidades, e particularmente a predisposição para elas, que tanto se vem observando em nossa época, são devidas em grande parte ao uso da carne, especialmente da carne em conserva. Mas ficaria muito longo tratar a fundo a questão do vegetarianismo do ponto de vista de seus méritos. Melhor passar a outro assunto.

 

P: Só mais uma pergunta: que devem jazer os membros da Seção Interna quando estão doentes, com relação aos alimentos?

T: Como é natural, seguir o melhor conselho prático possível. Não compreendeu ainda que jamais impomos obrigações absolutas sobre este ponto? Tenha sempre em mente que, em todas as questões deste gênero, consideramos as coisas racionalmente, e nunca no sentido fanático. Se por causa de doença ou hábito muito antigo um homem não pode privar-se de carne, que não se abstenha dela de modo nenhum. Não é um crime: apenas atrasa um pouco seu progresso, e, além de tudo, os atos e funções corporais têm muito menos importância que o que o homem pensa e sente, que os desejos que animam sua mente, permitindo-lhes criar raízes e desenvolver-se.

 

P: Suponho que não aconselha o uso do vinho e de bebidas alcoólicas?

T: São piores para o desenvolvimento moral e espiritual do que a carne, porque o álcool tem uma influência direta, marcada e muito deletéria na condição psíquica do homem. O uso do vinho e outros licores, só é inferior como destruidor do desenvolvimento dos poderes internos, ao uso habitual do haxixe, do ópio e outras drogas semelhantes.

Outras páginas interessantes: