Funções

Enviado por Estante Virtual em seg, 12/12/2011 - 19:38

As funções do corpo astral podem ser toscamente agrupadas sob três títulos:

  1. Tornar possível a sensação.
  2. Servir de ponte entre a mente e a matéria física.
  3. Agir como veículo independente de consciência e ação.

Trataremos dessas três funções em seqüência.

Quando um homem é analisado em seus “princípios”, isto é, pelo modo de

Manifestar a vida, descobrimos os quatro princípios inferiores, às vezes chamados “Quaternário Inferior”, que são:

Corpo físico.
Corpo etérico.
Prana, ou Vitalidade.
Kama, ou Desejo.

O quarto principio, Kama, é a vida manifestando-se no corpo astral e condicionada por ele: sua característica é o atributo do sentimento, que, em forma rudimentar, é sensação e, em forma complexa, emoção, com muitos graus entre as duas formas. Isto às vezes se resume como desejo, aquilo que é atraído ou repelido por objetos, segundo eles causem prazer ou dor.

Kama inclui, assim, sentimentos de toda espécie, e pode ser descrito como de natureza passional e emocional. Compreende todos os apetites animais, tais como a fome, a sede, o desejo sexual; todas as paixões, tais como as formas inferiores do amor, o ódio, a inveja, o ciúme; é o desejo de existência senciente, de experimentar alegrias materiais – “a luxuria da carne,a luxuria dos olhos, o orgulho da vida”.

Kama é o bruto em nós, o “símio e o tigre” de Tennyson, a força que mais nos prende à terra e sufoca em nós todas as aparições mais altas; usando para isso as ilusões dos sentidos. É o que há de mais material na natureza do homem, e o que o liga mais fortemente à vida terrena. “Não é matéria molecularmente constituída, e ainda menos que tudo o corpo humano, Sthula Sharira, que é o mais grosseiro de todos os nossos princípios, mas verdadeiramente o principio médio, o verdadeiro centro animal, enquanto que nosso corpo é apenas uma casca, o fator irresponsável e o meio através do qual a besta em nós atua em toda a sua vida” [ Secret Doutrine( Doutrina Secreta), I, 280-1].

Kama ou Desejo também é descrito como um reflexo do aspecto inferior de Atma ou Vontade; a diferença é que a Vontade é autodeterminada, enquanto que o Desejo é ativado pelas atrações ou repulsas causadas por objetos circundantes. O Desejo é, assim, a Vontade destronada, o cativo, o escravo da matéria.

Outra forma de encarar Kama foi bem expressa por Ernest Wood em seu livro esclarecedor The Seven Rays ( Os Sete Raios): Kama “significa todo o desejo. E o desejo é o aspecto do amor voltado para fora, o amor das coisas dos três mundos, enquanto que o próprio amor é amor da vida e amor do divino, pertencendo ao eu superior ou voltado para dentro”.

Para os nossos propósitos neste livro, as palavras desejo e emoção são usadas amiúde como se praticamente fossem sinônimas: estritamente, contudo, emoção é o produto do desejo e do intelecto.

O corpo astral é muitas vezes conhecido como Kama Rupa: e às vezes, em nomenclatura mais antiga, como Alma Animal.

Impactos externos, atingindo o corpo físico, são recebidos como vibrações pela ação de Prana ou Vitalidade, mas permaneceriam apenas como vibrações, simples movimentos do plano físico, se Kama, o princípio da sensação, não surgem enquanto o centro astral não é atingido. Daí Kama reunido a Prana ser chamado de “alento de vida”, o principio vital senciente espalhado sobre cada partícula do corpo.

Parece que certos órgãos do corpo físico estão especificamente associados com as ações de kama: entre eles estão o fígado e o Baço.

Devemos fazer notar, aqui, que Kama, ou desejo, está começando apenas a ser ativo no reino mineral, quando ele se expressa como afinidade química.

No reino vegetal ele está, naturalmente, muito mais desenvolvido, indicando uma capacidade muitíssimo maior de utilizar a matéria astral inferior. Os estudantes de botânica têm consciência de que simpatia e antipatia, isto é, desejo, são muito mais predominantes no mundo vegetal do que no mineral, e que muitas plantas mostram uma grande dose de engenhosidade e sagacidade para atingir seus fins.

As plantas respondem bem depressa aos cuidados amorosos e são claramente afetadas pelos sentimentos do homem a seu respeito. Deleitam-se com a admiração e a ela respondem. São capazes também de se apegarem individualmente, como são capazes de cólera ou antipatia.

Os animais podem sentir, em alto grau, os desejos inferiores, mas sua capacidade existe e, em casos excepcionais, um animal é capaz de manifestar um tipo muitíssimo elevado de afeto e devotamento.

Passando, agora, à segunda função do corpo astral – atuar como ponte entre a mente e o corpo físico – notamos que um impacto sofrido pelos sentidos físicos é transmitido para o interior por Prana, e tornar-se uma sensação pela ação dos centros sensórios que estão situados em Kama, e esse impacto é percebido por Manas, ou Mente. Assim, sem a ação geral através do corpo astral, não haveria conexão entre os impactos físicos e a percepção desses mesmos impactos pela mente.

Inversamente, sempre que pensamos, pomos em movimento a matéria mental que está dentro de nós; as vibrações assim geradas são transmitidas à matéria de nosso corpo astral, a matéria astral afeta a matéria etérica, que, por sua vez, atua sobre a densa matéria física, a matéria cinzenta do cérebro.

O corpo astral é, assim, verdadeira ponte entre nossa vida mental e nossa vida física, servindo como transmissor de vibrações, tanto do físico para o mental como do mental para o físico, e é, na verdade, desenvolvido principalmente por essa constante passagem de vibrações de um ponto para outro.

No curso da evolução do corpo astral do homem há dos estágios distintos: o corpo astral tem de ser primeiro desenvolvido até um ponto razoavelmente elevado como um veiculo transmissor: então, deve ser desenvolvido como corpo independente, no qual o homem possa funcionar no plano astral.

No homem, a inteligência normal do cérebro é produzida pela união de Kama com Manas, ou Mente, sendo essa união chamada, com freqüência, Kama-Manas. Kama-Manas é descrita por H. P. Blavatsky como “intelecto racional, porém terreno ou físico do homem, encaixado e ligado à matéria, portanto sujeito à influência desta última”. Esse é o “eu inferior”, que, agindo nesse plano de ilusão, imagina-se ele próprio o verdadeiro Ser ou Ego, e cai naquilo que a filosofia budista chama a “heresia da separatibilidade”.

Kama-Manas, que é Manas com desejo, também é descrito curiosamente como “manas interessado em coisas externas”.

Podemos notar, de passagem, que um claro entendimento do fato de Kama-Manas pertencer à personalidade humana e funcionar nessa personalidade através do cérebro físico, é essencial para a compreensão do processo da reencarnação, e mostra-se suficiente, por si próprio, para explicar o porquê de não haver lembrança de vidas anteriores, já que a consciência não se pode erguer para além do mecanismo do cérebro, sendo que esse mecanismo, ligado ao de Kama, forma-se de novo a cada vida, não tendo portanto ligação direta com as vidas passadas.

Manas, por si só, não pode afetar as células do cérebro físico, mas quando unida a Kama é capaz de dar movimento às moléculas físicas, produzindo assim a “consciência do cérebro”, inclusive a memória do cérebro e todas as funções da mente humana, tal como normalmente as conhecemos. Não se trata, naturalmente, de Manas superior, e sim de Manas inferior ( isto é, matéria dos quatro níveis inferiores do plano mental) que se associa a Kama. Na psicologia ocidental, esse Kama-Manas se torna parte daquilo que naquele sistema é chamado Mente. Kama-Manas, formando o vínculo entre a natureza superior e a natureza inferior do homem, é o campo de batalha durante a vida e também, como veremos mais tarde, tem parte importante na existência após a morte.

Tão intima é a associação entre Manas e Kama, que os hindus falam do homem como possuindo cinco invólucros, cada um deles para todas as manifestações do intelecto ativo e do desejo. Esses cinco invólucros são:

1Anandamayakoshao invólucro da beatitudeBuddhi
2Vignanamayakoshao invólucro discriminadorManas superior
3Manomayakoshao invólucro do intelecto e do desejoManas inferior e Kama
4Pranamayakoshao invólucro da vitalidadePrana
5Annamayakoshao invólucro do alimentoCorpo físico denso

 

Na divisão usada por Manu, o pranamayakosha e o annamayakosha são classificados juntos e conhecidos como Bhûtâtman, ou eu elemental, ou corpo de ação.

O vignanamayakosha e o manomayakosha são classificados por ele como corpo do sentimento, e recebe o nome de Jiva: define-o como o corpo no qual o Conhecedor, o Kshetragna, torna-se sensível ao prazer e à dor.

Em suas relações externas, o vignanamayakosha e o manomayakosha, especialmente o manomayakosha, estão relacionados ao mundo Deva. Os Devas, segundo se diz, “entraram” no homem, referência às deidades que presidem aos elementos*. Essas deidades dirigentes fazem surgir as sensações no homem, transformando os contatos externos em sensações ou levando a reconhecer esses contatos a partir de dentro, tal coisa sendo essencialmente uma ação Deva. Daí o vinculo com todos estes Devas inferiores, que, quando se obtém o controle supremo sobre eles, faz do homem um senhor em todas as regiões do Universo.

Manas, ou mente, sendo incapaz, como ficou dito acima, de afetar as partículas grosseiras do cérebro, projeta uma parte de si mesmo, isto é, Manas inferior, que se envolve em matéria astral, e então com o auxílio da matéria etérica penetra em todo o sistema nervoso da criança, antes do nascimento. A projeção de Manas é chamada, amiúde, seu reflexo, sua sombra, seu raio, e também é conhecida por outros nomes alegóricos. H P Blavatsky escreve ( Chave da Teosofia, p. 184): “Uma vez aprisionada ou encarnada, sua essência (o Manas) torna-se dual; isto quer dizer que os raios da eterna Mente divina, considerados como entidades individuais, assumem duplo atributo, que é (a) sua característica essencial, inerente, mente que aspira ao céu ( Manas superior), e (b) a qualidade humana de pensar, de cogitação animal, racionalizada devido à superioridade do cérebro humano, voltada para Kama, ou Manas inferior”.

O Manas inferior é assim engolfado no quaternário e pode ser visto agarrando Kama com uma das mãos enquanto que com a outra mantém seguro seu pai, o Manas superior. Se ele será arrastado para baixo, completamente, por Kama e arrancado da tríade ( atmabudhi-manas ) à qual pertence por sua natureza, ou se levará de volta, triunfantemente, à sua fonte, as experiências à qual pertence por sua natureza, ou se levará de volta, triunfantemente, à sua fonte, as experiências purificadas de sua vida terrena – é o problema vital enfrentado e resolvido em cada encarnação sucessiva. Esse ponto será considerado mais adiante, nos capítulos sobre A Vida Depois da Morte.

Assim, Kama fornece os elementos animais e passionais; Manas inferior racionaliza-os e acrescenta-lhes as faculdade intelectuais. No homem, esses dois princípios ficam entretecidos durante a vida e raramente atuam separadamente.

Manas pode ser visto como a chama, Kama e o cérebro físico como a mecha e o combustível que alimenta a chama. Os egos de todos os homens, desenvolvidos ou não desenvolvidos, são da mesma essência e substância: o que faz um grande homem, e o que faz outro homem vulgar e tolo, é a qualidade e a estrutura do corpo físico, e a capacidade do cérebro e do corpo para transmitirem e expressarem a luz do verdadeiro homem interior.

Em resumo, Kama-Manas é o eu pessoal do homem: Manas inferior dá o toque individualizador que faz a personalidade reconhecer-se a si própria como “Eu”. Manas inferior é um raio do Pensador imortal, iluminando uma personalidade. É o Manas inferior que fornece o último toque de deleite aos sentidos e à natureza animal, conferindo-lhe o poder de antecipação, de memória e de imaginação

Embora esteja fora de lugar neste livro o muito avançar pelos domínios de Manas e do corpo mental, ainda assim pode ser de auxílio para o estudante, neste estágio, acrescentar que o livre arbítrio reside em Manas, sendo Manas o representante de Mahat, a Mente Universal. No homem físico, o Manas inferior é o agente do livre arbítrio. De Manas vem o sentimento da liberdade, o conhecimento de que podemos nos governar, de que a natureza superior pode dominar a inferior. Identificar a consciência com Manas, e não com Kama, é, assim, passo importante no caminho do autodomínio.

A própria luta de Manas para afirmar-se é o melhor testemunho de que, por natureza, ele é livre. É a presença e o poder do ego que capacita o homem para escolher entre os desejos, e domina-los. Quando Manas inferior governa Kama, o quaternário inferior toma sua correta posição de subserviência à tríade superior – atma-budhi-manas.

Podemos classificar os princípios do homem da seguinte maneira:

1Atma
Buddhi
Manas superior
Imortal
2Kama-ManasCondicionalmente imortal
3Prana
Duplo etérico
Corpo denso
Mortal

 

Vamos agora considerar a terceira função do corpo astral – como veículo independente de consciência e de ação. O tratamento integral desse trecho do nosso assunto – uso, desenvolvimento, possibilidades e limitações do corpo astral em seu próprio plano – será feito passo a passo na maioria dos capítulos que vão se seguir. No momento será suficiente enumerar, muito resumidamente, as principais formas pelas quais o corpo astral pode ser usado como veículo independente de consciência. Essas formas são as que se seguem:

  1. Durante a consciência normal, acordada, isto é, enquanto o cérebro físico e os sentimentos estão bem despertos, os poderes dos sentidos astrais podem ser levados à ação possuídos pelo corpo físico. Deles trataremos no próximo capítulo sobre os Chakras.
  2. Durante o sono ou no transe é possível ao corpo astral separar-se do corpo físico e mover-se e funcionar livremente em seu próprio plano. Isso será tratado no capítulo sobre Vida no Sono.
  3. É possível desenvolver os poderes do corpo astral a tal ponto que um homem pode, consciente e deliberadamente, a qualquer momento que o deseje, deixar o corpo físico e passar, sem interrupção de consciência, para o corpo astral. Disso trataremos no capítulo sobre Continuidade da Consciência.
  4. Depois da morte física a consciência recolhe-se no corpo astral, e a vida, variando grandemente em intensidade e duração, dependendo de certo numero de fatores, pode ser levada no plano astral. Isso será tratado nos capítulos sobre A Vida Depois da Morte.

Essas divisões do nosso assunto, com numerosas ramificações, constituirão a maior parte do que resta deste tratado.

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