O objetivo deste livro é sugerir certas linhas de pensamento sobre as profundas verdades subjacentes ao Cristianismo, verdades geralmente consideradas de modo superficial, e mui freqüentemente negadas. O generoso desejo de dividir com todos o que é precioso, de disseminar amplamente verdades inestimáveis, de não excluir ninguém da iluminação do conhecimento, resultou em um zelo indiscriminado que vulgarizou o Cristianismo, e tem apresentado seus ensinamentos sob uma forma que freqüentemente repele o coração e aliena o intelecto. O mandamento de “pregar o Evangelho a todas as criaturas” (Marcos, XVI, 15) – embora reconhecidamente de autenticidade duvidosa – tem sido interpretado como proibindo o ensino da Gnose só a poucos, e aparentemente ignorou o dito menos popular do mesmo Grande Instrutor: “Não deis o que é santo aos cães, nem lanceis vossas pérolas aos porcos” (Mateus, VII, 6).
Este sentimentalismo espúrio – que se recusa a reconhecer as desigualdades óbvias de inteligência e moralidade, e por isso rebaixa o ensino do altamente evoluído para o nível alcançável pelo menos evoluído, sacrificando o mais elevado ao menos elevado de um modo que prejudica a ambos – não tinha lugar no viril bom senso dos Cristãos primitivos. São Clemente de Alexandria diz incisivamente, após aludir aos Mistérios: “Mesmo agora eu receio, como é dito, ‘lançar as pérolas aos porcos, para que não as pisoteiem, e se voltem contra nós e nos despedacem’. Pois é difícil exibir as palavras realmente puras e transparentes a respeito da verdadeira Luz aos ouvintes suínos e despreparados” (Clemente de Alexandria, Stromata, livro I, XII – Clarke’s Ante-Nicene Christian Library).
Se o verdadeiro conhecimento, a Gnose, há de formar parte novamente dos ensinos Cristãos, só poderá sê-lo com as antigas restrições, e a idéia de o rebaixarmos às capacidades dos menos evoluídos deve definitivamente ser abandonada.. Somente pelo ensino acima do nível de compreensão do pouco evoluído pode ser aberto o caminho para uma restauração do conhecimento arcano, e o estudo dos Mistérios Menores deve preceder o dos Maiores. Os Maiores jamais serão publicados através de livros; eles só podem ser transmitidos de Mestre a discípulo, “da boca para o ouvido”. Mas os Mistérios Menores, que são o desvelar parcial de verdades profundas, podem ser restaurados agora mesmo, e um volume como este tenciona delineá-los, e apresentar a natureza dos ensinamentos que devem ser dominados. “Onde só são dadas sugestões, a tranqüila meditação sobre as verdades sugeridas com discrição faz que seus contornos se tornem visíveis, e a luz mais clara obtida com a meditação continuada aos poucos as apresentará mais completamente.
Pois a meditação aquieta a mente inferior, sempre engajada no pensamento sobre objetos externos, e só quando a mente inferior fica tranqüila ela pode então ser iluminada pelo Espírito. O conhecimento das verdades espirituais deve ser obtido assim, a partir de dentro, e não de fora, do Espírito divino cujo templo nós somos” (I Coríntios, III, 16), e não de um Instrutor externo. Estas coisas são “discernidas espiritualmente” por aquele divino Espírito interior, aquela “mente de Cristo” da qual fala o Apóstolo (ibid., II, 14-16), e esta luz interna é lançada sobre a mente inferior.
Este é o caminho da Sabedoria Divina, da verdadeira TEOSOFIA. Ela não é, como alguns pensam, uma versão diluída do Hinduísmo, ou do Budismo, ou do Taoísmo, ou de qualquer religião particular. Ela é tão verdadeiramente Cristianismo Esotérico como é Budismo Esotérico, e pertence igualmente a todas as religiões, e a nenhuma com exclusividade. Esta é a fonte das sugestões feitas neste pequeno volume, para o auxílio daqueles que buscam a Luz – aquela “verdadeira Luz que ilumina todos os homens que vêm ao mundo” (João, I, 9), embora a maioria ainda não tenha aberto seus olhos para ela. Ela não traz a Luz. Apenas diz: “Vêde a Luz!”. Assim ouvimos. Ela apela somente aos poucos que anseiam por mais do que os ensinamentos exotéricos lhes dão. Pois ela não é dirigida para aqueles que estão satisfeitos com os ensinamentos exotéricos, pois por que o pão deveria ser forçado aos que não têm fome? Para aqueles que têm fome, possa ela provar-se pão, e não pedra.