Uma Experiência Pessoal

Enviado por Estante Virtual em dom, 22/01/2012 - 03:19

Todos os casos citados são relativamente bem conhecidos, e podem ser lidos em alguns dos volumes que contêm coleções de tais relatos — a maioria deles em Mais Vislumbres do Mundo Invisível do Dr. Lee; mas os dois casos que vou agora citar nunca foram relatados em publicação nenhuma, e ambos se deram dentro dos últimos dez anos — um passou-se comigo, e o outro com pessoa muito minha amiga, eminente dentro da Sociedade Teosófica, e cuja certeza de observação está fora de toda a dúvida.

A minha própria história é bastante simples, ainda que não sem importância para mim, visto que é de crer que a intervenção salvasse a minha vida. Seguia eu, uma noite tempestuosa e em que chovia ininterruptamente, por uma rua sossegada ao pé de Westbourn Grove, tentando, com fraco êxito, aguentar um guarda-chuva contra a violência intermitente de um vento rebelde, que a cada minuto parecia querer arrancar-mo das mãos, e tentando, ao mesmo tempo em que me via nestas dificuldades, concentrar o pensamento sobre certos detalhes de um trabalho que então tinha entre as mãos.

Subitamente — tão subitamente que me fez um sobressalto — uma voz que conheço bem — a voz de um professor indiano — gritou-me ao ouvido: "Salta para trás!" e, num gesto de obediência instintiva, saltei bruscamente para trás sem ter tempo para pensar no que fazia. Ao fazer isto, o meu guarda-chuva, que se inclinara para diante por causa do movimento brusco, foi-me arrancado da mão e uma enorme chaminé de metal caiu no passeio a menos de um metro adiante de mim. O grande peso deste objeto, e a tremenda força com que caiu, dão-me a absoluta certeza de que, se não fosse aquela voz avisadora, eu teria sido morto imediatamente; mas a rua estava deserta, e a voz era a de alguém que eu sabia que estava a sete milhas de distância, pelo que diz respeito ao seu corpo físico.

Nem foi esta a única ocasião em que recebi auxílio desta ordem sobrenatural, porque, quando era ainda novo, e muito tempo antes da fundação da Sociedade Teosófica, o aparecimento de uma pessoa querida recém-morta, evitou que eu praticasse o que hoje vejo que teria sido um grave crime, ainda que, à luz dos conhecimentos que então eu tinha, me parecesse um ato de retaliação não só justificável, mas até louvável. Depois, muito mais tarde, ainda que também antes da fundação desta Sociedade, um aviso que recebi de um plano superior em circunstâncias altamente impressionantes, habilitou-me a evitar que um outro indivíduo seguisse um caminho que o teria levado a um fim desastroso, ainda que na ocasião nada me levasse a crer na possibilidade de tal desfecho. De modo que se verá que tenho alguma experiência pessoal a fortalecer a minha crença na doutrina dos auxiliares invisíveis, mesmo não falando no meu conhecimento do auxílio que está sendo prestado atualmente e a cada momento.

O outro caso é muito mais impressionante. Uma senhora que pertence à nossa Sociedade, e que me dá autorização para publicar o seu relato, mas não deseja que se mencione o seu nome, uma vez encontrou-se correndo um grande perigo físico. Devido a circunstâncias que não importa detalhar aqui, ela encontrou--se no meio de um grande motim na rua, e, vendo vários homens agredidos cair ao pé dela, evidentemente muito maltratados, esperava que de um momento para o outro lhe acontecesse a mesma coisa, visto que lhe parecia impossível fugir do meio da multidão.

De repente sentiu uma curiosa sensação de ser arrastada, como que num turbilhão, para fora de tudo aquilo e encontrou-se absolutamente só e inteiramente incólume numa pequena rua transversal, paralela àquela em que o motim se tinha dado. Ela continuou a ouvir o ruído do motim e, enquanto estava pasmada sem saber o que lhe tinha acontecido, dois ou três indivíduos, que tinham fugido da multidão, vieram correndo, dando a volta à esquina, e, ao vê-la, manifestaram grande pasmo e agrado, dizendo que, quando a tinham visto desaparecer do meio do motim, tinham ficado convencidos de que ela tinha sido agredida e tinha caído.

Na ocasião não apareceu explicação plausível, e essa senhora voltou para casa num estado de perplexidade absoluta; mas quando, anos depois, mencionou este estranho caso a Madame Blavatsky, esta disse-lhe que o seu carma sendo tal que ela podia ser salva de uma situação tão difícil, um dos mestres tinha especialmente destacado alguém para a sua proteção, visto que a sua vida era precisa para a realização de uma obra.

Mas, na verdade, o caso foi muito extraordinário, tanto pelo que diz respeito à grande dose de poder posto em prática, como pela natureza anormalmente pública da sua manifestação. Não é difícil, porém, conceber o modus operandi; ela deve ter sido levantada fisicamente do meio da multidão e por cima do quarteirão intermédio de casas, sendo depois simplesmente posta no chão na rua próxima; mas como o seu corpo físico não foi visto pairando no ar, também é evidente que um véu de qualquer espécie (provavelmente de matéria etérica) foi lançado sobre esse corpo enquanto durou o trajeto.

Se se objetar que o que pode ocultar a matéria física deve ser também físico, e portanto visível, pode responder-se que, por um processo conhecido de todos os estudiosos do oculto, é possível dobrar os raios luminosos (os quais; em todas as condições que a ciência atual conhece, seguem apenas em linhas retas, salvo quando há refração) de modo que, depois de darem volta a um objeto, voltem exatamente ao seu curso an-terior; e imediatamente se verá que, uma vez que isto se fizesse, esse objeto ficaria inteiramente invisível a todos os olhos físicos até que os raios pudessem retomar o seu caminho normal. Sei perfeitamente que basta esta minha explicação para que um homem de ciência de nossos dias imediatamente tome as minhas asserções por uma série de disparates, mas não posso evitar isso; apenas exponho uma possibilidade da natureza que a ciência de futuro talvez um dia descubra, e para aqueles que não são estudantes do oculto, a minha asserção tem que esperar por esse dia para que fique de todo justificada.

O processo, como digo, é bem compreensível a qualquer pessoa que saiba um pouco acerca das forças ocultas da natureza; mas o fenômeno continua sendo extremamente dramático, e o nome da senhora com que se deu, se eu pudesse citá-lo seria para todos os meus leitores uma garantia da autenticidade da narrativa.

Mas estes relatos, dizendo respeito, como dizem, àquilo a que vulgarmente se chamaria a intervenção angélica, ilustram apenas uma pequena parte das atividades dos nossos auxiliares invisíveis. Antes, porém, que possamos proveitosamente considerar as outras seções do seu trabalho, será bom que tenhamos bem presentes no nosso espírito as várias classes de entidades às quais estes auxiliares podem pertencer. Seja essa, portanto, a parte do nosso assunto que tratemos em seguida.

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