O Sexto Raio - Devoção e Idealismo

Submitted by Mauricio Medeiros on Sun, 09/08/2019 - 23:12
Monks with candles

O sexto raio, conhecido como "Devoção e Idealismo", é um dos raios de atributo,  e é também um dos raios abstratos. O amor e a sabedoria que no segundo raio se voltam em grande parte para dentro, e que no quarto raio se reflete no impulso de expressar e harmonizar o potencial divino percebido na forma, no sexto raio se manifesta como a capacidade inata de reconhecer o ideal, a perfeição subjacente à criação. Nas palavras de Alice Bailey:

 

O Sexto Raio personifica o princípio do reconhecimento - a capacidade de ver a realidade ideal por trás da forma. A aplicação obstinada do desejo e da inteligência buscando produzir uma expressão da ideia sentida. (EP1, pg 52)

Estátua da Liberdade
O raio dos ideais sustentados o mais alto possível

Este raio possui portanto uma influência do primeiro, expressa na capacidade de ser extremamente focado e direcionado à um único objetivo. Porém ele pode ser entendido também como o correspondente extrovertido do segundo raio, pois enquanto no segundo o amor se identifica com o objeto amado e sente-se uno com ele, no sexto existe um senso de dualidade bastante claro. O objeto amado é o ideal a ser buscado, o exemplo de perfeição para a qual se deseja caminhar. Uma pessoa sob a regência do sexto raio busca reproduzir em si ou em seu meio o exemplo escolhido.

Pode-se também entender essa relação entre o segundo e o sexto raio olhando para o amor expresso pelo segundo como "horizontal", entre pessoas no mesmo nível, e o do sexto como "vertical", entre o ideal de perfeição e aquele que o persegue.

Guerreiro, vitral em uma igreja
O raio do guerreiro que luta em defesa de uma causa

Essa energia devocional é conhecida de maneira bastante intensa durante a infância, onde geralmente elegemos pessoas próximas de nós como nossas "divindades particulares". Nossos pais, algum professor, ou alguma outra figura de autoridade costuma ser vista como infalível, e como um modelo de perfeição, para o qual naturalmente nos sentimos atraídos. Essa devoção nos inspira a nos tornarmos melhores, a desenvolver em nós as qualidades que vemos nesses modelos. Quando bem resolvida, essa devoção se transfere pouco a pouco para o mundo das idéias, e identificamos as características que refletem o ideal de perfeição sentido instintivamente. Mas se este processo não ocorre adequadamente, o conflito percebido entre as ações cotidianas e a imagem idealizada podem nos levar à ruptura com os próprios ideais de perfeição, trazendo diversas consequências para o nosso desenvolvimento.

Essa devoção cega da criança é uma experiência importante em nosso desenvolvimento, pois ela representa a total abertura para algo percebido como maior. Se isso não ocorre na infância, essa etapa de desenvolvimento costuma ser mais difícil de se obter, pois ao longo da adolescência adquirimos uma visão crítica que dificulta essa aceitação e entrega total, tornando também mais difícil elevar o foco de nossa consciência para planos acima do mental.

A essência do sexto raio é portanto a vontade profunda e instintiva de todas as coisas criadas de elevar-se para Deus, buscando a perfeição seguindo um modelo ideal. Novamente citando Alice Bailey em seu "Tratado Sobre os Sete Raios":

 

Seja o poder da pequena semente, profundamente escondida na terra escura, para atravessar as barreiras que a circundam e emergir para a luz, seja o poder do ser humano de elevar-se da morte na matéria para a vida em Deus, e de penetrar no mundo do Real, libertando-se do mundo irreal, é sempre a manifestação da mesma força fundamental, que é o idealismo.

Templo Azteca
O raio das religiões em todas as suas formas

Em "Psicologia Esotérica" Djwal Khull nos diz que as pessoas deste raio tem intensos sentimentos pessoais e instintos religiosos. Raramente são grandes estadistas ou homens de negócios, mas podem ser grandes pregadores ou oradores. Como militares, odiariam a luta, mas quando incitados, lutariam com ferocidade. Como artistas, seriam devotados à beleza e à cor, mas sua habilidade produtiva pode não ser muito boa. Como escritores, seriam poetas das emoções, talvez com um tema religioso.

Vemos portanto que o sexto raio se manifesta em qualquer campo de atuação humana, quando existe devoção e uma grande admiração. Essa energia é extremamente produtiva, levando a uma capacidade de atuação tremenda, porém quando não equilibrada gera também pessoas extremamente combativas, agressivas e intolerantes. Mesmo cientistas podem ser movidos primariamente ou em grande parte pelo sexto raio, dedicando todas as suas energias mentais e emocionais ao seu campo de atuação, chegando a se "imolar no altar da ciência" se necessário.

As pessoas do quarto e sexto raio se veem envolvidas com os pares de opostos, embora de formas diferentes. No quarto raio os opostos geram o conflito tão necessário à seu desenvolvimento, sendo esse conflito então resolvido pelo desejo de harmonizar os opostos. Já no sexto raio existe um "partidarismo", a identificação do "ideal" e do "não ideal", e a partir daí uma busca pelo desenvolvimento em direção ao ideal percebido. Isso pode ser visto no trecho a seguir, que fala a respeito do processo evolutivo do representante do sexto raio.

 

 

O Bem-aventurado captou a visão do Caminho, e seguiu o Caminho sem discrição. A fúria caracterizou seus esforços. O caminho desceu até o mundo da vida dual. Entre os pares de opostos ele se colocou, e enquanto pendia oscilando entre eles, vislumbres fugidios do objetivo lhe acenaram. Ele oscilava no meio do céu. Procurou oscilar para aquele lugar radiante de luz, onde estava a porta para o Caminho superior. Mas oscilava sempre entre os pares de opostos.

Disse, por fim, interiormente: "Parece que não consigo encontrar o Caminho. Tento este caminho, e avanço com força naquele outro, sempre com o mais ardente desejo. Tento todos os caminhos. Como fazer para encontrar O Caminho?"

Ouviu-se um grito. Parecia vir do fundo de seu coração: "Trilha então, Ó Peregrino no Caminho da vida sensual, o caminho iluminado do meio. Ele passa diretamente entre os mundos duais. Encontra aquela via estreita, intermediária. Ela leva à sua meta. Busca aquela firmeza perceptiva que leva à resistência provada. Aderência ao Caminho escolhido, e ignorância dos pares de opostos, trarão este Bem-aventurado à via iluminada para a alegria do sucesso provado."

Psicologia Esotérica, vol 2, pág. 36

Gandhi e Marthin Luther King Jr
O raio que inspira e eleva

No primeiro parágrafo vemos o início do desenvolvimento. Percebendo a energia espiritual latente, devido à sua capacidade inata de reconhecer o ideal subjacente à forma, se forma uma visão do caminho a ser seguido. Isso usualmente se reflete em um ícone religioso como Buda ou Cristo, mas pode também ser um ideal político ou filosófico. Porém a visão ainda limitada característica dos estágios iniciais de desenvolvimento os leva a um entendimento estreito ("e seguiu o Caminho sem discrição"), frequentemente resultando em fanatismo, violência, militarismo e uma tendência a se envolver em embates com os outros e com grupos ("a fúria caracterizou seus esforços"), levando-os para baixo, para o partidarismo ("o caminho desceu até o mundo da vida dual"). Neste estágio o mundo se divide entre amigos e inimigos, de acordo com o suporte dado aos ideais buscados. Incapazes de considerar outros pontos de vista além dos seus, frequentemente desconfiam de tudo e de todos. Dispostas a dar sua vida pelo pelos objetos de sua devoção, ainda se vêem incapazes de realizar esforços para ajudar os que se encontram fora de suas simpatias imediatas.

Comportando-se como um pêndulo, dirige seus esforços na direção pretendida, mas constantemente se vê oscilando entre os pares de opostos. Sua natureza ainda lhe revela, porém, "vislumbres fugidios do objetivo". Mas ele se vê perdido no mundo das ilusões, "oscilando no meio do céu". E todos os esforços empreendidos em uma determinada direção invariavelmente se frustram após algum tempo, sem levar à resultados duradouros. Imaginem-se atados a uma corda, como um pêndulo, tentando se impulsionar em direção, por exemplo, do sol nascente, e verão o que essa atitude representa - após um breve período se movendo em direção ao sol, a natureza do pêndulo invariavelmente os arrastarão para a direção oposta à pretendida!

A crise de invocação ocorre no momento em que se percebe a futilidade dos esforços engendrados. "Parece que não consigo encontrar o Caminho".  Independente da convicção e energia empreendidas - "sempre com o mais ardente desejo", os esforços se mostram fúteis. Lança-se então o apelo, em geral através da meditações e orações, permitindo-as se tornar receptivas à orientação da alma: "Como fazer para encontrar O Caminho?"

Cachorro com criança
O raio da devoção incapaz de enxergar falhas

A resposta, como vemos no terceiro parágrafo, parece "vir do fundo do coração". Aqui é feita uma alusão às características associadas ao chackra cardíaco, em especial o amor, a inclusividade e uma maior compreensão, levando à transformação do comportamento altamente polarizado tão comum ao sexto raio. O "Peregrino no caminho sensual" é convidado a trilhar o "caminho iluminado do meio", que "passa diretamente entre os mundos duais". Diante de um par de opostos, não mais se deve "escolher o lado correto", mas sim buscar uma compreensão do que cada aspecto representa e lidar com eles fraternalmente.

Isso não significa que se deva abandonar aquela "aplicação obstinada do desejo e da inteligência buscando produzir uma expressão da ideia sentida", indicada como uma das características básicas do sexto raio, mas sim que ela passa a trabalhar em favor da inclusão e dentro de relações harmoniosas. Como exemplo didático, ao ver o par de opostos "oprimido e opressor", não se deixa de buscar o auxílio ao oprimido e mesmo sua libertação de uma relação prejudicial, mas isso não mais demanda uma ação contra o opressor, entendido também como um ser em busca de evolução e necessitando de auxílio à sua maneira. Claro que esse exemplo não deve ser entendido de forma totalmente literal (leis ainda devem ser aplicadas, por exemplo), mas a enorme energia movida pelo sexto raio não mais se vê dirigida a satisfazer um dos pólos, busca em lugar disso elevar a ambos.

Bombeiro
O raio daqueles dispostos a sacrificar a vida por um ideal ou a serviço do próximo

Atendo-se firmemente à orientação da alma ("Aderência ao Caminho escolhido") e evitando a polarização ("ignorância dos pares de opostos") se consegue portanto atingir "a alegria do sucesso provado", e as pessoas do sexto raio se verão cercadas pela simpatia dos demais, e estarão dispostas a ver o trabalho dos outros progredir de acordo com as diretrizes escolhidas por eles, ainda que sejam distintas de suas escolhas pessoais. Desta forma encontram também uma grande eficiência na busca de seus próprios objetivos.

É importante notar a capacidade possuída pelo sexto raio de "galvanizar", de inspirar os outros. Isso pode ser expresso de forma negativa - provavelmente todas as guerras religiosas tiveram origem ou se apoiaram no fanatismo do sexto raio - mas também pode ser visto no líder que claramente daria sua vida por uma causa com a qual nos alinhamos. Nos sentimos muito mais propensos a agir diante de um líder assim. É portanto uma responsabilidade enorme utilizar essa energia de forma benéfica.

É muito difícil para o indivíduo do sexto raio "ficar calmamente no centro" devido à energia dinâmica e potente de que está impregnado. Porém o eventual reconhecimento de que Deus está na realidade dentro dele, assim como dentro de cada ser humano, o leva a expressar sua verdadeira condição e a compreensão de todas as "verdades". Desta forma ele se torna ao mesmo tempo um verdadeiro servidor e um guia amoroso e sábio.

 

Para finalizar, deixo como referência uma série de características deste raio.

Símbolo: mãos postas em oração, vela, lágrimas, estátua da liberdade, santos, auréola, bandeira, cruz cristã.

Animal: cachorro, cavalo, salmão.

País: Estados Unidos (personalidade), Russia (personalidade), Itália (alma).

Instituições:  caridades, religiões, ativistas, palestrantes motivacionais, personal trainers, ministros (religiosos), os cruzados, Klu Klux Clan, inquisição espanhola, campanhas políticas, Jihad, times esportivos.

Tendencias vocacionais: promoções, angariar fundos, caridade, palestrante motivacional, trabalho religioso, coaching, líder de torcida, pastor/padre, freira.

Pessoas: Martin Luther King Jr., Jesse Jackson, Mohammed, Jesus, São Paulo, São Lucas, Madre Theresa de Calcutá, Joana d'Arc, Oral Roberts, Billy Graham, Vince Lombardi, São Francisco, Ayatolah Khoumeni, Gloria Steinem.

Cor:  vermelho sangue (exotérica),  rosa prateado (esotérica).

Signos zodiacais: Peixes, Virgem, Sagitário.

Planetas: Marte (vícios, militarismo), Netuno (abstrações, alto misticismo).

Forças: Idealismo; tendência à elevação; devoção; fé; auto-sacrifício; poder de inspirar e persuadir; otimistmo; persistência; lealdade; sinceridade; humildade e inocência; receptividade à orientação espiritual; pureza e bondade; habilidade de alcançar grandes alturas místicass; santidade e misticismo.

Fraquezas: Fatores negativos oriundos da Devoção: devoção sem pensamento independente; fé cega, fanatismo e militarismo; dependência e co-dependência; absolutismo, preto no banco, certo ou errado; "minha verdade"; confia demais, ingenuidade; emocional demais. Fatores negativos oriundos do Idealismo: metas inatingíveis, falta de realismo; idealismo não prático, perfeccionismo; negação de si mesmo, autocrítica em excesso, necessidade de atender à expectativas; negação, escapismo, incluindo vícios; sensibilidade exarcebada à orientação; excessos, extremismos, atividade demais; masoquismo, complexo de mártir.

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