O mote rosicruciano Igne natura renovatur integra [INRI], que os alquimistas interpretam como natureza renovada pelo fogo, ou matéria pelo espírito, tem sido imposto até hoje como Iesus Nazarenus rex Iudeorum. A sátira sarcástica de Pilatos é aceita literalmente e os judeus a tomaram inadvertidamente como reconhecimento da realeza de Cristo; no entanto, se essa inscrição não for uma falsificação feita no período constantiniano, ela será uma ação dirigida a Pilatos, contra quem os judeus foram os primeiros a protestar violentamente. Interpreta-se I. H. S. como Iesus Hominum Salvator e In hoc signo, ao passo que IHΣ e um dos nomes mais antigos de Baco. E mais do que nunca começamos a descobrir, à luz brilhante da Teologia comparada, que o grande propósito de Jesus, o iniciado do santuário interior, era abrir os olhos da multidão fanática para a diferença entre a Divindade suprema - o misterioso e nunca pronunciado IAÔ dos iniciados caldaicos antigos e dos neoplatônicos posteriores - e o Yahuh hebraico, ou Yaho (Jeová). Os Rosa-cruzes modernos, tão violentamente censurados pelos católicos, agora têm atirado contra eles, como a maior das suas responsabilidades, o fato de acusarem Cristo de ter destruído a adoração de Jeová. Melhor fora se ele o tivesse feito, pois o mundo não estaria tão irremediavelmente confuso após dezenove séculos de massacres mútuos, com trezentas seitas brigando entre si e com um Diabo pessoal reinando sobre uma cristandade aterrorizada.
Apoiado na exclamação de Davi, parafraseada na Versão do Rei James como "todos os deuses das nações são ídolos", isto é, diabos, Baco ou o "primogênito" da teogonia órfica - o Monogenes, ou o "unigênito" do Pai Zeus e Lorê - foi transformado, com o restante dos mitos antigos, num diabo. Por meio dessa degradação, os padres, cujo zelo piedoso só poderia ser ultrapassado por suas ignorâncias, forneceram inadvertidamente as provas contra si mesmo.
É o mito de Baco que manteve escondida durante longos e tenebrosos séculos a vindicação futura dos vilipendiados "deuses das nações" e a última chave do enigma de Jeová. A estranha dualidade de caraterísticas divinas e mortais, tão conspícua na Divindade Sinaítica, começa a entregar seu mistério diante da pesquisa incansável de nossa época. Uma das contribuições mais recentes pode ser encontrada num artigo pequeno, mas altamente importante, publicado em The Evolution, um periódico de Nova Yorque, cujo parágrafo final lança um raio de luz sobre Baco, o Jove de Nysa, que foi adorado pelos israelitas como Jeová do Sinai.
"Assim era o Jove de Nysa para os seus adoradores", conclui o autor. "Representava para eles o mundo da natureza do pensamento. Era o `Sol da retidão, que trazia a saúde em suas asas', e não trazia apenas a alegria para os mortais, mas descortinava para eles a esperança que está além da mortalidade da vida imortal. Nascido de uma mãe humana, elevou-a do mundo da morte para o ar superno, para que fosse reverenciada e adorada. Sendo o senhor de todos os mundos, era em todos eles o Salvador.
"Assim era Baco, o Deus-Profeta. Uma mudança de culto, decretada pelo Assassino Imperador Teodósio, por ordem do Padre Espectral Ambrósio de Milão, modificou seu título para Padre das Mentiras. Sua adoração, antes universal, foi denominada pagã ou local, e seus ritos foram estigmatizados como feiticeiros. Suas orgias receberam o nome de Sabbath das Bruxas e sua forma simbólica favorita, o pé bovino, tornou-se a forma representativa moderna do Diabo, com o casco rachado. O pai da família, que antes fora chamado de Beel-zebub, passou a ser acusado de manter relações com os poderes das trevas. Levantaram-se cruzadas, povos inteiros foram massacrados. A sabedoria e a erudição foram condenados como a magia e feitiçaria. A ignorância tornou-se a mãe da devoção hipócrita. Galileu penou durante longuíssimos anos na prisão por ensinar que o Sol era o centro do universo solar. Bruno foi queimado vivo em Roma em 1600 por restaurar a filosofia antiga; mas, apesar de tudo, a Liberlia converteu-se em festa da Igreja. Baco é um santo do calendário repetido quatro vezes e representado em muitos santuários nos braços de sua mãe deificada. Os nomes mudaram, mas as idéias perduraram inalteradas".
BACO - Exotéricamente e superficialmente, é o deus do vinho e da vindima, bem como da devassidão e do alvoroso. Porém, o significado Esotérico desta personificação é mais abstruso e filosófico. É o Osíris do Egito e tanto sua vida quanto sua significação pertencem ao mesmo grupo dos demais deuses solares, todos eles “carregando com a culpa”, mortos e ressuscitados, como por exemplo Dionísio ou Atys de Frígia (Adónis ou o Tammuz sírio), como Ausonius, Baldur etc. Todos eles foram condenados à morte, pranteados e restituídos à vida. As festas em honra de Atys ocorriam nas Hilarias, celebradas na Páscoa “pagã”- o dia 15 de março. Ausonius, uma forma de Baco, era morto no equinócio de primavera (21 de março) e ressuscitava três dias depois. Tammuz, o duplo de Adónis e Atys, era pranteado pelas mulhares num “bosquezinho” que levava seu nome, “além de Beyhlehem, onde chorava o menino Jesus”- diz São Jerônimo. Baco é assassinado e sua mãe recolhe os pedaços de seu corpo dilacerado, como o fez Ísis com os de Osíris e assim sucessivamente. Dionysos Iacchus, destroçado pelos titãs, Osíris, Krishna e todos os demais desceram ao Hades e retornaram. Astronomicamente todos eles representam o Sol; psiquicamente, são emblemas da “Alma” (o Ego em sua reencarnação), que sempre ressuscita; espiritualmente, todas as vítimas propiciatórias inocentes que expiam os pecados dos mortais, seus próprios invólucros terrenos e, na realidade, imagem poetizada do Homem Divino, a forma de barro animada por seus Deus. G. Teosófico E. Grond.)