Todos os impulsos de vida que eu descrevi como construindo os mundos interpenetrantes vieram do Terceiro Aspecto da Deidade. Daí este Aspecto ser chamado no esquema Cristão “o Doador da Vida”, o Espírito que pairava sobre a face das águas do espaço. Na literatura Teosófica estes impulsos são usualmente tomados como um conjunto, e chamado de Primeira Emanação.
Quando os mundo tiverem sido preparados até este ponto, e a maioria dos elementos químicos já existir, a Segunda Emanação de vida tem lugar, e provêm do Segundo Aspecto da Deidade. Ela traz consigo o poder de combinação. Em todos os mundos ela encontra existindo o que poderia ser pensado como os elementos correspondentes àqueles mundos. Ela prossegue na combinação daqueles elementos em organismos que então anima, e deste modo constrói os sete reinos da natureza. A Teosofia reconhece sete reinos, porque considera o homem como separado do reino animal, e leva em conta diversos estágios de evolução que são invisíveis pelo olho físico, e lhes dá a denominação medieval de “reinos elementais”.
A Vida divina se derrama na matéria de cima para baixo, e seu curso completo pode ser imaginado tendo dois estágios – a gradual incorporação de matéria mais e mais densa, e então o gradual abandono de novo dos veículos que assumiu. O primeiro nível onde seus veículos podem ser observados cientificamente é o mental – o quinto contando do mais refinado para o mais grosseiro, o primeiro no qual há globos separados. No estudo prático é considerado conveniente dividir este mundo mental em duas partes, que chamamos superior e inferior de acordo com o grau de densidade de sua matéria. O superior consiste das três subdivisões mais finas de matéria mental; o inferior, das outras quatro.
Quando a Emanação atinge o mundo mental superior reúne os elementos etéricos de lá, combina-os no que naquele nível corresponde a substâncias, e destas substâncias constrói formas em que habita. A este chamamos de o primeiro reino elemental.
Depois de um longo período de evolução, através de diferentes formas naquele nível, a onda de vida, que todo o tempo está pressionando constantemente para baixo, aprende a se identificar tanto com aquelas formas, em vez de ocupá-las e abandoná-las periodicamente, que torna-se capaz de mantê-las permanentemente e fazê-las partes de si mesma, de modo que daquele nível pode proceder à temporária ocupação de formas em um nível ainda mais baixo. Quando atinge este estágio a denominamos de segundo reino elemental, cuja vida animante reside nos níveis mentais superiores, enquanto que os veículos através de que se manifesta estão nos inferiores.
Após um outro vasto período de duração similar, é visto que a pressão descendente provocou a repetição deste processo; uma vez mais a vida identificou-se com suas formas, e fixou residência nos níveis mentais inferiores, de modo a ser capaz de animar corpos no mundo astral. Neste estágio nós a chamamos de terceiro reino elemental.
Falamos de todas estas formas como mais finas ou mais densas umas relativamente às outras, mas todas elas são quase infinitamente mais diáfanas do que qualquer uma que conheçamos no mundo físico. Cada um destes três é um reino da Natureza, tão variado em suas manifestações de suas diversas formas de vida como nos reinos vegetal e animal que conhecemos. Depois de um longo período passado animando as formas do terceiro destes mundos elementais ela por sua vez se identifica com eles, e assim se torna capaz de animar a parte etérica do reino mineral, e se torna a vida que o vivifica – pois há uma vida no reino mineral tanto como há no vegetal ou animal, ainda que em condições onde não pode se manifestar tão livremente. No curso da evolução mineral a pressão descendente faz com que ela se identifique do mesmo modo com a matéria etérica do mundo físico, e a partir daí anima a matéria mais densa dos minerais que são perceptíveis aos nossos sentidos.
No reino mineral incluímos não só o que usualmente chamamos de minerais, mas também os líquidos, gases e muitas substâncias etéricas cuja existência é desconhecida da ciência ocidental. Toda a matéria da qual sabemos alguma coisa é matéria viva, e a vida que contém está sempre evoluindo. Quando atinge o ponto central do estágio mineral a pressão descendente cessa, e é substituída por uma tendência ascencional; a exteriorização terá cessado e a interiorização, começado.
Quando a evolução mineral estiver completada, a Vida terá se retirado novamente para o mundo astral, mas levando consigo todos os resultados obtidos através de suas experiências no físico. Neste estágio ela anima formas vegetais, e começa a mostrar-se muito mais claramente como o que comumente chamamos de vida – vida vegetal de todos os tipos; e num estágio ainda ulterior de seu desenvolvimento deixa o reino vegetal e anima o reino animal. O atingimento deste nível é o sinal de que já terá se retirado ainda mais, e agora está atuando a partir do mundo mental inferior. A fim de trabalhar na matéria física a partir daquele mundo mental ela deve atuar através de matéria astral intermediária; e aquela matéria astral agora já não é mais parte da vestimenta da alma-grupo como um todo, mas é o corpo astral individual do animal em questão, como mais adiante explicaremos.
Em cada um destes reinos ela não só passa um período de tempo que para nossa concepção é quase inacreditavelmente longo, mas também percorre um curso definido de evolução, começando das manifestações inferiores daquele reino e terminando com as superiores. No reino vegetal, por exemplo, a força-vida poderia iniciar sua trajetória ocupando gramíneas ou musgos e terminar animando magníficas árvores de floresta. No reino animal poderia começar com os mosquitos ou animálculos, e encerrar com as mais refinadas espécies de mamíferos.
O processo todo é de constante evolução de formas inferiores para superiores, das mais simples para as mais complexas. Mas o que está evoluindo não é prioritariamente a forma, mas a vida interna. As formas também evoluem e tornam-se melhores à medida que o tempo transcorre; mas é para que possam ser veículos apropriados para ondas de vida mais e mais avançadas. Quando a vida atinge o mais alto nível possível no reino animal, então pode passar para o reino humano, sob condições tais como as que logo explicaremos.
A Emanação deixa um reino e passa para outro, de modo que se tivéssemos que lidar com apenas uma única onda desta Emanação só poderíamos ter em existência um reino de cada vez. Mas a Deidade envia uma constante sucessão destas ondas, de modo que a qualquer momento dado encontramos diversas delas simultaneamente em operação. Nós próprios representamos uma destas ondas; mas encontramos evoluindo ao nosso lado uma outra onda que anima o reino animal – uma onda que procedeu da Deidade um estágio depois do que o fizemos. Encontramos ainda o reino vegetal, que representa uma terceira onda, e o reino mineral, que representa uma quarta; e os ocultistas sabem da existência à nossa volta de três reinos elementais, que representam a quinta, sexta e sétima ondas. Todas estas, entretanto, são influxos sucessivos da mesma grande Emanação do Segundo Aspecto da Deidade.
Temos aqui, então, um esquema de evolução no qual a Vida divina se envolve mais e mais profundamente na matéria, a fim de que através dessa matéria possa receber vibrações que doutro modo não a afetariam – impactos externos, que por etapas despertam nela padrões de ondulação correspondentes aos seus, de modo que ela aprende a responder-lhes. Mais tarde ali aprende a gerar por si mesma estes padrões de ondulação, e assim se torna um ser possuidor de poderes espirituais.
Podemos presumir que quando esta Emanação de vida originalmente saiu da Deidade, em algum nível além de nosso poder de cognição, talvez tenha sido homogênea; mas quando primeiramente se torna cognoscível, quando está ela mesma no mundo intuicional, mas animando corpos feitos de matéria do mundo mental superior, já não é uma só gigantesca alma-mundial, mas muitas almas. Suponhamos uma Emanação homogênea, que pode ser considerada como uma única imensa alma, numa extremidade da escala; noutra, quando é atingida a humanidade, temos que aquela vasta alma única partiu-se em milhões das comparativamente pequenas almas dos homens individuais. Em qualquer estágio entre estes dois extremos encontramos uma condição intermédia, a imensa alma-mundial já subdividida, mas não até o mais extremo limite possível de subdivisão.
Cada homem é uma alma, mas não cada animal ou cada planta. O homem, como uma alma, pode se manifestar somente através de um corpo de cada vez no mundo físico, ao passo que uma alma animal se manifesta simultaneamente através de uma quantidade de corpos animais, uma alma vegetal através de uma quantidade de plantas separadas. Um leão, por exemplo, não é uma entidade permanentemente separada do mesmo modo que um homem o é. Quando um homem morre – isto é, quando ele enquanto alma deixa de lado seu corpo físico – permanece exatamente como era antes, uma entidade separada de todas as outras entidades. Quando o leão morre, aquilo que tinha sido sua alma separada é devolvido à massa de onde veio – uma massa que ao mesmo tempo está provendo as almas para muitos outros leões. Para tal massa damos o nome de “alma-grupo”.
A uma alma-grupo como esta está associado um considerável número de corpos leoninos – digamos uma centena. Cada um destes corpos enquanto vive tem sua centésima parte da alma-grupo ligada a ele, e durante este tempo aparenta ser inteiramente separado, de maneira que o leão durante sua vida física é tão um indivíduo quanto o homem; mas não é um indivíduo permanente. Quando ele morre a sua alma reflui para a alma-grupo a que pertence, e aquela mesma alma leonina não pode ser separada novamente do grupo.
Uma analogia útil pode ajudar na compreensão. Imagine a alma-grupo sendo representada pela água dentro de um balde, e a centena de corpos de leões por cem copos. Quando cada copo é mergulhado no balde retira uma medida de água (a alma separada). Aquela água durante este período assume a forma do veículo que preenche, e é temporariamente separada da água que permanece no balde, e da água nos outros copos.
Agora coloque-se em cada um dos cem copos alguma espécie de corante ou alguma espécie de aromatizante. Isto representaria as qualidades desenvolvidas pelas suas experiências na alma separada do leão durante sua vida. Devolva a água do copo para o balde; isso representa a morte do leão. A matéria corante ou aromatizante será disseminada por toda a água no balde, mas dará uma coloração muito mais tênue, um odor muito menos pronunciado quando assim distribuída do que quando estava confinada a um só copo. As qualidades desenvolvidas pela experiência de um leão ligado àquela alma-grupo são destarte compartilhadas por toda a alma-gupo, mas em grau muito menor.
Podemos tirar outro copo de água daquele balde, mas jamais poderemos obter a mesmíssima água depois de ela ter-se misturado com o resto. Cada copo de água retirado daquele balde no futuro conterá alguns traços do corante ou aromatizante posto em cada copo cujo conteúdo tiver retornado ao balde. Assim as qualidades desenvolvidas pela experiência de um único leão se tornarão propriedade comum de todos os leões que futuramente nascerem daquela alma-grupo, ainda que em grau menor do que existiam naquele leão individual que as desenvolveu.
Esta é a explicação para os instintos herdados; este é o porquê de um patinho chocado por uma galinha correr instantaneamente para a água sem precisar que lhe mostrem como nadar; o porquê de um pinto esconder-se à visão da sombra de uma águia mal sai do ovo; o porquê de um pássaro que foi artificialmente criado, e jamais viu um ninho, não obstante saber como fazer um, e o faz de acordo com as tradições de sua espécie.
Mais abaixo na escala da vida animal enormes números de corpos são associados a uma única alma-grupo – incontáveis milhões, por exemplo, no caso de alguns dos insetos menores; mas à medida que subimos no reino animal o número de corpos associados a uma só alma-grupo se torna cada vez menor, e portanto as diferenças entre os indivíduos se tornam maiores.
Assim as almas-grupo gradualmente se fragmentam. Retornando ao símbolo do balde, à medida que copo após copo d´água é retirado dele, colorido com algum tipo de substância corante e a ele devolvido, toda a água do balde gradualmente se torna mais rica em cor. Suponha que por estágios imperceptíveis algum tipo de película vertical se forme através do centro do balde, e gradualmente se solidifique numa divisão, de modo que agora tenhamos uma metade direita e uma esquerda no balde, e cada copo de água que fosse retirado fosse devolvido sempre para a mesma metade de onde foi retirado.
Então logo uma diferença se estabelecerá, e o líquido em uma das metades do balde já não será o mesmo da outra metade. Teríamos então praticamente dois baldes, e quando este estágio é atingido numa alma-grupo ela se divide em duas, como uma célula se separa por fissão. Desta forma, à medida que a experiência se enriquece sempre mais, as almas-grupo se tornam menores mas mais numerosas, até que no ponto mais alto chegamos ao homem com sua alma individual, que já não mais retorna a um grupo mas permanece sempre separado.
Uma das ondas de vida está vivificando todo um reino; mas nem todas as almas-grupo naquela onda de vida passarão por todo aquele reino desde baixo até em cima. Se no reino vegetal uma certa alma-grupo tiver animado árvores florestais, quando passar para o reino animal omitirá todos os estágios inferiores – isto é, jamais habitará insetos ou répteis, mas começará logo no nível dos mamíferos inferiores. Os insetos e répteis serão vivificados por almas-grupo que por algumas razões deixaram o reino vegetal num nível muito mais baixo do que a árvore de floresta. Da mesma maneira a alma-grupo que tiver atingido os níveis mais altos do reino animal, não se individualizará em selvagens primitivos mas em homens de um tipo algo superior, os selvagens primitivos sendo recrutados de almas-grupo que deixaram o reino animal em um nível inferior.
Almas-grupo em qualquer nível ou em todos os níveis se distribuem em sete grandes tipos, de acordo com o Ministro da Deidade através de cuja vida emanaram. Estes tipos são claramente distinguíveis em todos os reinos, e as sucessivas formas assumidas por cada um deles constituem séries interligadas, de modo que animais, vegetais, e as variedades das criaturas elementais podem ser arranjadas todas dentro de sete grandes linhas, e a vida percorrendo uma destas linhas não se desviará para nenhuma das outras.
Nenhuma classificação detalhada já foi feita sobre os animais, plantas ou minerais a partir deste ponto de vista; mas é certo que a vida que é encontrada animando um mineral de um tipo especial jamais vivificará qualquer outro tipo além do seu mesmo, ainda que dentro daquele tipo possa variar. Quando passa para os reinos vegetal e animal habitará vegetais e animais daquele tipo e de nenhum outro, e quando eventualmente atingir a humanidade se individualizará em homens daquele tipo e de nenhum outro.
O método de individualização é a elevação da alma de um animal particular a um nível muito mais alto do que o atingido por sua alma-grupo, de modo que já não pode mais voltar a ela. Isso não pode ser feito com qualquer animal, mas só com aqueles cujo cérebro estiver desenvolvido até certo nível, e o método usualmente adotado para adquirir tal desenvolvimento mental é trazer o animal a um contato estreito com o homem. A individualização, portanto, é possível somente para animais domésticos, e mesmo assim só para certos tipos deles. À testa de cada um dos sete tipos fica uma espécie de animal doméstico – o cachorro em um, o gato em outro, o elefante num terceiro, o macaco num quarto, e assim por diante. Os animais selvagens podem todos ser distribuídos em sete linhas que conduzem aos animais domésticos; por exemplo, a raposa e o lobo obviamente estão na mesma linha do cachorro, enquanto o leão, o tigre e o leopardo igualmente óbvio conduzem ao gato doméstico; de modo que a alma-grupo animando a centena de leões mencionados antes poderia em um estágio posterior de evolução ser dividida em, digamos, cinco almas-grupo, cada qual animando vinte gatos.
A onda de vida fica um longo período em cada reino; estamos agora recém passando da metade de um destes éons, e conseqüentemente as condições não são favoráveis para aquisição daquela individualização que normalmente ocorre só no final de um período. Raros casos de tal aquisição podem ocasionalmente ser observados em alguns animais muito mais avançados que a média. A associação íntima com o homem é necessária para produzir este resultado. Se o animal é bondosamente tratado desenvolve devotada afeição por seu amigo humano, e também desenvolve seus poderes intelectuais ao tentar entender aquele amigo e antecipar seus desejos. Somando-se a isto, as emoções e os pensamentos do homem constantemente agem sobre os do animal, e tendem a elevá-lo a um nível mais alto tanto emocionalmente como intelectualmente. Sob condições favoráveis este desenvolvimento pode ir tão longe a ponto de elevar tanto o animal que o põe fora de contato com o grupo a que pertence, de modo que seu fragmento de uma alma-grupo se torna capaz de responder à Emanação que provém do Primeiro Aspecto da Deidade.
Pois esta Emanação final não é como as outras, uma poderosa torrente afetando milhares ou milhões simultaneamente; vem para cada um individualmente assim que ele estiver pronto para recebê-la. Esta Emanação já terá descido até o mundo intuicional; mas não procede para além disso até que este ímpeto ascendente seja feito pela alma do animal de baixo para cima; mas quando isso acontece esta Terceira Emanação desce para encontrá-lo, e no mundo mental superior é formado um Ego, uma individualidade permanente – permanente, ou seja, até que, muito mais adiante em sua evolução, o homem a transcenda e retorne à divina unidade de onde veio. Para formar este Ego, o fragmento de alma-grupo (que até então desempenhou sua parte sempre como força animante) se torna por sua vez um veículo, e é ele próprio animado por aquela divina Centelha que desceu nele do alto. Pode ser dito que aquela Centelha esteve pairando no mundo monádico sobre a alma-grupo durante toda sua evolução prévia, incapaz de efetuar ujma ligação com ela até que seu correspondente fragmento na alma-grupo tivesse se desenvolvido o suficiente para permiti-lo. É esta separação do restante da alma-grupo e a formação de um Ego separado que marca a distinção entre o animal mais superior e o homem mais inferior.