Por que a Teosofia interessa

Enviado por Estante Virtual em dom, 02/12/2012 - 03:36

P: Entendo até certo ponto as doutrinas teosóficas, mas observo que são muito mais complicadas e metafísicas que as do Espiritismo ou as idéias religiosas comuns. Explique-me como o sistema da Teosofia despertou tanto interesse e tanta animosidade ao mesmo tempo?

T: Creio que existem várias razões para isso. Entre as várias causas que podem ser citadas, em primeiro lugar figura a grande reação que existe, filha das grosseiras teorias materialistas que prevalecem hoje entre os homens da ciência. Em segundo lugar, o descontentamento geral com relação à teologia artificial das diferentes Igrejas cristãs, e o número cada vez maior de seitas que se combatem umas às outras. Terceiro, uma percepção crescente do fato de que as crenças que se contradizem tão evidentemente não podem ser verdadeiras, e que pré tensões não comprovadas não podem ser reais. A essa natural desconfiança nas religiões convencionais, deve-se acrescentar o fracasso completo das mesmas, quanto à conservação da moral e à purificação das massas. Quarto, a convicção em muitos e o saber em alguns, de que deve existir em algum lugar um sistema filosófico e religioso, que seja científico e não somente especulativo. Finalmente, a crença de que talvez tal sistema deva ser buscado em doutrinas que antecederam a toda fé moderna.

 

P: Mas como esse sistema veio revelar-se precisamente agora?

T: Porque precisamente agora encontrou ocasião propícia e a época preparada para ele; o que é provado pelo decidido esforço e o empenho de tantos ardentes escritores e sábios, em alcançar a verdade custe o que custar, e onde estiver oculta. Levando isto em consideração, os depositários dela permitiram que pelo menos uma parte dessa verdade fosse divulgada. Se a formação da Sociedade Teosófica tivesse sido adiada para daqui a alguns anos, metade das nações civilizadas seria declaradamente materialista, e a outra metade, antropomorfista e fenomenalista.

 

P: A Teosofia deve ser considerada de algum modo como uma revelação?

T: De maneira nenhuma — nem mesmo no sentido de uma revelação de alguns seres superiores, sobrenaturais, ou pelo menos sobre-humanos; tem somente o sentido de um "descobrimento'' de verdades muito antigas, por inteligências até agora ignorantes delas; ignorantes até mesmo da existência e conservação dessa ciência arcaica[1].

 

P: Já falamos de "animosidade": por que a Teosofia tem encontrado tanta oposição e, em geral, pouca aceitação, se a verdade é tal como ela a apresenta?

T: Por muitas e diversas razões, uma das quais é a aversão que os homens sentem pelas "inovações". O egoísmo é essencialmente conservador, e odeia que o molestem. Prefere a mentira fácil e cômoda à maior verdade, se esta exigir um sacrifício pessoal, por insignificante que seja. O poder da inércia mental é enorme, quando se trata de algo que não signifique um benefício ou recompensa imediatos. Nossa época é essencialmente prática e antiespiritual. Além disso deve-se levar em conta a índole especial dos ensinamentos teosóficos; a natureza eminentemente abstrata de suas doutrinas, algumas delas contradizendo abertamente muitas extravagâncias humanas consideradas importantes pelos sectários, e que têm penetrado no cerne das crenças populares. Se a tudo isto se somar os esforços pessoais e a grande pureza de vida exigidos daqueles que aspiram figurar entre os discípulos do círculo interno, e a classe muito limitada de pessoas que são atraídas por um código ou regulamento inteiramente desinteressado e altruísta, compreende-se facilmente por que a Teosofia está destinada a um trabalho tão lento e rudimentar. Tem sido essencialmente a filosofia dos que sofrem e perderam toda a esperança de encontrar alívio e socorro nas lutas da vida, por qualquer outro meio. E a história de qualquer sistema de crenças ou de moral recentemente introduzido em país estrangeiro demonstra que seu início é sempre combatido por todos os meios e obstáculos, sugeridos tanto pelo obscurantismo como pelo egoísmo. "Na verdade, a coroa do inovador é uma coroa de espinhos." Não se podem demolir antigos edifícios sem algum perigo.

 

P:  Tudo isto se refere mais à filosofia e ética teosóficas. E quanto a uma idéia mais geral, sobre seu objetivo e estatutos?

T: Nunca se guardou segredo sobre isso — pode perguntar o que quiser, que responderei.

 

P: Ouvi dizer que há ligações por compromisso ou juramento.

T:  Somente na seção "esotérica" ou secreta.

 

P: Também ouvi dizer que os membros que se desligaram não são mais considerados como ligados pelo compromisso ou juramento. Podem fazer isto?

T: Esta pergunta demonstra que seu conceito de honra é imperfeito. Como diz muito bem o Path (Senda), nosso órgão teosófico em Nova York, com relação a um caso análogo: "Suponha-se que se forme um conselho de guerra para um soldado que faltou ao juramento e à disciplina, e que é expulso do serviço. Revoltado ante o castigo merecido, cujas conseqüências não ignorava, por haver sido claramente advertido sobre elas, o soldado transfere-se para o inimigo onde começa a dar informações como espião ou traidor, para vingar-se de seu chefe, pretendendo ficar exonerado do juramento de lealdade a sua causa, em virtude do castigo que lhe deram". Você acredita que ele tem razão, que está justificado? Não acha que ele deve ser considerado um homem sem honra, um covarde?

 

P: Sim, acredito; mas há outros que pensam diferente.

T: Pior para eles. Mas voltaremos a falar sobre esse assunto.



[1] Está na moda, de uns tempos para cá, ridicularizar a noção de que houve alguma coisa além de impostura sacerdotal nos mistérios de povos grandes e civilizados, tais como os egípcios, os gregos ou os romanos. Pretende-se mesmo que os rosa-cruzes tenham sido uma espécie de lunáticos e impostores. Numerosos livros foram escritos a respeito deles; e até principiantes, que mal tinham acabado de conhecer esse nome, apresentaram-se como grandes críticos e gnósticos, sobre a alquimia dos filósofos do fogo e do misticismo em geral. Sem dúvida sabe-se que uma longa série de hierofantes do Egito, da índia, da Caldéia e da Arábia, assim como os maiores filósofos e sábios da Grécia e do Ocidente, incluíram todo o conhecimento sob a designação de Sabedoria e ciência divina, porque consideravam a base e a origem de toda arte e ciência, como essencialmente divina. Platão tinha os mistérios por sagrados; e Clemente de Alexandria, que havia sido iniciado nos mistérios eleusinianos, declarou "que as doutrinas que neles se ensinavam continham a meta de todo o saber humano". Platão e Clemente eram dois impostores, dois loucos, ou ambas as coisas de uma vez?

 

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