P: O que foi dito, segundo se entende, refere-se aos membros do círculo externo; mas como é quanto aos que se dedicam ao estudo esotérico da Teosofia? São estes os verdadeiros teósofos?
T: Não necessariamente, a menos que tenham dado provas de que possam ser assim considerados. Entraram em um grupo interior e se comprometeram a observar, tão estritamente quanto lhes seja possível, as regras do círculo oculto. Esta é uma empresa difícil, uma vez que a primeira e principal das regras é a renúncia completa da própria personalidade, isto é, um membro que se comprometeu, tem que se converter em um perfeito altruísta, não pensar jamais em si mesmo, e esquecer sua própria vaidade e orgulho em função do bem de seus semelhantes, além do de seus irmãos do círculo esotérico. Se pretende tirar proveito das instruções esotéricas, sua vida será de abstinência em todas as coisas, de abnegação e estrita moralidade, cumprindo com seu dever com relação a todos os homens. Os poucos teósofos verdadeiros com que conta a Sociedade Teosófica encontram-se entre esses membros. Isto não quer dizer que fora da S.T. e do grupo interior não existam teósofos; há em número muito maior do que geralmente se acredita, e, seguramente, muito mais que entre os membros do círculo externo da Sociedade Teosófica.
P: Neste caso, a qual a vantagem de pertencer à chamada Sociedade Teosófica? Onde está o estímulo, qual é o móvel para isso?
T: Nenhum, exceto a vantagem de obter instruções esotéricas, as doutrinas puras e verdadeiras da "religião da Sabedoria"; e, se cumpre realmente o programa, gozar do grande apoio do auxílio mútuo, e da simpatia.
A união é a força; a harmonia e os esforços simultâneos bem dirigidos fazem milagres. Este tem sido o segredo de todas as associações e comunidades, desde que a humanidade existe.
P: Mas por que não pode um homem de inteligência bem equilibrada e de propósito sincero, de indomável energia e perseverança, chegar a ser ocultista e até adepto, trabalhando sozinho?
T: Pode conseguir, mas existem dez mil probabilidades contra uma, de que falhará em sua empresa. Uma razão existe entre muitas outras, é a de que não se encontram em nossos dias livros sobre Ocultismo ou Teurgia, que revelem os segredos da Alquimia ou da Teosofia da Idade Média, em linguagem vulgar. Todos são simbólicos ou parabólicos; e como foi perdida a chave no Ocidente, há muitos séculos, como pode alguém conhecer o significado exato do que lê ou do que estuda? Este é o maior perigo, perigo que conduz à magia negra inconsciente ou ao mediunismo irremediável. Quem não tiver um iniciado por mestre, melhor que abandone este perigoso estudo.
Olhe em volta e observe. Enquanto dois terços da sociedade civilizada ridiculariza a mera possibilidade de que possa haver algo na Teosofia, Ocultismo, Espiritismo ou na Cabala, o outro terço compõe-se de elementos mais heterogêneos e opostos possíveis. Alguns crêem no místico e até no sobrenatural (!), mas cada um crê a sua maneira. Outros se atiram sem nenhum auxílio ao estudo da Cabala, do Psiquismo e Mesmerismo, Espiritismo ou qualquer outra forma de misticismo. Resultado: não existem dois homens que pensem da mesma forma nem que se ponham de acordo com relação a qualquer dos princípios ocultos fundamentais, ainda que muitos reivindiquem e pretendam possuir a última palavra do saber, e queiram fazer crer aos profanos nessas matérias, que são adeptos perfeitos. Não só há carência de um conhecimento exato e científico do Ocultismo acessível ao Ocidente, como da verdadeira astrologia (o único ramo do Ocultismo que possui em seus ensinamentos exotéricos um sistema de leis definidas), senão também que ninguém sozinho pode ter a menor idéia do significado do verdadeiro Ocultismo. Alguns se limitam à antiga Sabedoria, à Cabala e ao Zohar judeu, que cada um interpreta a seu modo, segundo a letra morta dos métodos rabínicos. Outros consideram a Swedenborg ou a Boehme como a última expressão da mais elevada sabedoria, enquanto outros, finalmente, vêem no mesmerismo o grande segredo da antiga magia. Todos estes sem exceção, quando querem levar suas teorias à prática, caem rapidamente -- como resultado de sua ignorância -- na magia negra. Felizes aqueles que se livram desse perigo, carecendo como carecem de experiência e critério que possam guiá-los para distinguir o real do falso.
P: Isto dá a entender que o grupo esotérico da S.T. recebe seus ensinamentos de verdadeiros iniciados e mestres em sabedoria esotérica?
T: Não diretamente. A presença pessoal desses mestres não é necessária. Basta que dêem suas instruções a alguns dos que estudaram sob sua direção durante anos e que consagraram sua vida inteira a seu serviço.
Estes podem, por sua vez, transmitir a ciência recebida aos que não tiveram esta oportunidade. É preferível uma parte da ciência verdadeira a uma massa de conhecimentos não digeridos e mal interpretados. Uma onça de ouro vale mais que uma tonelada de pó.
P: Mas que meio temos para averiguar se a onça é de ouro verdadeiro e não uma falsificação?
T: Conhece-se uma árvore por seus frutos, um sistema pelos seus resultados. Enquanto nossos adversários não nos provem que algum estudante solitário de Ocultismo, através das idades, converteu-se em um santo adepto como Amônio Sakas, em um Plotino, em um teurgista como Jâmblico, ou fez coisas como as que se atribuem a São Germano, sem mestre algum para dirigi-lo, e tudo isto sem ser um médium, um ilusionista ou um charlatão, então confessaremos nosso erro. Mas até prova em contrário, os teósofos preferem ater-se à lei natural, provada e conhecida, da ciência sagrada tradicional. Há místicos que fizeram grandes descobrimentos em química e ciências físicas, quase penetrando nos domínios da Alquimia e do Ocultismo; outros, que somente à luz de seu gênio redescobriram parte ou totalmente os alfabetos perdidos da "Língua do Mistério", e são, portanto, capazes de ler corretamente os escritos hebreus; e ainda outros que, sendo clarividentes, puderam entrever passageiros resplendores dos segredos da natureza; mas todos esses são especialistas. Um é inventor teórico; o outro um hebraísta, isto é, cabalista sectário; o terceiro, um Swedenborg moderno, que nega tudo aquilo que está fora de sua ciência ou religião particular.
Nenhum deles pode se vangloriar de haver produzido um benefício universal ou nacional, nem mesmo um benefício para si mesmo. Excetuando alguns curandeiros que seriam tachados de charlatães pelo Real Colégio de Médicos e Cirurgiões, nenhum ajudou a Humanidade com sua ciência, nem sequer algumas das pessoas que os rodeavam. Onde estão os caldeus da antigüidade, os homens que realizavam curas maravilhosas, "não por meio de encantos ou feitiços, mas pela simplicidade"? Onde um Apolônio de Tyana que curava os enfermos e despertava os mortos em qualquer circunstância? Conhecemos na Europa alguns especialistas capazes do primeiro, mas ninguém capaz do segundo, exceto na Ásia, onde o segredo da ioga, "viver na morte", ainda se conserva.
P: É objetivo da Teosofia criar semelhantes adeptos curadores?
T: São vários os objetivos da Teosofia, mas os mais importantes são aqueles que podem contribuir para o alívio do sofrimento humano de qualquer forma, tanto moral como fisicamente e consideramos a primeira muito mais importante que a segunda. A Teosofia tem que apontar a ética e purificar a alma, se quer aliviar o corpo físico, cujas doenças, salvo em casos de acidentes, são hereditários. O Ocultismo não é estudado com fins egoístas para a satisfação de ambição pessoal, o orgulho ou a vaidade, e dessa forma nem chegará jamais a alcançar o fim proposto, de aliviar a humanidade que sofre. Nem também estudando apenas um ramo da filosofia esotérica poderá alguém chegar a ser ocultista, mas somente estudando-os todos, ainda que não os domine perfeitamente.
P: Portanto, não se ajuda a alcançar este importantíssimo objetivo, senão aos que estudam as ciências esotéricas?
T: De modo nenhum. Todo membro do círculo externo tem direito à instrução geral, se a deseja; mas poucos querem converter-se no que se chama de "membros ativos", e a maior parte prefere ser os "Zangões da Teosofia". Saiba que na Sociedade Teosófica estimulam-se as investigações privadas, contanto que não ultrapassem os limites que separam o exotérico do esotérico, a magia cega do inconsciente.