Todo estudante de Ocultismo sabe que o homem possui diversos corpos ou veículos, que lhe possibilitam manifestar-se nos diferentes planos da natureza: planos físico, astral, mental e outros.
O ocultista verifica que a matéria física apresenta sete graus ou ordens de densidade, denominados:
Todos estes graus de densidade estão representados na composição do veículo físico, que, assim, comporta duas divisões bem distintas: o corpo denso, composto de sólidos, líquidos e gases, e o corpo etérico ou duplo etérico, como é também chamado, constituido pelas quatro ordens mais ténues de matéria física.
Pretendemos estudar nos seguintes capítulos este duplo etérico, sua natureza, aparência e funções, as suas relações com os outros veículos e com o Prâna ou Vitalidade; o seu nascimento, desenvolvimento e declínio; o papel que desempenha em certos métodos de cura, no magnetismo, na mediunidade e nas materializações; as faculdades que pode adquirir; enfim, os diversos e numerosos fenômenos etéricos que lhe dizem respeito.
Em resumo, veremos que, embora necessário à vida do corpo físico, o duplo etérico não é, a bem dizer, um veículo de consciência independente. Veremos também que ele recebe e distribui a força vital proveniente do Sol, ligando-se intimamente à saúde física; que possui certos chakras ou centros de força que lhe são próprios, cada qual desempenhando uma determinada função; que a lembrança da existência vivida em sonho depende principalmente da matéria etérica; que exerce importante influência na constituição do veículo astral, destinado ao Ego em via de reencarnação; que, semelhante ao corpo físico, morre e se decompõe, permitindo assim à "alma" passar a outra etapa de sua viagem cíclica; que se acha particularmente associado aos tratamentos pelo vitalismo ou magnetismo, e pelo mesmerismo, determinando a cura, a anestesia ou o transe; que é fator principal dos fenômenos das sessões espíritas, como o mover de objetos, produção de golpes e outros sons, e as materializações de todo gênero; que o desenvolvimento das faculdades etéricas proporciona poderes novos e revela muitos fenômenos etéricos, dos quais poucas pessoas têm experiência; que por meio da matéria do corpo etérico. é possível magnetizar objetos, como se faz com os seres vivos; enfim, que o corpo etérico fornece os elementos da substância conhecida por ectoplasma.
Têm-se dado diversos nomes ao duplo etérico. Nas primeiras obras teosóficas é, muitas vezes, chamado corpo astral, o homem astral ou Linga Sharira.
Nos escritos mais recentes não se dão mais estas denominações ao duplo etérico, pois pertencem realmente ao corpo formado de matéria astral, ao corpo de Kama dos hindus. O estudante que ler a Doutrina Secreta e outros livros antigos deve, pois, prevenir-se para não confundir os dois corpos inteiramente diferentes, chamados hoje duplo etérico e corpo astral.
O termo hindu que bem traduz "duplo etérico" é Prânamâyakosha, ou veículo do Prâna; em alemão é Doppelganger. Depois da morte, separado do corpo físico denso, é a "alma do outro mundo", o "fantasma", a "aparição" ou "espectro dos cemitérios". Em Raja Yoga, o duplo etérico e o corpo denso unidos são chamados o Sthûlopâdhi, isto é, o Upâdhi inferior de Atma.
Toda parcela sólida, líquida ou gasosa do corpo físico está cercada por um invólucro etérico; o duplo etérico, como indica o seu nome, é, pois, a reprodução exata da forma densa. Ultrapassa a epiderme de mais ou menos um quarto de polegada. Entretanto, a aura etérica ou Aura da Saúde, como também é chamada, ultrapassa, normalmente, a epiderme, de várias polegadas.
Fato importante a assinalar: o corpo denso e o duplo etérico variam concomitantemente em qualidade; por conseguinte, quem se aplique a purificar o corpo denso, aperfeiçoará, ao mesmo tempo e automaticamente, a sua contraparte etérica.
Na composição do duplo etérico entram todas as categorias de matéria etérica, porém em proporções que variam grandemente, dependendo de vários fatôres, tais como a raça, a sub-raça e o tipo da pessoa a também o Karma individual.
Eis as únicas indicações obtidas até aqui pelo compilador, sobre as propriedades e funções particulares dos quatro graus de matéria etérica:
- Etérica: utilizada pela corrente elétrica comum e pelo som.
- Super-etérica: utilizada pela luz.
- Subatômica: utilizada pelas "formas mais subtis de eletricidade".
- Atómica: utilizada pelo pensamento em sua passagem de um cérebro a outro.
O quadro seguinte, de autoria de F. T. Peirce, publicado em The Theosophist de maio de 1922, é provavelmente exato:
Química Oculta | Física | Exemplo |
---|---|---|
E1 Atômico | Eletrônico | Electron |
E2 Subatômico | Núcleo positivo | Partícula alfa (mésons e nêutrons) |
E3 Super-etérico | Núcleo neutralizado | Nêutron |
E4 Etérico | Atômico | N. nascente H. atômico |
Gasoso | Gás molecular, etc. | H2, N2 ou compostos gasosos |
É muito provável, porém, que o átomo físico deva ser deslocado para o subplano gasoso, passando os nucleons para o etérico e os mesons para super-etérico. Neste caso, podia haver duas hipóteses quanto aos subplanos atómico e subatômico: o eléctron ou seria mantido no atómico, cabendo o subplano imediato a uma partícula ainda não estudada, intermediária entre o meson e o eléctron, e de massa vinte vezes maior do que a da última dessas partículas, ou passaria para o subatômico, correspondente ao atómico, foton e neutrino, cuja massa se supõe que seja 0,20 vezes ou vinte vezes menor do que a do eléctron. A última hipótese parece ser a mais viável.
O duplo etérico é de cor roxa acinzentada ou azul acinzentada pálida, fracamente luminoso e de contextura grosseira ou delicada, conforme o seja a do corpo físico denso.
Tem duas funções principais: a primeira é a de absorver o Prâna ou Vitalidade e enviá-lo a todas as regiões do corpo físico; a segunda é a de servir de intermediário ou ponte entre o corpo físico e o corpo astral, transmitindo a este a consciência dos contatos sensoriais físicos e, outrossim, permitindo a descida ao cérebro físico e ao sistema nervoso da consciência dos níveis astrais e dos superiores ao astral.
Além disto, no duplo etérico se desenvolvem certos centros, por meio dos quais o homem pode tomar conhecimento do mundo etérico e dos inúmeros fenômenos etéricos.
É importante verificar que, embora o duplo etérico seja simplesmente uma parte do corpo físico, não pode, normalmente, servir de veículo independente de consciência, no qual o homem viva ou atue. Possui apenas uma consciência difusa, disseminada em todas as suas partes. É desprovido de inteligência, e quando se separa da contra-parte densa, não pode, por isso, servir de intermediário ao mental.
Como é veículo do Prâna ou Vitalidade e não da consciência mental, não pode, sem prejuízo da saúde, separar-se das partículas densas, às quais transmite as correntes vitais. Aliás, nas pessoas normais e de boa saúde, é difícil a separação do duplo etérico e do corpo denso, e aquele é incapaz de se afastar do mais denso, ao qual pertence.
Nas pessoas a quem chamamos médiuns de efeitos físicos ou de materializações, o duplo se destaca muito facilmente e a matéria etérica constitui então a base de numerosos fenômenos de materialização.
O duplo etérico pode ser separado do corpo físico denso por um acidente, pela morte, pela anestesia e pelo mesmerismo. No caso de anestésicos, a insensibilidade é consequência forçada da expulsão do duplo etérico do corpo físico, pois o duplo é o traço de união entre o cérebro e a consciência superior.
Demais, a matéria etérica assim expulsa leva consigo o corpo astral, amortecendo igualmente a consciência neste veículo; assim, quando o anestésico cessa de atuar, não subsiste, em geral, na consciência cerebral nenhuma recordação do tempo que passou no veículo astral.
Tanto um precário estado de saúde como uma excitação nervosa podem também determinar a separação quase completa do duplo etérico, ficando a contraparte densa fracamente consciente (transe), segundo a quantidade maior ou menor de matéria etérica expulsa.
A separação do duplo etérico e do corpo denso produz geralmente, neste último, grande diminuição de vitalidade. O duplo ganha a vitalidade perdida pelo corpo denso.
Em Posthumous Humanity ("Humanidade Póstuma"), diz o Coronel Olcott:
"Quando um indivíduo treinado projeta o seu duplo, o corpo parece inerte; o mental é "absorvido"; os olhos ficam sem expressão; o coração e os pulmões funcionam fracamente e, muitas vezes, produz-se grande queda na temperatura. Num caso destes, é extremamente perigoso fazer qualquer ruido súbito ou entrar bruscamente no quarto, pois o duplo, pela reação instantânea, volta ao corpo, o coração palpita convulsivamente, e pode sobrevir a morte".
É tão estreita a ligação entre os corpos denso e etérico, que uma lesão neste se traduz por uma lesão naquele, fenómeno este curioso, conhecido sob o nome de repercussão. Sabe-se que a repercussão é igualmente possível com o corpo astral; em certas condições, a lesão deste último se reproduz no corpo físico denso.
No entanto, parece provável que a repercussão ocorre somente no caso de materialização perfeita, em que a forma é por igual visível e tangível, mas não quando é tangível embora não visível, ou visível embora não tangível.
Convém também lembrar que só se verifica o caso acima quando se utiliza da matéria do duplo etérico para a forma materializada. Quando tal materialização é formada de matéria extraída do éter do ambiente circundante, uma lesão na forma em nada afetará o corpo físico, tal qual em nada atingirá um homem um dano feito à sua estátua de mármore.
Convém lembrar que a matéria etérica, embora invisível à vista ordinária, é, entretanto, puramente física; daí ser afetada pelo frio e pelo calor, bem como por ácidos fortes.
Pessoas de membros amputados queixam-se às vezes, de dores nas extremidades do membro cortado. isto é, no lugar que este ocupava.
A razão disto é que a contraparte etérica do membro amputado não foi retirada com a parte física densa. O clarividente observa que a parte etérica continua visível e sempre no mesmo lugar; por isto, estímulos apropriados despertam, neste membro etérico, sensações que são transmitidas à consciência.
Após haver estudado a natureza e os modos de atividade do Prâna (Vitalidade), ocupar-nos-emos mais cómoda e satisfatoriamente de outros fenômenos relacionados com o duplo etérico, tais como sua saída do corpo denso, as suas emanações e outros fatos.