Os renascimentos periódicos

Submitted by Estante Virtual on Sun, 12/02/2012 - 20:44

P: Portanto, acredita que todos já vivemos antes na terra, em muitas encarnações passadas, e que continuaremos vivendo desse modo?

T: Acredito. O ciclo da vida, ou melhor, o ciclo da vida consciente, começa com a separação em sexos do homem animal mortal, e terminará com o fim da última geração de homens, na sétima ronda e sétima raça da humanidade. Se considerarmos que somente nos encontramos na quarta ronda e quinta raça, é mais fácil imaginar sua duração do que expressá-la.

 

P: E continuamos nos encarnando em novas personalidades durante todo o tempo?

T: Seguramente; porque essa vida cíclica ou período de encarnação, pode muito bem ser comparado com a vida humana. Como cada vida é composta de dias de atividade, separados por noites de sono ou inação, assim, em um ciclo de encarnação, cada vida ativa é seguida de um descanso devakhânico.

 

P: E essa sucessão de nascimentos é a que geralmente leva o nome de reencarnação?

T: Precisamente.   Somente por meio desses nascimentos é que pode ser atingido o progresso perpétuo dos inumeráveis milhões de Egos até a perfeição, e um descanso final por tanto tempo quanto haja durado o período de atividade.

 

P: E o que é que regula a duração, ou as qualidades especiais dessas encarnações?

T: Karma, a Lei universal de justiça retributiva.

 

P: Essa Lei é inteligente?

T: Para o materialista, que considera a lei de periodicidade que regula a ordem das coisas, e todas as demais leis da natureza como forças cegas e leis mecânicas, não há dúvida de que Karma será uma lei ou causalidade, e nada mais. Para nós, não há nenhum adjetivo ou qualificativo capaz de descrever o que é impessoal, o que não é uma entidade, mas sim uma lei operativa universal. Se você me perguntar sobre a inteligência causal que existe nisso, responderei que não sei. Mas se deseja que defina seus efeitos e que, segundo nossas crenças, diga quais são, posso dizer que a experiência de milhares de anos nos tem demonstrado que são a eqüidade, a sabedoria e a inteligência absolutas e infalíveis. Porque, em seus efeitos, Karma é um reparador seguro da injustiça humana e de todas as demais faltas da natureza, e corrige os erros com estrita justiça; é uma lei retributiva que recompensa e castiga com igual imparcialidade. Restritamente falando, "não respeita a pessoa alguma", e, por outro lado, não se deixa aplacar nem modificar por meio da oração. Esta crença é comum aos hindus e aos buddhistas, pois ambos crêem em Karma.

 

P: Os dogmas cristãos contradizem a ambos, e duvido que algum cristão aceite tal doutrina.

T: Não; e faz muitos anos que Inman nos explicou o porquê. Como disse muito bem: "Os cristãos admitirão qualquer contra-senso, sempre que a Igreja o declare questão de fé..., enquanto que os buddhistas sustentam que nada que esteja em contradição com a razão, pode ser uma verdadeira doutrina de Buddha". Os buddhistas não acreditam no perdão de seus pecados, exceto depois de um castigo justo e adequado para cada má ação ou pensamento, em uma encarnação futura, e uma compensação proporcional às partes prejudicadas.

 

P: Onde consta isto?

T: Na maioria de seus livros sagrados. Na Roda da Lei pode ser encontrada a seguinte sentença teosófica: "Crêem os buddhistas que cada ato, palavra ou pensamento produz sua conseqüência, que mais cedo ou mais tarde há de surgir, seja nesta vida, seja em um estado futuro. As más ações geram más conseqüências e as boas darão bons resultados: a prosperidade neste mundo, ou o nascimento no céu (Devakhan) ... no estado futuro".

 

P: Os cristãos não acreditam no mesmo?

T: Não; crêem no perdão e na remissão de todos os pecados. Prometeram-lhes que só em acreditar no sangue de Cristo (vítima inocente!), no sangue que ele ofereceu pela expiação dos pecados da humanidade inteira, ficarão redimidos todos os pecados mortais. Nós não acreditamos nem no perdão por meio de um vigário, nem na possibilidade da remissão do pecado mais insignificante por nenhum Deus, ainda que fosse "pessoal Absoluto" ou "Infinito", se pudesse existir coisa semelhante. Acreditamos na justiça imparcial e rigorosa. Nossa idéia da Deidade Universal desconhecida, representada por Karma, é a de um poder que não pode errar e que não pode, portanto, sentir cólera nem compaixão, porque é a eqüidade absoluta, que deixa cada causa — pequena ou grande — produzir seus inevitáveis efeitos. A sentença de Jesus: "Com a mesma medida com que medirdes sereis medidos" (Mateus, VII, 2), não faz alusão nem pela expressão da frase, nem implicitamente, a qualquer esperança de salvação ou perdão, por meio de terceiros. Reconhecendo nossa filosofia a justiça dessa sentença, nunca achamos que recomendamos o bastante a compaixão, a caridade e o perdão das ofensas. "Não resista ao mal", e "Devolve o bem pelo mal", são preceitos buddhistas pregados em vista do implacável da lei kármica. O homem fazer justiça por suas próprias mãos é sempre um ato de orgulho sacrílego. A lei humana pode usar de medidas restritivas, não de castigos; pois aquele que acreditando em Karma vinga-se e nega-se a perdoar as ofensas, a devolver bem por mal, é criminoso, e só a si mesmo prejudica. Karma castigará seguramente, àquele que ao invés de confiar à grande Lei a reparação, intervém no castigo por sua própria conta, pois com isso cria uma causa de recompensa para seu inimigo e um castigo para si mesmo. O infalível "regulador" assinala em cada encarnação a qualidade da que lhe sucede; e a soma de mérito ou de demérito das anteriores encarnações determina o renascimento seguinte.

 

P: Podemos, portanto, inferir o estado passado de um homem pelo seu presente?

T: Somente até o ponto de acreditar que sua vida presente é o que havia de ser em justiça, para redimir os pecados da vida anterior. Por suposição, (excetuando os videntes e os grandes adeptos), nós, como mortais comuns, não podemos conhecer o que foram esses pecados; assim como, pelos poucos dados de que dispomos, nos é impossível determinar o que deve ter sido a juventude de um ancião, pelas mesmas razões, tampouco podemos tirar conclusões decisivas somente pelo que vemos na vida de um homem, do que possa ter sido sua vida passada.

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